Chegou a hora do plano de retirada dos militares

"Se os militares se acomodarem, na inércia de ficar e conferir o que acontece, correm o risco de ver a imagem das Forças Armadas tombar ao lado de cadáveres de milicianos", escreve o jornalista Moisés Mendes

(Foto: Marcos Correa/PR)


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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia 

Prenderam Sara Winter e agora pegaram Fabrício Queiroz. São frentes diferentes, mas o roteiro é um só. Se a sequência tiver alguma coerência, os próximos serão os garotos. Que não serão presos, mas podem ter as portas pedaladas numa madrugada fria, antes da primavera.

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Teremos cenas terríveis diante dos generais. Os militares, sempre tão cuidadosos, são parte de um governo assustado, que tem como projeto, reavaliado todos os dias, apenas a sobrevivência nas próximas 24 horas.

Como o cerco avança, presume-se que os militares tenham uma estratégia para a retirada. Militares, mesmo não estando em guerra, são obsessivos com planos, até para trocar o pneu do jipe. É a hora da racionalidade levada ao extremo.

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Não se trata de traçar e executar uma tática, mas uma estratégia mesmo, algo mais complexo do que a simples saída do governo. É preciso sair bem.

Os militares terão de se afastar não como quem fracassou, mas como quem descobre e admite que estava na trincheira errada com as pessoas erradas.

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Os generais que acompanham Bolsonaro adquiriram gosto pela gestão de conflitos no Haiti e no Rio. Os dois lugares reativaram vocações intervencionistas e a sensação de que eles têm condições de gerir situações fora dos quarteis e mandar em civis.

A herança atávica para o poder e as experiências recentes como administradores os empurraram para o plano de Bolsonaro. Na falta de um grande projeto para o país, que talvez nem exista, arranjaram ocupação.

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Mesmo que muitos digam que é contrário, que os militares apenas pegaram carona em Bolsonaro para ter a chance de voltar ao poder, é Bolsonaro quem tem votos. Nunca foi assim, desde a derrubada de Dom Pedro II.

Pela primeira vez o comando da situação não é da elite, mas de um tenente que não deu certo como militar e acabou sendo eleito (como excrescência). Nem o marechal Teixeira Lott conseguiu.

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Os generais do entorno não estão submetidos a oficiais de exceção, com o apoio de civis. Foram transformados em subalternos de uma figura medíocre como militar, desorientada como político e sem escrúpulos como ser humano.

É enganoso achar, como chegaram a sugerir, que os generais têm o controle da situação. Sergio Moro saltou fora. Luiz Henrique Mandetta forçou a própria saída.

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Os dois desistiram para sobreviver. E os militares vão ficando, como parte de um governo acossado, mas sem capacidade de mostrar protagonismo.

Os generais tentaram se apoderar da primazia pela condução de projetos de retomada da economia, com o Pró-Brasil, e foram chamados de ignorantes por Paulo Guedes. Na frente de todos os ministros, naquela famosa reunião do dia 22 de abril.

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Encolheram-se sob as ordens do mercado financeiro e dos empresários que bancam Guedes. Correram para o lado de Bolsonaro. Largaram notinhas com ameaças. Avisaram que os adversários, incluindo o Supremo, não deveriam esticar a corda.

Mas parece que já não impõem respeito. Gilmar Mendes disse que eles não podem se comportar como “milícias do presidente da República”. E o que mais tem, no entorno de Bolsonaro, como marca do governo, é a identificação caricata com as milícias.

Ninguém mais leva a sério o debate sobre ao artigo 142 da Constituição. As Forças Armadas não são um poder moderador. Por que seriam? Que sabedoria teria sido acumulada pelos militares a ponto de lhes assegurar o direito de dizer o que é certo?

Não o direito de determinar vontades pela força, como sempre fizeram, mas de agir com a virtude da ‘moderação’ imposta. Não dá. Esse é um debate vencido. O país não precisa de moderadores armados.

Os militares são usados por Bolsonaro como pilastras de um projeto que já fracassou até como controvérsia. O chefe deles só se sustenta por achar que ainda pode blefar tendo os generais como proteção.

Mas não há mais o que fazer. Fechou-se o cerco. Não é improvável que, com mais de 2,5 mil militares como empregados de Bolsonaro, daqui a pouco algum desvio de conduta flagre servidores fardados.

É hora de cair fora ou consolidar o plano para manter o terreno tomado, o que pode ser até um golpe em Bolsonaro.

Se os militares se acomodarem, na inércia de ficar e conferir o que acontece, correm o risco de ver a imagem das Forças Armadas tombar ao lado de cadáveres de milicianos.

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