Candidatura de Boulos serve para isolar o PT e é um retrocesso na luta contra o golpe
A campanha da imprensa burguesa favorável à candidatura, junto com a campanha contra o PT, mostra a manobra que os golpistas preparam para isolar Lula em 2022
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Por Juca Simonard
Minhas colunas sobre a chapa Guilherme Boulos e Luiza Erundina geraram uma nova repercussão esse final de semana, após a Vera Magalhães, do jornal Estado de S. Paulo, compartilhar a primeira parte do artigo para atacar o PT.
Ela - que diz não ter havido golpe no Brasil, que defendeu a prisão de Lula e apoiou (do jeito ensaboado de toda a imprensa corporativa) a eleição do fascista Jair Bolsonaro - buscou vincular o que eu escrevi ao PT, um partido do qual eu nunca fui filiado e nem militei, como grande “jornalista” que é.
A crítica, porém, assume um caráter claro de ataque às opiniões dos que querem manter a luta contra o golpe e não aceitam a frente ampla e, para isso, é fundamental mirar o PT.
Junto com Vera, meu artigo foi criticado por um setor do PSOL e, principalmente, por ativistas defensores de Ciro Gomes (o autor da frase “Lula está preso, babaca”). Mostrando um caráter reacionário e em defesa da censura, fui acusado de “fake news”, por que disse, no primeiro artigo, que a candidatura de Boulos estava recebendo apoio da grande imprensa golpista e, no segundo artigo, denunciei que durante eleições passadas o PSOL sempre assumiu um caráter anti-PT e que o atual candidato do partido para a Prefeitura da capital paulista assumiu uma posição centrista diante do golpe de Estado e até mesmo, com os atos do “não vai ter copa”, favoreceu a campanha da direita contra o petismo.
Nos artigos, os fatos estão registrados pela própria imprensa golpista, com citações e assim por diante. Mesmo assim, fui acusado de “fake news” e “difamação” por uma opinião impopular entre setores da esquerda, que agem como trogloditas para censurar o que não lhes convém. Como está tudo documentado nos outros artigos, me limitarei a mencionar o que direi de novo neste artigo.
Luiza Erundina: da repressão brutal a grevistas ao PSB
Quero que me digam se é “fake news” ou difamação afirmar que Luiza Erundina, vice da chapa do PSOL, tem ligações políticas com um importante setor da burguesia. A atual deputada federal já foi prefeita pelo PT, mas ao contrário do que afirmam os que querem falsificar a história, nunca foi da ala esquerda do partido, mas de uma ala direita profundamente pequeno-burguesa.
Durante seu mandato em São Paulo, Erundina foi responsável pela intensa repressão aos trabalhadores dos ônibus. Antes de eu ser acusado de “difamação” pelos falsificadores, anuncio que basta pesquisar a posição da ex-prefeita diante da greve. Um artigo de 1992 da Folha de S. Paulo, digitalizado em seu banco de dados, diz que:
“A prefeita Luiza Erundina (PT) decidiu ser instransigente nas decisões que tomou até agora em relação aos grevistas. Ela vai recorrer na Justiça contra o reajuste concedido pelo TRT”.
“O sindicato da categoria pretende negociar com a prefeitura a revisão das 475 demissões e o parcelamento em duas vezes do reajuste de 89,49% concedido pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho)”.
“A CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) manterá as sindicâncias que apuram os responsáveis pelas 806 depredações de ônibus. A prefeitura calcula que nesses nove dias, entre depredações e falta de arrecadação, perdeu cerca de Cr$ 30 bilhões.”
“Na avaliação dos líderes da paralisação, o fim da greve foi motivado pelas demissões e pelo forte esquema policial montado à frente das garagens, impedindo piquetes.”
Resumindo, diante da greve por reajuste salarial dos trabalhadores da então CMTC, Erundina agiu igual qualquer governo burguês da capital paulista, de Maluf a Covas. De acordo com os dirigentes da greve, a mobilização parou por conta da intensa repressão policial e pelas centenas de demissões feitas pela Prefeitura Erundina, que também abriu uma sindicância contra as “806 depredações de ônibus” para perseguir os grevistas. Essa campanha permitiu a extinção da CMTC pelo governo Maluf, em seguida.
A atual vice de Boulos, em seguida, participou (assim como FHC) do governo Itamar Franco, contra a decisão do PT, e consegue o cargo de Ministra-Chefe da Secretaria da Administração Federal. Em 1998, entra no PSB. Em 2004, é candidato à Prefeitura de São Paulo tendo como vice Michel Temer (MDB) - sim, ele mesmo.
Segundo artigo do UOL (lincado acima), “MDB e PSB formalizaram nesta quarta-feira uma coligação para disputar a prefeitura de São Paulo com a desistência de Michel Temer, que ocupará o posto de vice na chapa da socialista Luiza Erundina. Apesar de pertencerem a partidos da base governista, os dois políticos prevêem críticas ao Executivo federal na campanha”. O Executivo federal era o PT.
“‘É um gesto inovador, revolucionário e ousado do PMDB’, disse a ex-prefeita, durante entrevista coletiva para anunciar a nova chapa. Erundina reiterou sua autocrítica de considerar um "equívoco" ter governado São Paulo entre 1989 e 1992 com um partido só, então o PT”.
Erundina também foi Coordenadora-Geral da coligação Unidos pelo Brasil, que lançou Marina Silva como candidata à Presidência da República, em 2014.
Está aí, tudo lincado, com algumas citações. Mais sei que, mesmo assim, os falsificadores irão me acusar de “difamação”.
