Cinema: Uma heroína nos bordéis de Mumbai

Em duas horas e meia de louvor à sororidade e à tolerância, "A Voz do Empoderamento" justifica a admiração generalizada pelo cinema popular de Mumbai

(Foto: Divulgação)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Sanjay Leela Bhansali, o prodigioso diretor de Devdas e outros megamusicais de Bollywood, está com seu último rebento brilhando há um ano na Netflix. Desde os primeiros momentos, A Voz do Empoderamento (Gangubai Kathiawadi) impressiona pelos valores de produção, a fantástica direção de arte, a beleza da fotografia e – o melhor de tudo – o senso musical com que o cineasta anima seus filmes.
Nesse caso, a música propriamente dita nem chega a ser tão importante. São poucas canções em coreografias tipicamente frenéticas e um tanto deslocadas do fluxo narrativo, além de cantadas quase sempre em off. Ainda assim, o ritmo dos diálogos, do gestual e das ações deixa entrever uma musicalidade que a tudo ordena.

O melodrama de uma jovem fugida de casa e trazida do interior para Mumbai por um falso noivo que a vende a um bordel vai aos poucos desembocar numa história do submundo da máfia e da prostituição. Tudo, porém, atravessado por uma ética subversiva e feminista. 

continua após o anúncio

Ganga (Alia Bhatt, de RRR) é a heroína que sai da mais profunda humilhação e maus tratos físicos para se tornar uma dona de bordel e líder política empenhada na defesa das prostitutas de Kamathipura, o bairro da luz vermelha de Mumbai. A personagem é real e teve o ápice de sua luta nos anos 1960, quando era conhecida como Gangubai Kathiawadi.

O filme a retrata como uma mulher atrevida que não hesita em se aliar ao comércio ilegal de uma máfia muçulmana e ao sistema de subornos à polícia para empoderar a si e a suas companheiras. Ao mesmo tempo em que se torna uma libertadora de meninas forçadas a se prostituir, ela também advoga em favor das que dependem de vender o corpo para sobreviver. A disputa pela "presidência" do bairro com uma adversária transgênero, assim como o desafio aos cristãos que pedem o fechamento do seu prostíbulo, fazem ferver o caldeirão da polêmica. 

continua após o anúncio

É claro que os cânones de Bollywood levam vantagem em relação à realidade histórica. A ascensão de Gangubai parece produzida por passes de mágica e por um poder de persuasão miraculoso. Até o cinema é usado como arma na sua busca de poder e proteção aos bordéis. Sua consagração vem a reboque de um discurso inflamado perto do final. 

Não há espaço para muitas sutilezas na narrativa de Bhansali, mas sua convicção cênica é tão contagiante que somos levados a relevar o implausível em nome do prazer do espetáculo. Alia Bhatt esbanja vitalidade no papel dessa heroína que bebe um bocado e sacrifica seu amor pela causa. As cenas de sedução silenciosa entre ela e um jovem comerciante são absolutamente encantadoras. O erotismo cifrado é a maneira como o cinema hindi contorna os tabus da exposição sexual. 

continua após o anúncio

Em duas horas e meia de louvor à sororidade e à tolerância, com um apetite cinematográfico fora do comum, esse filme justifica a admiração generalizada pelo cinema popular de Mumbai.

>> A Voz do Empoderamento está na Netflix.

continua após o anúncio

O trailer: 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247