China é tema de pós-graduação no Brasil
Universidade brasileira está em seu primeiro semestre de estudos para formação de especialistas no curso “China Contemporânea”
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Universidade brasileira está em seu primeiro semestre de estudos para formação de especialistas em “China Contemporânea”, como foi nomeado o curso.
Com a mudança cada vez mais acentuada das relações políticas e econômicas internacionais, num cenário global tendente ao multilateralismo, esforços têm sido feitos por empresas, governos e pesquisadores para melhor compreensão dos novos protagonistas da geopolítica. Os chamados emergentes, entre eles Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo Brics (S para South Africa, África do Sul em inglês), passam, inclusive, a considerar a inclusão de novos países ao bloco, como a Argentina.
Entretanto, carece ainda o entendimento de quem são esses países, não apenas diante dos números econômicos, mas também dos aspectos políticos e culturais que os organizam como povo e instituições ocupantes de um determinado território. Para entender melhor a China, que é um dos líderes desse processo de emergência de novas sociedades e culturas representadas pelos Estados emergentes, um novo curso de pós-graduação foi aberto no Brasil, neste primeiro semestre de 2022, pela universidade PUC-Minas, oferecendo especialização em China Contemporânea.
A China Radio International (CRI) conversou com o diretor do curso, o professor Javier Vadell, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
CRI: Qual o objetivo geral do curso e como ele pretende qualificar as pessoas para o entendimento sobre o que é a China e como são as relações com o país?
Vadell: O objetivo é apresentar a um público diverso algumas características essenciais de política, economia, negócios, cultura e organização social da China contemporânea. Fornecer uma visão completa e aprofundada nesses aspectos, para o futuro especialista, numa dinâmica crítica e reflexiva, para tirar preconceitos que o público tem em relação à China. A ideia é preparar o profissional para compreender a relação com uma cultura diferente, com um processo de formação de civilização com cinco mil anos, que é próprio e diferente do ocidental. Temos uma página só para explicar o curso, onde está tudo mais bem detalhado.[1]
CRI: Que importância o senhor atribui a esta formação, no momento histórico que vivemos?
Vadell: Isso, logicamente, tem impacto na relação com esse país, que desde 2009 é o principal parceiro comercial do Brasil. Também é preciso apresentar aos profissionais os impactos globais da ascensão chinesa em diferentes esferas, como tecnológica, cultural e comercial. Além disso, é preciso alicerçar as análises de cenário, para que as pessoas saibam o que acontece na China, que hoje é um centro como a Europa ou os Estados Unidos. O que acontece lá, tem implicações na economia global. O cenário cultural, social e político que envolve a China tem repercussão mundial, e por isso é necessário entendê-lo e acompanhá-lo.
CRI: Que profissões precisam mais deste conhecimento?
Vadell: O profissional tem que ter conhecimento, independentemente das áreas. Acadêmico, comércio exterior, comunicação, empresas com ligação direta ou indireta com a China. A primeira turma que nós recebemos, neste semestre, tem estudantes formados em diversas áreas. Advogados, empresários, acadêmicos. Em comum, percebe-se a necessidade de enfrentar a desinformação que ainda existe sobre a China, o que gera ainda muitos preconceitos. A única forma de combater isso é com conhecimento, produção de conhecimento.
CRI: O estudo do mandarim abre portas para o mercado de trabalho?
Vadell: Claro. Assim como saber inglês abre portas, a partir de agora, todo o conhecimento sobre a China abre portas, e o conhecimento do mandarim é essencial. No nosso curso, não abordamos o mandarim, mas vamos desde a história da China até o cenário de negócios do país. É possível ter uma abordagem profunda e livre de preconceitos.
CRI: O senhor acredita que o cenário multipolar está mais próximo? Ou pode acontecer um arrefecimento das economias emergentes, como ocorreu com os demais emergentes asiáticos nos anos 1990?
Vadell: É um cenário completamente diferente. O crescimento econômico de Japão e Coreia do Sul até os anos 1990 foi atrelado à economia ocidental, no processo após a Guerra Fria que chamavam de “globalização”. O mundo já é outro e o protagonismo do Brics representa uma mudança mais ampla na geopolítica, pois são crescimentos autônomos política, cultural e socialmente.
CRI: Qual o papel da crise na Europa para essa transformação?
Vadell: O problema recente entre a Rússia e a Ucrânia acelerou esse processo, que já era inevitável. Países da periferia vieram ao centro, e não se pode falar em dependência, quando se fala de países como a Índia e a China, com uma população cinco vezes maior que a dos Estados Unidos, grande parte produzindo e consumindo. É mais complexo do que dizer “multipolar”. É um tipo novo de globalização, em que países além da China, como o Sudeste e o Centro asiático, também terão papel fundamental. E, nessa ordem em transição, a China virou uma referência.
[1] PUC-Minas: https://www.pucminas.br/Pos-Graduacao/IEC/Cursos/Paginas/China-Contempor%C3%A2nea.aspx
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