Certas alianças são inaceitáveis
O problema principal causado por alianças com a direita não é futuro, é presente: não há argumento capaz de explicar como alianças com golpistas ajudam a derrotar o golpe
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Um setor do PT comporta-se, nas eleições estaduais deste ano, como se ainda estivéssemos em 2010 ou 2014. Defendem a adoção de uma tática eleitoral e "ampla" política de alianças, semelhantes àquelas adotadas naquelas duas oportunidades.
Isto é proposto inclusive em estados onde disputamos a reeleição de governos bem avaliados, onde Lula e o PT exibem altos índices de aprovação. Ou seja, estados onde certamente temos boa margem para arriscar, na perspectiva de contribuir para deslocar a correlação de forças para a esquerda.
Mas não. A opção daquele setor do PT é "bourbon", conservadora, temerosa. Um dos resultados dessa postura, se o DIretorio Nacional do PT não fizer nada a respeito, poderá ser mantermos nosso espaço nos governos estaduais mas, ao mesmo tempo, contribuirmos para manter e as vezes até aumentar a força dos neoliberais no Senado e na Câmara dos Deputados.
E ainda existe quem defenda, neste contexto, a retirada da candidatura própria do PT em Pernambuco. Tese que, se vingasse, na melhor das hipóteses congelaria a correlação de forças institucional no Nordeste tal e qual era em 2014, com exceção do Rio Grande do Norte.
Os defensores desta tática e política de alianças parecem pensar que um resultado como o indicado no parágrafo é o melhor que podemos obter; e que, em tempos de golpe e retrocesso, já estaria de bom tamanho manter o que temos.
Se o Brasil se resumisse a cada um dos estados citados anteriormente, o pensamento acima já seria questionável. Mas não é assim que as coisas são. Dito de outra forma: repetir hoje a tática e as alianças de 2010/2014 não nos ajuda a derrotar o golpe, não nos ajuda a reconquistar a presidência da República, não nos ajuda a governar o Brasil e, ademais, será um peso negativo (inclusive para os governadores petistas que se reelejam) caso os golpistas vençam em 2018.
Comecemos por esta última possibilidade: em caso de vitória presidencial golpista em 2018, cada concessão feita agora vai custar muito caro, inclusive em 2022. Aliás é paradoxal que gente tão atenta para a dimensão institucional minimize este detalhe.
E se a esquerda vencer na presidencial de 2018? Neste caso as concessões feitas serão um freio de mão puxado. O que atrapalhará muito um governo que se propõe a adotar medidas mais radicais.
E na campanha presidencial de 2018? Tendo em vista que Lula lidera as pesquisas em todos os estados em que se fez amplas alianças (e aliás é fundamentalmente por isso que partidos de direita topam aliar-se com o PT), é possível argumentar que caso Lula seja o candidato, as amplas alianças não causarão grande dano à campanha presidencial. Ou seja: os palanques que cedemos a partidos que tem outros candidatos presidenciais terão pouca chance de fazer estrago. Admitamos, por hipótese, que isto pode ser assim. Mas e se não for? Nesse caso, nossos "aliados" estaduais terão um grande espaço para nos causar danos severos. Sem falar, é claro, na dúvida acerca de como vão se comportar certos governadores num cenário em que os golpistas tirem Lula da urna eletrônica.
Mas o problema principal causado por alianças com a direita não é futuro, é presente: não há argumento capaz de explicar como alianças com golpistas ajudam a derrotar o golpe.
Por tudo isso, não há como negar que existe uma contradição entre a tática nacional do PT e a tática implementada em alguns estados.
Alguns acham que esta contradição é apenas aparente, outros acham que é inevitável, em nosso caso achamos que é inaceitável.
Deste ponto de vista, o caso do Ceará não se distingue de outros.
O chocante no caso do Ceará é que nele a contradição chegou a tal ponto que não é mais óbvio, natural e evidente que um governador filiado ao PT deva fazer campanha para a candidatura do PT à presidência.
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