Chico Amaral e o aniversário do Frazatto
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Recebi pelas mãos da doutora Estefânia Caciato um presente do advogado Thomas Amaral Lorena de Mello, neto do prefeito Chico Amaral, a ele agradeço e convido para vir para o lado progressista, o lado da defesa radical da democracia, sem senões.
Chico sempre foi uma figura presente ou onipresente na minha vida; a minha primeira lembrança do Chico é discursando na carroceria de um caminhão e eu, com oito anos, sentado no teto do Dolfini branco do meu avô; era um comício, da sua primeira candidatura a prefeito; ele perdeu para Lauro Péricles Gonçalves, este apoiado pelo então prefeito Orestes Quercia.
Meu avô Pedro era seu eleitor, muito por conta da coragem do Chico no enfrentamento da ditadura.
Chico pertencia ao grupo de deputados de oposição, conhecidos como os “autênticos do MDB” e teve um papel de destaque na resistência do Parlamento à ditadura militar de 1964. Foram os “autênticos” que pressionaram o líder Ulysses Guimarães a endurecer com os ditadores. Esse capítulo da sua vida política está contido no livro que ganhei, escrito pelo grande José Pedro Martins, e também no "Autênticos do MDB, Semeadores da Democracia", da escritora Ana Beatriz Nader. Após vários encontros secretos no início da década de 70, o grupo, em 1973, elaborou e assinou um documento intitulado "Anticandidatura" de Ulysses Guimarães e na sessão que “elegeu” Ernesto Geisel ditador de plantão. O documento dos "Autênticos do MDB”, que devolvia simbolicamente o voto ao povo brasileiro - o principal ausente do processo eleitoral -, foi lido no plenário.
Bem, Chico fez muita coisa boa, foi advogado, filósofo e político e sempre caminhou ao lado e pelos mais pobres; foi deputado federal em seis mandatos, foi deputado estadual e vice-presidente da assembleia legislativa do estado, além de prefeito por dois mandatos.
Chico sempre foi carinho comigo, por isso vou aproveitar e contar três historinhas que somente nós dois vivemos, e, não havendo testemunhas, elas podem ser tidas como fantasiosas, então arrolo como testemunha da minha boa-fé o meu irmão de alma Mario Orlando Galvez de Carvalho, que, se não tem fé pública, tem fé do público.
Primeira História. O ano era 1995 ou 1996, não me lembro bem. Celinha e eu fomos à casa do Bebeto Frazatto em Barão Geraldo, era seu aniversário. Chegando lá a Celinha colocou-se ao lado da Ilara, então esposa do Bebeto; eu me sentei com alguns conhecidos, creio que dentre eles estavam Amaury Dimarzio e Carlos Cruz; a conversa era animada, todos tinham boas histórias a contar.Mas logo chegou o Chico “de carona” com o Dória, que à época dirigia um Passat longe de ser “novinho”; ao sentar-se à nossa mesa passou ao centro das atenções e a ser assediado, todos queriam saber se ele seria candidato a prefeito em 1996 etc. e tal, ele apenas sorria e tomava calmamente sua cervejinha com duas ou três pedras de gelo... Num dado momento ele me perguntou: “E você Pedrinho, acha que devo ser candidato?”; bem, eu estava quieto, mas ele perguntou e eu falei: “Chico, para você ser candidato primeiro você precisa de legenda... O PMDB não parece disposto a apoiá-lo e tem que trabalhar a sua imagem, apresentar-se mais jovial e com disposição para o executivo, pois as pessoas dizem que você não gosta do executivo... Convide o doutor Amaury de vice, ou o Cruz...”. O Chico ouviu e não comentou nada, mas o seu silêncio não impediu que eu fosse censurado pelo demais, teria sido atrevido disse um deles.
Mas o papo seguiu descontraído.
Segunda história. Passados alguns meses, não sei quantos meses, quando eu estava subindo a escadaria do fórum, que ainda funcionava no centro da cidade, escuto o alguém me chamar, era o Chico que, já septuagenário, eufórico subiu as escadas como se tivesse vinte anos e, com as duas mãos, apertou minhas bochechas e disse: “Consegui a legenda, o PDS me deu a legenda, vou ser prefeito e você vai trabalhar comigo...”, eu respondi decepcionado: “Mas o partido do Maluf? Não dá Chico...”. Ele me disse para eu não me preocupar, para seguir a minha consciência, mas que ele ia ganhar e eu só não trabalharia com ele se eu não quisesse. Terceira história. Uma noite tocou o telefone, fixo, e o Caio meu filho ‘do meio’ atendeu e gritou: “Pá! É o Chico Amaral, ele quer falar com você”, achei que fosse trote, mas era o Chico... E ele me perguntou: “Assistiu o programa de TV? Estou jovial o suficiente?”.
O Chico estava de fato jovial na TV, com uma camiseta polo e suspensórios, além disso ele havia alcançado a legenda e o seu vice era o Carlos Cruz, do MDB.
Ao final do segundo turno, que o Chico disputou com Célia Leão (PSDB), e empunhando a bandeira da vitória Chico, através do Mario Orlando, me convidou para presidir a Fundação José Pedro de Oliveira, uma experiência única na minha vida profissional e política, assumi a fundação aos trinta e três anos; sob o comando dele fui ainda secretário de Habitação e presidente da COHAB, além de suplente do conselho fiscal da SANASA.
Amo o Chico e sou grato pela sua militância política, pelo seu exemplo e por ter acredito em mim, como poucos.
As histórias que compartilho com o leitor aconteceram depois do meu atrevimento no aniversário do Frazatto, o que me leva a crer que um atrevimento, desde que colaborativo e de boa-fé, é positivo e, como no Efeito Borboleta, pode representar uma das características mais marcantes dos sistemas caóticos: a sensibilidade nas condições iniciais.
Essas são as reflexões.
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