Calígula não pôs Incitatus na presidência do Senado
"O Senado tentou usar a morte de Calígula para restaurar a república, mas os militares permaneceram leais ao Império Romano. Claudio sucedeu a Calígula. E Cássio Querea pagou com a vida. Moral da história: Calígula caiu dois anos depois de nomear Incitatus senador. Era maluco, mas jamais pensou em colocá-lo na presidência do Senado", escreve o jornalista Alex Solnik
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Os historiadores Fílon de Alexandria e Sêneca, o Moço, descrevem o imperador Calígula (12 d.C.–41 d.C.) – irmão de Nero e sobrinho de Herodes - como "um demente irascível, assassino frio e calculista, caprichoso, esbanjador e doente sexual".
É impressionante como episódios de um passado muito distante, na História e na Geografia, apresentam elementos que se repetem aos nossos olhos ainda hoje, por algum mistério indecifrável.
Na história a seguir, acontecida há 1978 anos, muito distante daqui, já encontramos a contaminação da política pela religião, polêmica sobre Jerusalém, homofobia, facadas e relações conflituosas com o Senado. E a mistureba não termina bem.
Mas, como já disse alguém, a história não se repete – nem ninguém mergulha duas vezes no mesmo rio.
Seutônio, historiador de geração posterior à de Fílon e Sêneca, afirma que Calígula tinha corpo enorme, pescoço e pernas delgadas, olhos fundos, fronte larga e carrancuda; cabelos raros e alto da testa desguarnecido; corpo cabeludo e o rosto, horrível e repelente, "que procurava tornar cada vez mais feroz, ensaiando diante de um espelho, para inspirar terror e espanto".
Era acusado de dormir (e espalhar que dormia) com as mulheres dos súditos, e também com suas três irmãs, de transformar seu palácio num bordel, de matar por pura diversão, de se considerar um semideus e de querer erigir uma enorme estátua sua no Templo de Jerusalém.
A intenção de profanar o templo – a religião judaica proíbe imagens em seus locais sagrados - foi represália aos protestos de judeus contra a construção de um altar em Alexandria, em razão do que foram acusados pelos gregos de serem infiéis ao imperador. Eles misturavam religião e política naquela época. E está na cara que isso dava problema.
Temendo que a ordem de Calígula desencadeasse uma guerra civil, o governador da Síria, Públio Petrônio, um conciliador, não a cumpriu imediatamente. Mais tarde, o imperador aloprado recuou e a revogou, atendendo a apelos de Agripina, sua mãe. Imperadores também recuam.
Em 39 d.C., as relações entre Calígula e o Senado tornaram-se piores que as atuais entre o presidente Jair Bolsonaro e seu vice Hamilton Mourão.
Acostumados a tomar decisões próprias desde 26 d.C., quando o antecessor de Calígula, Tibério, se retirou para Capri, os senadores foram advertidos que a mamata ia acabar, que daí pra frente tudo seria diferente. Seriam mantidos com rédeas curtas.
Calígula também decidiu investigar, julgar e executar vários senadores por traição. E ainda os humilhou fazendo com que vários deles, em determinada ocasião, corressem atrás do seu carro.
Para desancar o Senado de uma vez por todas e mostrar quem é que mandava no Império Romano, nomeou como senador seu cavalo de corrida favorito, que tinha 18 servos e todas as mordomias dispensadas a nobres, chamado Incitatus.
Calígula descobriu e desativou dois complôs: um de seu cunhado, Marco Emílio Lépido e outro do governador da Germânia, Cneu Cornélio Lêntulo Getúlico, ambos executados.
A 24 de janeiro de 41 d.C., foi cercado pela própria guarda pretoriana, enquanto se dirigia a um grupo de atores que participavam de jogos. Cássio Querea, a quem o imperador chamava de "Vênus", por parecer afeminado desferiu o primeiro golpe.
O Senado tentou usar a morte de Calígula para restaurar a república, mas os militares permaneceram leais ao Império Romano. Claudio sucedeu a Calígula. E Cássio Querea pagou com a vida.
Moral da história: Calígula caiu dois anos depois de nomear Incitatus senador. Era maluco, mas jamais pensou em colocá-lo na presidência do Senado.
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