Cinema: Michael J. Fox não parou
Para além da simpatia e resiliência do personagem, "Still – Ainda Sou Michael J. Fox" é um prodígio de construção fílmica
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O título brasileiro optou por traduzir "Still" como "Ainda", mas o original cria um duplo sentido com "Parado". Michael J. Fox se apresenta no livro e no documentário de Davis Guggenheim como alguém que desde pequeno não parou quieto. Hiperativo, ágil nos movimentos e no humor verbal, o astro de De Volta para o Futuro se viu presa do Mal de Parkinson quando ainda não tinha 30 anos. Para alguém como ele, perder o controle do corpo, das expressões e da fala foi como paralisar sua vida.
O que Still: Ainda Sou Michael J. Fox (Still: A Michael J. Fox Movie) nos mostra é que, na verdade, não paralisou. Não que seja mais um filme sobre superação, nem sobre transformar limão em limonada. As limitações e o sofrimento do ator não são escamoteados, mas o que prevalece é seu astral astronômico. Desde que se percebeu doente, ele soube manter suas dificuldades como ingredientes de uma sitcom particular, daquelas que iniciaram sua carreira na TV.
A partir de uma entrevista relativamente parada com o diretor, o filme reconta sua infância, a descoberta do talento, o começo da carreira e o sucesso estrondoso com a comédia sci-fi de Robert Zemmeckis. Seguiu-se um punhado de filmes bem menos expressivos e anos de dissimulação até que ele não conseguisse mais esconder os tremores e o déficit no equilíbrio corporal. Como continuar a ser engraçado depois que o público tomou conhecimento de sua enfermidade? Veio, então, o alcoolismo e depois a crise de abstinência.
Diante da câmera de Guggenheim, Michael compensa a degradação física com a inteligência aguda. Relembra momentos duros e outros divertidos de sua vida. Como quando Robert Redford ocupava-se com um fio dental durante seu teste para Gente como a Gente. Ou o casamento de longa data com a atriz Tracy Pollan, com quem teve três filhas e um filho. Ou ainda as muitas quedas que quebraram diversas partes do seu corpo. O que mais lhe interessa, diz, é não perder a capacidade de chegar aonde sua mente o leva.
Para além da simpatia e resiliência do personagem, Still é um prodígio de construção fílmica. Guggenheim forja ótimos paralelos entre fatos da vida de Michael e cenas de seus filmes, além de vinhetas encenadas por atores, de modo a criar uma fluência narrativa admirável e que combina com o jeito lépido do ator. Michael constituiu uma fundação para pesquisas sobre Parkinson, mas sua maior contribuição talvez esteja mesmo na forma como encara a doença em si mesmo. Pode-se argumentar que ele é um privilegiado, ou que está posando para o filme. Mas quem dera toda adversidade encontrasse pela frente tamanho fairplay.
>> Still: Ainda Sou Michael J. Fox está na plataforma AppleTV+
O trailer:
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