Casa do Menor Trabalhador: Um projeto desprezado pelo Estado

O Estado está certo em cobrar aluguéis de seus imóveis, mas desprezou toda uma história que, inclusive, nasceu de seus servidores. Uma ação de despejo teve efeito em junho de 2017 e o imóvel teve suas portas cerradas. O RJTV apresentou matéria sobre os imóveis pertencentes ao Estado que não pagam aluguel



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Fundada em 1969, sob os auspícios da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor – FEBEM, a Casa do Menor Trabalhador tinha sua sede na região da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. 

A Instituição foi idealizada por funcionários da FEBEM, para prevenir que meninos em situação de risco social ficassem desocupados depois e antes do período escolar.  

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Para tanto, criaram o Projeto Menino Engraxate e Menino Jornaleiro. Através de convênios, fixaram cadeiras de engraxates em pontos comerciais onde os meninos faziam rodízio; Os jornaleiros vendiam jornais em postos de gasolina e sinais de trânsito. 

Para ingressar na CMT era necessário estar matriculado. O serviço social acompanhava o desenvolvimento escolar através dos boletins atualizados. 

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A Casa do Menor Trabalhador, apesar de ter sido concebida com orientação pública assistencialista, sempre teve gestão privada. A única contribuição do Estado foi a concessão, por Termo de Comodato, do prédio onde a CMT se estabeleceu. 

Os recursos da manutenção da instituição eram obtidos através das comissões das vendas dos jornais e dos serviços de engraxate. Com esses recursos eram pagas as despesas, a alimentação (desjejum e almoço) dos meninos, assim como seus salários ao final do mês, que eram retirados por seus responsáveis. 

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Hoje, a Casa do Menor Trabalhador seria acusada de praticar exploração de mão-de-obra infantil.  

De 1977 em diante, a CMT incorporou cursos profissionalizantes à sua grade proporcionando oportunidade também para as meninas. A partir da década de 1990, tornou-se célula do CAMP – Círculo dos Amigos do Menino Patrulheiro, um curso para adolescentes até 18 anos, similar ao Jovem Aprendiz, de hoje. O CAMP Mangueira está em atividade. 

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Com a entrada do novo milênio, a Casa do Menor Trabalhador instalou um laboratório de informática passando a ministrar cursos para os alunos do CAMP e aberto para a comunidade, incluindo a terceira idade.  

Assinou convênio de Apoio Alimentar com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social – SMDS; Com a Fundação Para a Infância e Adolescência – FIA, que pagava per-capita para manter os alunos na Instituição; Com o Ministério do Esporte e Ministério da Educação, no Projeto Segundo Tempo; Com o Rotary Clube Rio de Janeiro, que financiou o curso de panificação -  Projeto A Massa que faz o pão. 

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A CMT criou parcerias com diversas empresas que contratavam os Jovens em situação de Aprendizagem, muitos eram contratados em definitivo. 

A instituição, que foi fundada em 1969, encerrou suas atividades em 2017, mas já vinha ‘se arrastando’ desde 2012. Por lá passaram jovens que se tornaram esportistas, artistas, cantores, juízes, prefeitos.  

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Entre os motivos que fizeram com que a CMT declinasse, está o fato de que a prefeitura e o estado encerraram vários convênios com diversas ONGs, grandes empresas como a Fundação Bradesco, aderiram ao social criando oportunidades atrativas e - caiu aqui- o imóvel de 1911 precisava de uma reforma estrutural e o próprio nome da instituição, com a nova contextualização, aproximava o menor do trabalho, além da palavra menor ser atribuída aos iniciantes no tráfico. 

A Casa do Menor Trabalhador está na história da cidade, atravessou períodos do AI-5 à anistia; A redemocratização; Governos autoritários e populares. 

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Em ação judicial, de 2001, movida pelo Rio Previdência – uma autarquia estadual, a CMT foi notificada que o prazo de Comodato havia se encerrado e que haviam débitos referentes a aluguéis durante esse período, sendo que nenhuma cobrança tivesse chegado. Como o valor era impagável, a instituição recorreu. 

O Estado está certo em cobrar aluguéis de seus imóveis, mas desprezou toda uma história que, inclusive, nasceu de seus servidores. Uma ação de despejo teve efeito em junho de 2017 e o imóvel teve suas portas cerradas. 

O telejornal da Rede Globo, RJTV, em uma edição no início de setembro deste ano, apresentou matéria sobre os imóveis pertencentes ao Estado que não pagam aluguel.  

O Imóvel da rua Senador Pompeu 200 apareceu na matéria. A Casa do Menor Trabalhador, que tanto atuou pelo bem-estar social da cidade do Rio de Janeiro, foi despejada para que o imóvel fosse invadido por moradores em situação de rua, que transformaram o lugar no folclórico ‘cabeça de porco’, nome que se dá a um cortiço coletivo e insalubre. 

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