Chega de maluquice, disseram as urnas

"O recado inequívoco do eleitor neste domingo foi um “NÃO” a Jair Bolsonaro, seus radicais e terraplanistas. Chega de maluquice, disseram as urnas, ao escolher ou levar para o segundo turno políticos tradicionais, gente de esquerda e de centro", escreve Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil | Isac Nóbrega/PR)


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Por Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia

O recado inequívoco do eleitor neste domingo foi um “NÃO” a Jair Bolsonaro, seus radicais e terraplanistas. Chega de maluquice, disseram as urnas, ao escolher ou levar para o segundo turno políticos tradicionais, gente de esquerda e de centro. Isso não quer dizer que a mensagem será a mesma em 2022, dada a volatilidade da política. Mas o mapa até aqui desenhado traz um presidente da República mais fraco diante do avanço da oposição e  das forças de centro-direta não bolsonaristas, como DEM e o PSDB. No outro lado da moeda, terá que enfrentar o fortalecimento dos aliados do Centrão, com sua faca reluzente, que se preparam para encostar em seu pescoço.

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Em dois anos, o discurso do “novo” e da antipolítica que elegeram Bolsonaro e um contingente de neófitos em 2018 se esfarelou diante da constatação de que, em boa parte dos casos, não passava de um embuste. O radicalismo bolsonarista, as bobagens de seus lunáticos e, mais recentemente, o comportamento diante da pandemia assustaram muita gente. A Covid-19 foi, sim, importante eleitora para prefeitos que estavam no cargo e fizeram o mínimo razoável para combatê-la.

A sem-gracice de candidatos e partidos tradicionais, em suas legendas surradas,  trouxe ao eleitor o conforto de chinelos velhos para pés machucados e cansados. Melhor isso do que a montanha russa de emoções negativas vividas nos últimos tempos. O DEM, o PSD, o MDB e outros recuperaram parte de um charme que ninguém imaginava ainda possuírem.

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De outro lado, as esquerdas cresceram com nomes que, ao mesmo tempo,  são novos mas que já tinham sido testados na política. Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre, Marília Arraes (PT) no Recife. Boulos foi o grande fenômeno da temporada e, perdendo ou ganhando, já alçou o PSOl à condição de partido competitivo. 

Parte da mídia e setores conservadores cantam uma derrota do PT, mas, embora tenha ficado claro que sua hegemonia nesse campo ficou em xeque, o partido ainda disputa o segundo turno em 15 das maiores cidades do país — das quais não tem nenhuma hoje. Benedita da Silva teve mais votos no Rio do que indicaram as pesquisas, assim como Marília no Recife. Se tiverem aprendido a lição depois de levar bomba em São Paulo e outros lugares, os petistas começam hoje mesmo a conversar com Psol e outros sobre alianças mais duradouras, que cheguem a 2022.

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Além da campanha de segundo turno, que vai dar dar o arremate nessa costura, as atenções se dirigem hoje para as condições de governabilidade de Bolsonaro a partir de agora. Ficou claro que a desidratação do bolsonarismo raiz faz crescer no governo a força do pouco confiável Centrão, que parece ser o que lhe resta. O passaporte para 2022, porém, não está carimbado. Ex-aliados de direita e centro-direita saíram da eleição mais do que animados para articular uma candidatura presidencial alternativa, continuando conversar com Luciado Huck, João Doria e, menos provável mas não impossível, Sergio Moro.  A chapa ficou quente para Bolsonaro.

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