Chacina da Gamboa e o silêncio reincidente do governador da Bahia

Rui Costa
Rui Costa (Foto: Mateus Pereira/GOVBA)


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A vida de pretos é tão descartável na Bahia que o representante máximo do estado sequer comenta.

O silêncio do governador Rui Costa diante de mais uma chacina em Salvador pode ter alguma explicação. Desumanidade do ex-sindicalista parece não ser, já que enfrenta diariamente, e com muita disposição, a pressão do capital para cessar restrições diante da pandemia e até chorou, ao vivo, quando falava sobre o lockdown.

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CHACINA DO CABULA

Mas a posição de Rui Costa diante das chacinas e da letalidade policial na Bahia é de causar estranheza, a começar pela chacina do Cabula ocorrida em 2015 onde a PM matou 12 pessoas simultaneamente e deixou outros seis gravemente feridos. Quatro mortos eram adolescentes. 

Na ocasião, Rui disse que a PM era “como um artilheiro em frente ao gol”. Para o governador, “A polícia, assim como manda a Constituição e a lei, tem que definir a cada momento e nem sempre é fácil fazer isso". Isso, no caso, era aniquilar quase dois times de futebol, como manda a Constituição. O Secretário de Segurança Pública de Rui era o Maurício Barbosa que disse na época que preferia “acreditar na versão dos meus policiais até que algum outro fato apareça”. Por causa dessa declaração, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a federalização do caso argumentando que faltaria isenção na condução do processo por parte das autoridades baianas. 

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Apesar do STJ negar o pedido, a PGR tinha razão. Depois, por meio da Operação Faroeste, descobriu-se que, tanto o secretário Maurício Barbosa como a juíza que inocentou os policiais em sentença relâmpago, a Dra. Marivalda Moutinho, estavam envolvidos num esquema de corrupção dentro da justiça baiana. Segundo delação da desembargadora Sandra Inês Rusciolelli, o Secretário de Segurança Pública teria sido convidado pelo presidente do TJ-BA para integrar a quadrilha. O governador exonerou o secretário somente depois que o STJ o afastou do cargo. Depois, guardou a caneta e a língua.

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"Todos os laudos cadavéricos indicam — todos — que o que houve foi uma execução. As vítimas estavam em plano inferior a seus agressores. Ou de joelho, ou deitadas", afirmou o promotor do caso Davi Gallo. Essa foi a tática de jogo dos artilheiros de Rui Costa na chacina do Cabula. Sete anos depois o processo se arrasta.

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CASOS ISOLADOS

Nos três primeiros meses de 2020 ocorreram 4 casos de agressão policial. Dentre eles, policiais militares foram flagrados agredindo jovens com pedaço de madeira no bairro negro Liberdade. No outro episódio, no subúrbio de Paripe, o policial enquanto dá chutes no rim de um adolescente, diz: "Você para mim é ladrão, você é vagabundo. Olha essa desgraça desse cabelo aqui. Tire aí vá, essa desgraça desse cabelo aqui. Você é o quê? Você é trabalhador, viado? É?".
Esses episódios foram colocados pelo governador como “casos isolados” e determinou “a apuração rigorosa e imediata da Corregedoria da Polícia Militar com as devidas punições legais aos responsáveis e divulgação para a sociedade das medidas adotadas”. É bom iluminar esse ponto fora da curva: Rui Costa só se manifestou porque era a pré-campanha à prefeitura de sua coligada, a Major Denice, que estava sendo cobrada a se manifestar sobre as ocorrências e o governador precisava justificar ter escanteado a humanista Vilma Reis para batalhar pela eleição de uma major.

LETALIDADE POLICIAL

Em 2021, a PM perseguia um veículo furtado pelas ruas do movimentado bairro do Curuzu em Salvador e metendo bala. Foi tanto tiro que os policiais conseguiram atingir e matar 2 senhoras que conversavam na porta de casa enquanto o alvo dos policiais foi pra casa ileso. O Ilê Aiyê e a Comissão da Mulher na ALBA chegaram a fazer apelos ao governador... cara de paisagem porque é normal ter a polícia mais letal no nordeste e a terceira no Brasil.

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CHACINA DA GAMBOA DE BAIXO

Sem mencionar outros episódios como a recente chacina na penitencia de Salvador, vamos nos deter à última chacina ocorrida nesta terça, 01, quando a PM confessou ter matado 3 pessoas jovens negros logo nas primeiras horas de um dia que teriam outras 8 mortes, totalizando, pelo menos, 11 assassinatos em 24h na Região Metropolitana de Salvador.

E digo “pelo menos” porque o boletim diário da SSP-BA é subnotificado. Como está escrito no próprio documento, apresenta somente as “principais ocorrências”. Tanto é que a Chacina da Gamboa foi ocultada do relatório, conforme cópia abaixo:

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Ora, se nem o boletim da Secretaria de Segurança Pública do estado considera a chacina da Gamboa relevante, porque o governador haveria de se importar?

No dia seguinte, 2 de março, mais 10 assassinatos ocorreriam na Região Metropolitana de Salvador e por aí vai.

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POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA

Sobre a política de segurança pública do estado, Rui Costa é criticado pelo seu partido, pela base aliada, pelos seus adversários, pelo movimento negro, pela OAB e, usando o discurso bolsonarista, culpa a droga pelo aumento da violência. “Mais família e menos drogas” é o que ele diz. Mas de sua parte, nunca mencionou uma possível reforma no seu sistema policial, ou Rui acha que só na Bahia não existe milícia? Quem, por 12 anos, fazia a proteção de Ravengar, o traficante mais procurado da Bahia?

O governador trata a polícia como órgão autônomo, indomável, e aí está a questão. Porque Rui não toca na estrutura, não substitui o comando, não escreve um decreto, não faz uma declaração? E eu, de cá, só enxergo duas possibilidades. Ou a estrutura está fora de controle mesmo ou o governador faz parte dela.

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