Chocolate Yanomami, uma alternativa sustentável à invasão garimpeira

O lançamento do chocolate Yanomami, em parceria com os índios Yanomami e Ye'kwana, em contraponto à invasão de cerca de milhares de garimpeiros na região

(Foto: Mateus Mendes)


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Já falei do De Mendes aqui neste espaço, em Tem chocolate na Amazônia. Além do pioneirismo de ter lançado o chocolate gourmet amazônico, César de Mendes, mais do que um produtor de chocolate, é um ativista, defensor da floresta e da cultura da região. Vive inventando história, não para.

E a sua última história é, simplesmente, genial: o lançamento do chocolate Yanomami, em parceria com os índios Yanomami e Ye'kwana, para mostrar que há alternativas econômicas regionais sustentáveis, em contraponto à invasão de cerca de milhares de garimpeiros na região.

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O primeiro lote de Chocolate Yanomami foi apresentado no dia 14 de dezembro no Mercado de Pinheiros, em São Paulo. Foi produzido com cacau nativo beneficiado na comunidade Waikás, em Roraima, e transformado em mil barras de 50g na pequena fábrica de De Mendes, no Pará. Sua composição conta com 69% de cacau, 2% de manteiga de cacau e 19% de rapadura orgânica.

"As entidades da floresta desceram aqui na fábrica e trouxeram umperfume que não tínhamos experimentado antes. É fora da curva", brinca Mendes. "Ele é um chocolate com presença na boca. Tem persistência prolongada e agradável, com doce equilibrado."

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O “outro ouro”

A ideia de produzir chocolate partiu de lideranças Ye'kwana, quebuscavam gerar renda adicional para as comunidades e bater de frente com a lógica destrutiva do garimpo. Para os Ye'kwana a floresta oferece outro “ouro”: o cacau nativo. O fruto que dá origem ao chocolate é endêmico na área.

Em julho de 2018, De Mendes ministrou na comunidade Waikásuma oficina mostrando aos indígenas de diferentes comunidades as técnicas de colheita e processamento dos frutos do cacau para produção da matéria-prima para chocolates finos. A ação foi promovida pela Associação Wanasseduume Ye’kwana, com apoio do Instituto Socioambiental (ISA) e parceria do Instituto ATÁ. Na época, foi produzida a primeira barra de chocolate da história da Terra Indígena Yanomami.

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Segundo Júlio Ye'kwana, liderança local, o projeto está apenascomeçando. "Nós temos muitos conhecimentos da floresta e sabemos que o nosso conhecimento pode gerar renda para as comunidades. A gente estuda na cidade que o chocolate é feito do cacau. E vimos que uma plantação de cacau seria uma alternativa ao garimpo", diz ele sobre os próximos passos do projeto, como o plantio de 7 mil pés de cacau até 2021.

Para ele, o desenvolvimento do trabalho com o cacau é umamaneira de mostrar ao mundo a realidade e o modo de vida das comunidades, além de ser bom e saudável. "Nós temos riqueza na natureza e não no subsolo. Temos riqueza aqui em cima e não precisa destruir. Em vez de destruir, a gente planta mais, sem  deixar ferida na nossa terra. A natureza não vai ficar irritada", diz Júlio.

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A previsão é que um total de 1.142 pessoas, de cincocomunidades, sejam beneficiadas pelo projeto do Chocolate Yanomami.

Com a intenção de Bolsonaro de liberar garimpo em terrasindígenas – e de afirmar reiteradas vezes seu interesse na Terra Indígena Yanomami – a relevância destas iniciativas fica ainda maior para unir as comunidades e fortalecer a resistência contra os invasores e inimigos.

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A maior terra indígena

A Terra Indígena Yanomami (TIY) é a maior do Brasil, com 9,6milhões de hectares, e nela vivem os povos Yanomami e Ye'kwana, com populações de 25 mil pessoas e 700 pessoas, respectivamente, distribuídas em 321 aldeias. Considerado como “povo de recente contato”, os Yanomami são o maior povo indígena do planeta que mantém seu modo de vida tradicional. Constituem um conjunto cultural e linguístico composto de, pelo menos, cinco subgrupos, que falam línguas diferentes de uma mesma família: Yanomam, Yanomami, Sanöma, Ninam e Yanoamë.

O garimpo de ouro na Terra Indígena Yanomami é hoje a maisgrave ameaça aos Yanomami e Ye'kwana, configurando-se como a maior invasão de garimpeiros desde a corrida do ouro nas décadas de 1980 e 1990, quando o território yanomami foi tomado por 45  mil garimpeiros, matando 20% da população yanomami. Hoje, estima-se que o número de garimpeiros na TIY seja superior a 20 mil pessoas, instalados ilegalmente em acampamentos que contam com serviços permanentes de abastecimento e comunicação via satélite.

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Um dos aspectos dramáticos da invasão garimpeira é que ela atraijovens indígenas em busca de renda para a aquisição dos bens de consumo industrializados, como roupas, celulares, panelas e alimentos. Além de tirar pessoas da cultura tradicional, a adesão ao garimpo acaba legitimando a ação dos invasores.

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