Calor: culpa do clima ou do agronegócio?

Mais do que a perda da diversidade e a comoção que se vê em telejornais com os pobres animais e árvores ardendo em chamas e sucumbindo ao genocídio do agronegócio, é nosso futuro também que está em jogo. E não é ser pessimista ou catastrófico, mas realista. Novas pandemias, envolvendo doenças desconhecidas, poderão surgir, conforme alertam pesquisadores



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Todos estão reclamando do calorão que assola nosso país. No entanto, poucos sabem que a culpa por trás dessa onda quente, é principalmente das políticas neoliberais e sua “boiada passando”.

Biomas como a Amazônia e o Pantanal, sofrem com queimadas criminosas – comprovadas pelas investigações da Polícia Federal. São queimadas que apresentam uma relação direta com as áreas de desmatamento, e nítida associação com o avanço dos interesses latifundiários do agronegócio (que não é nada pop, mas assassino e tóxico!).

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Mas o tempo seco não colabora para o surgimento das queimadas?”, alguns tentarão argumentar. E a resposta é sim, mas toda a secura foi potencializada justamente pelas queimadas. Ao incendiarem toda a biomassa acumulada, cria-se uma massa de ar quente e seco, que bloqueia a formação de nuvens e impede o avanço de umidade e de frentes frias. Não à toa, a fumaça é carregada seguindo a movimentação natural, das regiões queimadas até o Sul do país, por exemplo.

É na Amazônia que se forma a grande massa de umidade pelo processo de evapotranspiração da floresta – ou do que ainda resta da mesma. Ventos vindo do oceano somam-se a essa umidade e migram em direção ao Sul, permitindo a formação de nuvens e chuvas. Com a perda desse bioma, afeta-se não apenas a perda de diversidade, mas todo o clima.

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Importante salientar também que as florestas exercem outro importante papel no controle da temperatura global – o chamado efeito estufa: ao realizarem o processo de fotossíntese, sequestram o CO2 da atmosfera, incorporando-o sob a forma de glicose para constituir a matéria orgânica, base da teia alimentar. Sem elas, o CO2 fica na atmosfera, aumentando ainda mais a camada estufa – processo acelerado ainda mais com a emissão de mais CO2, fruto da combustão dessa biomassa – associa-se a isso o avanço das pastagens com a criação de gado, teremos também o agravante proporcionado pelo gás metano (CH4), proveniente principalmente da flatulência desses ruminantes.

Ainda que estejamos sob a batuta de um (des)governo anticientífico e negacionista, que exclui de seu bando quem divulga fatos e verdades, as informações são comprovadas pela Ciência. Em 2018, no artigo “Impact on short-lived climate forcers increases projected warming due to deforestation”, publicado pela revista Nature Communications, especialistas alertam para a elevação da temperatura mais altas do que previsões anteriores justamente pela destruição das florestas.

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Em pleno inverno, tivemos na mesma semana em Santa Catarina, temperaturas que beiraram 0oC, com a ocorrência de geada matutina e dias depois, termômetros marcando quase 40oC. Em São Paulo, o tempo seco (com umidade chegando a 10% - enquanto o mínimo para uma saúde equilibrada é de 60%, de acordo com a OMS) bate recordes a cada dia.

Enquanto isso, a boiada da bancada ruralista e do (des)governo Bolsonaro segue passando em plena pandemia – afinal, era esse o objetivo do ministro do Meio Ambiente (sic) Ricardo Salles que, não contente, ainda avança com a destruição de mangues e restingas.

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Mais do que a perda da diversidade e a comoção que se vê em telejornais com os pobres animais e árvores ardendo em chamas e sucumbindo ao genocídio do agronegócio, é nosso futuro também que está em jogo. E não é ser pessimista ou catastrófico, mas realista. Novas pandemias, envolvendo doenças desconhecidas, poderão surgir, conforme alertam pesquisadores.

Como sempre digo, os votos que foram digitados nas urnas – e os que serão – carregam essa culpa e não podem reclamar. Era esperado que todo esse retrocesso, subsidiado pelos interesses do agronegócio, fosse acontecer. Pouquíssimos deram atenção e ignoraram. Hoje sofrem e reclamam das consequências que ajudaram a implantar.

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