Campos vê até bomba-relógio, mas finge não ver o baixo desemprego

A verdade é que os socialistas estão torcendo abertamente pela inflação, revelam isso nas entrevistas e nas conversas pessoais. Mas Dilma não perdeu o controle



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O pré-candidato socialista Eduardo Campos falta à exatidão e peca pelo exagero quando acusa a presidente Dilma Rousseff pelo que chama de "menor crescimento econômico da história republicana". Ora, não é preciso recuar muito no tempo da República para verificar crescimento menor que o atual. Com Dilma na presidência o PIB cresceu 2,7% em 2011, 1% em 2012 e 2,3% em 2013, o que dá uma média anual de 2%. Modesta, mas positiva. Só a metade da média de 4,1% do governo Lula, é verdade. Mas quase empatado com os 2,2% dos anos FHC e muito melhor que a recessão (-1,3%) dos anos Collor.

O mais importante, porém, é compreender que a comparação entre presidentes não pode ser feita na base desse tipo de aritmética simplória, atribuindo a cada qual uma espécie de responsabilidade absoluta pelos resultados do crescimento. É preciso entender os diferentes processos econômicos que vivenciaram, e de que forma interferiram, para o mal ou para o bem.

Nesses últimos três anos, o Brasil, sob o comando de Dilma, teve que enfrentar a crise financeira mundial que eclodiu em 2008 e prolonga-se ninguém sabe até quando, mantendo baixo o nível da economia - e das importações - dos países mais desenvolvidos, que tradicionalmente compram nossos produtos. Não é uma crise localizada, neste ou naquele país emergente, como outras que a precederam. É uma crise sistêmica, com centro nos Estados Unidos e na Europa, só comparável em suas consequências danosas à hecatombe de 1929. Nesse ponto concordam todos os economistas, independente das matizes doutrinárias.

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O Brasil vem saindo-se com galhardia. Obteve em 2013, ao lado da Rússia, o sexto maior crescimento do PIB entre as grandes economias. Atrás da China (7,8), Índia (5,6), Austrália (3,0), México (2,9) e Coréia do Sul (2,8). E à frente da África do Sul (2), Japão (2), Canadá (1,7), EUA (1,7), Reino Unido (0,9), Alemanha (0,3), França (-0,2), Área do Euro (-0,6), Espanha (-1,6) e Itália (-1,8). A média mundial, puxada para cima pela China, ficou em cerca de 3,1%. Sem a China, a média mundial ficou em 2,2% - abaixo, portanto, do desempenho brasileiro.

E a qualidade do desenvolvimento econômico? Se o crescimento do PIB é apenas modesto, outros indicadores apresentam excelente evolução. Em especial o desemprego, que continua caindo com velocidade equivalente à do governo Lula, apesar do crescimento menor da economia. Hoje o desemprego medido pelo IBGE está pouco acima de 5% na média dos últimos doze meses – a taxa mais baixa de todos os tempos em nosso país. Uma taxa próxima do pleno emprego, comparável à dos países com mercado de trabalho melhor estruturado do mundo. Muito menos da metade da taxa de 13% que o governo Lula recebeu dos tucanos. Já imaginaram como estaria o quadro social, da segurança pública, se tivéssemos hoje o mesmo desemprego brutal dos tempos FHC?

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No entanto, os economistas neoliberais arrepiam os cabelos quando fazem a tal conta da produtividade. Eles dividem a produção econômica pelo custo da mão-de-obra. Como a produção cresce menos que o emprego, menos que o salário, menos portanto que a massa salarial, o diagnóstico é rápido e definitivo: o país está "perdendo produtividade". Antes do governo petista, a solução neoliberal era elevar o desemprego e reduzir o valor real dos salários para aumentar a produtividade da economia. O Brasil estaria melhor, no rumo certo, se repetisse agora a tradicional receita elitista?

Não é possível fechar os olhos para o fato de que, em que pese o PIB menos veloz, o Brasil continua a reduzir a desigualdade social, nosso principal problema histórico, a maior de nossas dívidas. A renda da maioria da população segue em expansão, e com um detalhe importante: os segmentos sociais que mais melhoram são justo aqueles mais pobres. A inclusão social continua com Dilma, no ritmo instituído por Lula. A explicação para o menor crescimento da produção econômica não está, portanto, na retração do mercado interno de consumo, mas sim na do mercado externo, em função da crise mundial. Nossas exportações sofrem com o protecionismo cambial dos países ricos. Caíram nossas vendas para os Estados Unidos, para a Europa - com destaque para Espanha, Alemanha e Itália. Caíram bastante também para nossos vizinhos da América Latina, como Argentina e Venezuela, mais vulneráveis que o Brasil aos efeitos da crise. E caíram também para a China, a começar pelo minério de ferro.

