Campanha pela PEC do teto usa dados errados

"O esforço para ajudar a dupla Michel Temer-Henrique Meirelles a aprovar a PEC 241, que congela gastos públicos por 20 anos, atingiu o nível de um massacre, destinado a desqualificar a crítica e as possíveis vozes contrárias. A base de sua argumentação é que o Estado brasileiro assiste a uma explosão da dívida pública, que teria atingido níveis apocalípticos", diz o colunista Paulo Moreira Leite; no entanto, ele lembra que não há uma explosão da dívida interna e diz que "os anos de gastança de Lula e Dilma, que produziram a mais ampla distribuição de renda da história recente de nosso capitalismo, foram mais austeros do que o período FHC"

Brasília - O presidente interino Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante reunião com líderes da Câmara e do Senado, no Palácio do Planalto. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Brasília - O presidente interino Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante reunião com líderes da Câmara e do Senado, no Palácio do Planalto. (Marcelo Camargo/Agência Brasil) (Foto: Paulo Moreira Leite)


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O esforço para ajudar a dupla Michel Temer-Henrique Meirelles a aprovar a PEC 241, que congela gastos públicos por 20 anos, atingiu o nível de um massacre, destinado a desqualificar a crítica e as possíveis vozes contrárias. A base de sua argumentação é que o Estado brasileiro assiste a uma explosão da dívida pública, que teria atingido níveis apocalípticos.

      O problema é que se trata de uma noção errada, apoiada em dados tecnicamente falsos, que se destinam a lubrificar a aprovação de uma medida que só interessa capital financeiro e grandes rentistas. 

    "Teto de gastos é  remédio indispensável," diz o título de um anuncio de quatro páginas publicado nos jornais de hoje. propaganda, "O Brasil tem jeito," repete a FIESP, procurando assumir um tom paternal, no final da propaganda.

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     Em artigo assinado, o banqueiro Roberto Setubal, presidente do Itaú, afirma: "A dívida pública acelerou e ultrapassou 70% do PIB, acima da média de 50% de outros países emergentes."

     Para colocar dados reais numa discussão que não pode realizada de forma irresponsável, pois a aprovação da PEC irá gerar consequências particularmente nocivas ao país, lembro aqui trechos de um texto publicado neste mesmo espaço, em 19 de setembro, com o título: "Com medo do debate, governo apressar PEC de Meirelles." Ali se informa que o núcleo da argumentação a favor da PEC, que denuncia um endividamento de 70%, está longe de corresponder a realidade.

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      Acho de grande utilidade para alimentar um debate produtivo e bem informado. Vamos lá:

     "Quem se der ao trabalho de ler um artigo de  Felipe Rezende,  (Valor Econômico ,15/9/2016, página A 11)  irá encontrar uma argumentação demolidora contra a PEC 241/16. Professor assistente de Economia em Genebra, a base técnica de Rezende é irrespondível.

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       Para começar, ele vai direto ao ponto – o volume da dívida bruta em relação ao PIB. Mostra que se os números de 2016 são altos – a proporção é de 69,5% do PIB – ainda são bastante confortáveis quando se compara com 2002, quando representavam nada menos do que 76% da riqueza bruta do país e ninguém achou necessário falar numa ditadura fiscal prolongada.

       Sem fazer associações políticas com os governos de plantão em cada época, que seriam inteiramente desfavoráveis à gestão de FHC, Rezende discute o que interessa hoje, que é a tentativa de criar uma situação de alarme apocalíptico. Fala de "críticos (que) pregam de forma genérica e arbitrária que a elevação recente da dívida pública levaria ao calote ou a uma aceleração inflacionária."  

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      Nada disso, explica o professor, que faz uma lição de casa indispensável. Estudando a origem do aumento da divida, demonstra que o plano Meirelles tem como base uma confusão imperdoável entre economia real e contabilidade formal. Lembra que a dívida cresceu num período em que a transferência de títulos públicos para bancos federais atingiu 9,3%, uma operação de impacto real nulo sobre as obrigações do governo. Foi uma troca de papéis e não uma transferência de riqueza. Explica: "embora contabilmente essas operações tenham ampliado a dívida bruta, o impacto na dívida líquida foi neutro -- já que esta subtrai os ativos financeiros das obrigações do governo." A conclusão do professor merece manchetes garrafais:

–Assim, escreve, a dívida líquida do setor público permanece nos menores níveis históricos. Por exemplo: em julho de 2016 era de 42,4% do PIB, enquanto em janeiro de 2002 correspondia a 52,3% do PIB.

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É isso aí, meus amigos. Os anos de gastança de Lula e Dilma, que produziram a mais ampla distribuição de renda da história recente de nosso capitalismo, foram mais austeros do que o período FHC.

Depondo no Senado em defesa da gestão financeira do governo Dilma, o professor Luiz Gonzaga Belluzzo disse que quem criticava a presidente por ter realizado uma gestão temerária das finanças públicas não sabia do que estava falando. "Em minha opinião ela errou por ter sido responsável demais", disse Belluzzo.

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Os números de Felipe Rezende lhe dão razão. Se é tarde para reverter a deposição criminosa de uma presidente, ajudam a entender a necessidade de rejeitar um programa de impor uma recessão de 20 anos ao país."

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