Caiu a ficha?

Recentes pesquisas do IBOPE e do Vox Populi demonstram que a sociedade brasileira não avaliava de maneira precisa os riscos democráticos do recurso extremo ao impeachment da presidenta Dilma

Recentes pesquisas do IBOPE e do Vox Populi demonstram que a sociedade brasileira não avaliava de maneira precisa os riscos democráticos do recurso extremo ao impeachment da presidenta Dilma
Recentes pesquisas do IBOPE e do Vox Populi demonstram que a sociedade brasileira não avaliava de maneira precisa os riscos democráticos do recurso extremo ao impeachment da presidenta Dilma (Foto: Marcelo Uchoa)


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Recentes pesquisas do IBOPE e do Vox Populi demonstram que a sociedade brasileira não avaliava de maneira precisa os riscos democráticos do recurso extremo ao impeachment da presidenta Dilma. Segundo a enquete realizada pelo IBOPE, entre os dias 14 e 18 de abril, 62% preferem a destituição do governo e o chamamento de novas eleições; 25% optam pela manutenção da presidenta com governo reformulado; 8% preferem o governo do vice Temer; e outros 5% não sabem opinar ou manifestam outras preferências. Por sua vez, em pesquisa efetuada entre os últimos dias 9 e 12, sobre o cenário de disputa presidencial, o Vox Populi registrou que num enfrentamento entre Lula, Marina, Aécio, Bolsonaro e Ciro, os percentuais são 29% para Lula, 18%, 17%, 7% e 5%, sucessivamente. 16% e 7% escolheram branco, nulo ou não souberam responder. Já num cenário direto entre Lula, Marina e Aécio, os resultados foram 31%, 23% e 20%, respectivamente, com 19% e 7% de brancos, nulos e sem resposta.

Confrontadas, as duas pesquisas mostram que há uma margem de confiança no governo da presidenta Dilma mais expressiva do que a observada há alguns meses. Essa margem se manifesta não só na proporção do apoio que a presidenta mantém, comparativamente aos percentuais obtidos por seu vice, como, também, pela incontestável liderança de Lula na próxima corrida presidencial. Vislumbrando ser improvável a ocorrência de eleições antecipadas para o executivo federal no país, é factível deduzir que o apoio à permanência de Dilma no cargo, com nova pactuação política, será sempre sobejamente maior que a opção por um governo Temer.

Isso acontece porque somente agora a sociedade brasileira percebe que um eventual governo do vice representará a vitória da FIESP e demais entidades de defesa patronal sobre os trabalhadores, fatidicamente redundando em severas restrições de direitos laborais. Compreenderá, outrossim, a substituição de um governo avançado em políticas de direitos humanos por um governo movido pelos interesses das representações mais conservadoras da população (as chamadas bancadas da bala, da Bíblia e do agronegócio, com reforço de defensores do regime militar e do que há de mais espúrio na política brasileira), as quais foram fundamentais para a admissão do processo de impeachment da presidenta da República na Câmara dos Deputados. Não bastasse isso, já percebe a sociedade que o tema do crime de responsabilidade da presidenta não passou de mera retórica jurídica, e que o debate em torno do processo de impeachment foi movido por razão adstrita à disputa pelo poder, deixando a corrupção de ser ponto central da pauta nacional, tanto pela omissão consciente da grande mídia, como pela não menos consciente dormência do Judiciário no aprofundamento das investigações da Lava Jato, sobretudo no tocante aos 200 nomes da lista da Odebrecht, na averiguação da presumível desonestidade do próprio vice-presidente Michel Temer e na cassação do mandato parlamentar de Eduardo Cunha, réu no STF por corrupção passiva e lavagem internacional de dinheiro.

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Espantada com os desdobramentos dos fatos políticos no Brasil, a imprensa internacional condena o golpe em curso, e, a cada dia, aprofunda a análise sobre os reais interesses na ocasional troca de governo, não deixando de apontar dentre os motivos a ganância do mercado financeiro de wall street, o desejo norte-americano na eventual exploração do pré-sal brasileiro e o receio dos países do G7 com o recém-conquistado protagonismo brasileiro nas discussões internacionais, em especial, regionais, na América latina, e globais, com o BRICS.

Atônita, a sociedade brasileira vai, aos poucos, assimilando que a democracia de um regime presidencialista não dá espaço para troca de presidentes por simples insatisfação com o curso da gestão, que fragilizar Dilma em seu posto, significa petrificar Temer na presidência. Pena que, para além da militância de esquerda, a ficha começou a cair após o vexatório julgamento presidencial na Câmara dos Deputados, e, mais recentemente, com o esboço do perfil neoliberal ortodoxo de um eventual governo PMDB/PSDB. Menos mal que o Senado ainda terá a chance de desfazer o malfeito proferido pelos pares da Câmara baixa.

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Espera-se que, compreendendo que o pior ainda está por vir, os incautos com a política nacional se apresentem e se somem às manifestações pró-democracia lideradas pelos movimentos sociais de resistência. Mais do que isso, que interiorizem que é um equívoco se deixar levar por apelos demagógicos de uma mídia atrelada a conglomerados financeiros, ou arroubos dissimuladamente moralistas de candidatos a heróis provindos da fidalguia judiciária. A ordem agora é denunciar o golpe na rua.

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