Carta ao Caco Barcelos

Seu depoimento sobre sua admiração ao ex-governador Leonel Brizola, num momento em que a sociedade brasileira está estupefata com a descrença da classe política, foi extraordinária. Seu reconhecimento à uma das obsessões de Brizola que era a educação, demonstra que o senhor não perdeu suas referências na construção de sua cidadania

Jornalista Caco Barcellos
Jornalista Caco Barcellos (Foto: Henrique Matthiesen)


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Caro Caco Barcelos,

Sou um grande admirador do seu trabalho, do seu jornalismo investigativo, da sua primazia em contar-nos enredos com sensibilidade, num olhar humanista, crítico e verdadeiro.

Meu primeiro contato com a sua obra foi através do livro de sua autoria "Rota 66". Intrigante narrativa de uma polícia que mata, que assassina, que massacra.

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Nesta sua magnífica obra vejo as digitais indeléveis da sensibilidade com que o senhor aborda as vítimas de um dos esquadrões da morte mais perversos do Brasil. Seu recorte nos revela de forma rude e gritante a questão social, os padecentes escolhidos pelos bandidos fardados, pobres, negros, filhos da miséria, da ausência do Estado.

Porém, tenho que confessar que a obra que eu mais gostei foi seu outro livro "O Abusado - o Dono do Morro da Dona Marta." Obra arrebatadora. Um dos raros livros que tem o dom viciante da narrativa apaixonante e densamente reflexiva.

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As contradições éticas, morais e legais, se misturam na compreensão de mergulharmos na formação do pensamento, da lógica perversa do tráfico.

As reflexões de Juliano VP (codinome de um conhecido traficante) nos traz a incomoda, mas indispensável, meditação dos meandros do abandono estatal, onde oportuniza a ascensão de "empresas" - organizações criminosas - para ocupar esses espaços vazios.

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É desconcertante observar as preocupações do dono do Morro com os flagelos sociais, com o cuidado de sua comunidade, mesmo pelas vias inversas, como o tráfico.

"Abusado", é uma obra prima, no sentido de que nos leva ao submundo do crime, mas ao mesmo tempo nos revela a luta de uma comunidade abandonada em suas necessidades básicas de cidadania, e que encontra na organização criminosa seu derradeiro amparo de subexistência.

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Entretanto, o que me emociona ao escrever esta carta ao senhor, foi sua recente entrevista no programa "Conversa com Bial", da Rede Globo.

Seu depoimento sobre sua admiração ao ex-governador Leonel Brizola, num momento em que a sociedade brasileira está estupefata com a descrença da classe política, foi extraordinária.

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Seu reconhecimento à uma das obsessões de Brizola que era a educação, demonstra que o senhor não perdeu suas referências na construção de sua cidadania.

O governador dos pés de chinelos, suas referências sobre a importância de uma escola libertária, da pobreza, da indigência, da escola desonesta que temos hoje é um dos entraves que o Brasil insiste não enxergar.

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De fato, assim como Brizola e Darcy Ribeiro ponderavam que não existe cavalo sem ferradura, bezerros abandonados, galinhas sem dono, mas existem crianças de rua, crianças passando fome, crianças abandonadas.

Escola de tempo integral, onde o Estado é corresponsável pelo seu futuro, é uma questão de política de Estado e investimento em futuro, é cuidado com a verdadeira riqueza de uma nação digna dessa acepção.

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Senhor Caco Barcelos é gratificante ver seu testemunho num Brasil hipócrita que não conhece sua história e que abandona suas crianças.

A educação de qualidade é o único caminho para um dia termos um país mais equânime.

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