Caminhos da emancipação do proletariado

A ideia de Revolução é um discurso em disputa, e continuará sendo ainda por muito tempo. E isso, só para ficar entre os frankfurtianos e marxistas

(Foto: Rodolfo Buhrer/Reuters)


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Recebi a honrosa tarefa de explorar as controversas e difíceis relações teóricas e políticas entre a Teoria Crítica frankfurtiana e o marxismo ou marxismo. Neste caso, como aliás em outros, é preciso distinguir ou precisar que autores ou fases da Teoria Crítica e de que Marxismo estamos falando. É mais ou menos claro que a partir da segunda geração dos frankfurtianos, vai ocorrendo uma mudança  paradigmática no sentido da substituição do TRABALHO SOCIAL pela COMUNICAÇÃO ou, inicialmente, pela interação. 

No início, a interação, a linguagem e o trabalho coexistem lado a lado. Depois, fala-se no envelhecimento do paradigma da produção, baseado nas pesquisas empíricas de Claus Offe sobre a classe operária alemã, sobretudo pelo avanço do setor de serviços informatizados e a perda da identidade dos operários. 

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O Habermas ainda manteria o trabalho, como expressão da razão instrumental, no que ele chama de subsistema (Estado e Mercado). E a comunicação como característica do mundo da vida, formado pelos atos de fala comunicativos (locucionários e ilocucionários). Originalmente, o Habermas procurou separar os esferas sistêmica do mundo da vida, regidos por racionalidade distintas. 

Depois passou a admitir o protagonismo do mundo da vida na vida sistêmica, utilizando o conceito de sociedade civil e esfera pública. Entendendo pelo primeiro o conjunto de associações civis que convergiriam para formação da vontade política, pelo uso da razão comunicativa, ou seja, deu uma inflexão política à sua teoria, depois desenvolvida por discípulos americanos.

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O conceito de Democracia discursiva identifica-se com este modelo, diferente do republicano e do liberal. Aqui, emancipação é  sinônimo de comunicação liberta de constrangimentos ideológicos ou neuróticos  do auto-engano. Ou seja, comunicação voltada para o entendimento, através de provas e contraprovas e da veracidade dos interlocutores. 

Naturalmente, este autor não representa o pensamento de toda escola, nem a geração dos pais fundadores (Adorno, Horkheimer, Marcuse, Benjamin e outros), alguns mais à esquerda, como Marcuse(que apoiaria o movimento estudantil, o movimento negro e os movimentos de libertação nacional). 

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No entanto, o desenvolvimento futuro da escola só afastaria cada vez mais a Teoria Crítica do pensamento marxista. (Ver por exemplo a luta pelo reconhecimento de Axel Honneth). Embora haja controvérsias  sobre a sobrevivência marxista na obra tardia de Adorno, a Dialética Negativa.

O pensamento marxista ou as várias correntes que se inspiram em Marx não dialogam com esses pensadores, em decorrência da mudança paradigmática e por não aprofundar uma discussão sobre a linguagem enquanto médium de emancipação. 

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No geral, a linguagem é um processo ideológico sujeito às determinações das relações sociais e os interesses de classe. Neste sentido, ou se escolhe a via estruturalista do marxismo, com ênfase na permanência das estruturas ou se escolhe a via historicista com acento no protagonismo  dos movimentos sociais. Althusser x Gramsci. 

No modelo althusseriano, há os aparelhos  ideológicos de Estado e a luta em seu interior. No modelo gramsciano, há uma luta pela hegemonia, a direção moral e cultural da classe dirigente e a formação de uma nova cultura nacional-popular. Uma revolução  mediada por essa cultura, que torna possível a criação de uma nova sociedade, não apenas a conquista do poder.

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 O marxismo nunca abandonou o conceito de uma de classes, e determinação econômica, ainda que em última  instância. Torna a luta mais sofisticada com o conceito de hegemonia, mas não abandona o conflito social, a contradição como motor da história. E que tem no proletariado fabril a classe dirigente. Portanto não abandona o paradigma da produção e da luta social entre classes opostas.

Os frankfurtianos criticam o caráter messiânico, teleológico, determinista da história. E fazem opção pela crítica da cultura,  como forma de elucidar o colapso da Revolução nos países mais industrializados. Os marxistas criticam o abandono da luta de classes e da Revolução, substituído pela utopia de uma forma de comunicação isenta de ideologia. Tratados dessa forma como reformistas ou liberais. 

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A ideia de Revolução é  um discurso em disputa entre esses autores, e continuará sendo ainda por muito tempo. E isso, só para ficar entre os frankfurtianos e marxistas. Deixando de fora os pós-modernos,  pós-estruturalistas, neo-anarquistas etc.

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