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Todas essas dificuldades não foram suficientes, contudo, para barrar nosso avanço social. E o que diz o pré-candidato socialista? Consegue a proeza de condenar peremptoriamente a política econômica do governo Dilma, sem sequer dar-se ao incômodo de referir-se ao nível do emprego. Certamente porque esse número não interessa ao raciocínio eleitoral enviesado que professa. Mostra, assim, que seu tipo de socialismo não leva muito em consideração as condições do mercado de trabalho para a população trabalhadora.

Vem atacar Dilma com a mentira de que ela teria perdido o controle da inflação e iria deixar uma suposta bomba-relógio de preços em alta para depois da eleição. A verdade é que os socialistas estão torcendo abertamente pela inflação, revelam isso nas entrevistas e nas conversas pessoais. Mas Dilma não perdeu o controle. A inflação continua rigorosamente dentro da meta, pelo 11º ano consecutivo. O problema é que virou moda entre os críticos do governo cobrar a inflação no centro da meta, como se o centro fosse a meta em si. Não é. O centro da meta é 4,5%, admitida variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Portanto, entre 2,5% e 6,5%. Por que? Porque é preciso dar margem de manobra ao governo, que tem a obrigação de controlar a inflação, mas também de promover o crescimento, o emprego. Um governo não existe só para controlar a inflação. É preciso ajustar a politica econômica conforme as necessidades, as circunstâncias, respeitada a margem estabelecida pelo próprio regime de meta da inflação do Banco Central. A inflação vem fechando todos os anos abaixo de 6,5%, está agora abaixo de 6,5%. Próxima do teto, mas dentro da meta. Uma façanha para a nossa tantas vezes inglória história republicana – que, aliás, não registra qualquer outro período de doze anos consecutivos com inflação tão baixa quanto nos governos Lula-Dilma. É bom lembrar que FHC passou o governo a Lula com a variação anual do IPCA em 13%, e a dos IGPs beirando os 30%.

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Além de crescer, controlar a inflação, manter expressivas reservas em moeda estrangeira e reduzir a relação endividamento público/PIB, continuamos amortizando nossa dívida social. Está em franca redução no Brasil o Índice de Gini, que mede a desigualdade social, assim como nossos déficits em educação, em habitação, em infraestrutura, e mais recentemente também em saúde.

Temos um presente sólido e um futuro promissor à nossa frente, bem ao contrário do quadro de fim de mundo que prevaleceu desde a segunda metade dos anos 1970 até a entrada do presidente operário na cena do poder.

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Antes de Lula presidente tivemos duas décadas perdidas, marcadas pela estagnação econômica e pelo desemprego. Foram os anos 80 e 90 - crescimento médio próximo de zero, inadimplência externa, submissão ao FMI, ausência de crédito, juros estratosféricos, desinvestimento, hiperinflação, redução brutal da renda do trabalho, desmonte forçado do Estado nacional conduzido então à falência. Uma combinação diabólica de desastres, da qual desfrutamos como herança da política econômica da ditadura. Só após 2003 o Brasil reencontrou o rumo da prosperidade, para o que foi fundamental termos aprendido a conjugar na mesma oração os verbos crescer e incluir.

O governo tucano de FHC levou o país à falência três vezes em apenas oito anos. Entregou o país com recorde de desemprego, com o salário mais desvalorizado da história. E inadimplente junto aos bancos internacionais. Teve que passar pela vergonha de chamar os candidatos à sua sucessão para aceitarem em conjunto uma nova intervenção do FMI no país, quem se lembra? O dólar chegou a superar R$ 4,00 no câmbio turismo, alguém lembra? O salário mínimo valia R$ 200, ou seja, míseros 50 dólares. Com certeza o trabalhador que o recebia lembra-se de como valia pouco. Hoje o salário mínimo vale mais de 300 dólares. Se tomarmos o dólar comercial a R$ 2,22, vale exatos 326,13 dólares. Em São Paulo e Porto Alegre, o salário mínimo, antes do governo Lula, não dava para comprar uma cesta básica calculada pelo Dieese. Nas demais capitais do Sul-Sudeste, comprava raspando uma cesta. Hoje, em todas as capitais pesquisadas pelo Dieese, inclusive São Paulo e Porto Alegre, que são as mais caras, o salário mínimo compra mais de duas cestas básicas. Em algumas capitais do Nordeste compra mais de três cestas.

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Eduardo Campos conhece tudo isso de perto. Participou do governo Lula, esteve no linha de frente do projeto político da inclusão social. Agora trilha outros caminhos. Impávido, ignora os bons números do emprego, faz terrorismo eleitoreiro com a suposta bomba-relógio da inflação. Recebe e verbaliza conselhos dos gurus neoliberais. Vestiu o figurino do ideólogo aristocrata Bornhausen, ex-prócer do PFL e do DEM que nunca desiste de extinguir a raça dos petistas - embora, após três derrotas sucessivas, tenha desistido de fazê-lo capitaneando partidos com etiqueta de direita. Optou pela estratégia sorrateira de abocanhar um partido do espectro da centro-esquerda e romper o lulismo por dentro. E o que é Eduardo Campos senão sua ferramenta fundamental?

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