PSOL e o golpe
Voltando para Boulos. Ele impulsionou a campanha “não vai ter copa”, a política do “governo Dilma é indefensável [diante do golpe, por causa dos ajustes fiscais]” e a de que o lulismo se esgotou - tudo isso está mencionado na segunda parte do artigo. Para acrescentar, queria apenas citar um artigo de Rodrigo Vianna:
“As críticas [de Boulos] ao governo Dilma foram duras. E generalizadas. Boulos disse que ‘o governo é indefensável’, e foi mais longe: ‘ou o governo reverte o modelo, baseado no ajuste liberal, ou em breve o golpismo terá base popular nas ruas’”.
Apesar de compreender que o anti-petismo era uma política fascista, Boulos disse que “o petismo deixou de ser de esquerda”. O economista André Singer, segundo o jornalista, “lamentou que o PSOL e o MTST não tenham ido ao ato do dia 13 na Paulista”.
Para lembrar: no dia 13 de março de 2015, PT, MST, PCO, CUT, etc. chamaram uma manifestação contra o golpe para combater o ato em defesa do golpe em 15 de março. Boulos, Psol e MTST não foram. Boulos adotou uma política centrista, longe do que afirma ao dizer que esteve desde o início na luta contra o golpe.
Já seu partido (PSOL), em 2014, lançou para a Presidência Luciana Genro. Durante o processo do golpe, Genro não só apoiou os atos do golpe (15/03) e atacou os atos contra o golpe (13/03), como fica explícito em seu artigo “O Brasil caminha para a direita?” (publicado no Carta Maior com o título: ‘Nenhum setor da burguesia quer de fato o impeachment ou muito menos um golpe’), com também apoiou a Lava Jato.
Não faltam exemplos. O então deputado federal Chico Alencar (PSOL), publicou artigo falando que não se devia participar das manifestações nem no dia 13 (contra o golpe), nem no dia 15 (em defesa do golpe). Ou seja, se manter omisso diante do golpe, assim como fez Boulos.
Os argumentos:
“O ato do dia 13 é de apoio ao governo Dilma, por mais que elenque críticas pontuais a MPs recém-editadas; somos oposição programática de esquerda ao governo”; “sob a convocação do ‘movimento social’ há o claro intuito de reforçar o PT, neste momento crítico, muito em função dos seus próprios e graves desvios” - não vamos às ruas porque é para defender Dilma e somos oposição;
“defender a Petrobras estatal é também exigir apuração rigorosa e implacável sobre os que a vilipendiaram, montando esse esquema abominável de propinas” - a direita quer privatizar a Petrobras usando este esquema, mas mesmo assim é importante combater a corrupção;
“o justo protesto contra a corrupção não pode ser biombo para os que sonham com nova ditadura e não têm apreço pelos direitos humanos” - se no ato coxinha não aparecessem os bolsonaristas, a campanha golpista seria correta?;
E assim segue. O texto é curto... basta acessá-lo e ler (coloquei o link). Vale lembrar também que Marcelo Freixo, principal figura eleitoral do PSOL no Rio de Janeiro, disse que “Lula livre não unifica”, quando o ex-presidente estava preso.
Enfim, acho que temos exemplos suficientes de que o PSOL assumiu ou uma posição centrista, ou uma posição favorável em relação ao golpe de Estado. Isso com apenas alguns poucos exemplos citados.
Uma chapa para isolar o PT
Sendo esta a vontade de Boulos ou não, a cobertura da imprensa mostra claramente que sua candidatura está sendo usada pela direita golpista para isolar o PT em São Paulo - cidade mais importante do País que já foi governada três vezes pelo partido. Isso não significa que Boulos e Erundina sejam de direita - apesar de serem extremamente conciliadores.
Basta abrir qualquer matéria da Folha de S. Paulo falando sobre Jilmar Tatto (PT) e Guilherme Boulos. O tratamento é diferente. Sem falar das pesquisas falsificadas da burguesia, como o Ibope, que afirmam que o candidato do partido de Lula, que já foi governo três vezes na cidade, estaria com apenas 1%, atrás do PSTU e empatado com o PCO. Isso é um absurdo e quem acredita nisso é extremamente ingênuo.
Fica a pergunta: por que a direita quer isolar o PT? É uma manobra muito simples da burguesia e foco principal, na realidade, é isolar o lulismo, pois a popularidade do dirigente petista, que está tendo apoio para ser candidato em 2022, coloca em xeque a política da frente ampla com setores golpistas (apoiada pela esquerda que foi ao evento “Direitos Já”, junto com o PSDB: Boulos, Haddad, Dino, etc.).
A manobra consiste em articular para o PT não conseguir nenhuma cidade relevante nas eleições de 2020 e, em 2022, argumentar que o partido está “falido” ou foi “ultrapassado”. E não nos enganemos, Boulos não vai ganhar a Prefeitura de São Paulo, pois o processo eleitoral está manipulado para a vitória dos tucanos. Semear tais ilusões eleitorais, em meio a um golpe de Estado, é uma política para confundir milhares de brasileiros.
Mesmo assim, a campanha que está sendo feita é para que Tatto, em São Paulo, e o PT, em outras cidades, terem uma votação pífia para justificar o argumento do “fim do PT”. Nesse sentido, a candidatura de Boulos e Erundina em 2020 tem o mesmo propósito das candidaturas do PSOL em 2006, 2010 e 2014 (citadas no segundo artigo), de Marina Silva em 2010 e 2014 e de Ciro Gomes em 2018: tirar votos do PT para isolar o partido.
Desta forma, a candidatura do frenteamplista Guilherme Boulos não só confunde ao semear ilusões eleitorais, como também promove um profundo atraso no movimento contra o golpe, que pretende usar as eleições para mobilizar.
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