Caiam na real: a droga venceu vocês, caretas, crédulos e cínicos

Se as pessoas não souberem o que querem, será o Estado que saberá? Esse tutelismo do Estado já foi longe demais. Figuras como FHC e Vargas Llosa, dois velhos-jovens já pediram ao mundo a revisão da forma policial estatal com a maconha

Bras�lia - A Marcha da Maconha na capital com passeata do Museu da Rep�blica rumo ao Congresso Nacional, com batucada e cartazes. Em 2011, o evento foi proibido e convertido em Marcha da Pamonha. O Supremo Tribunal Federal se pronunciou pela legalidade da
Bras�lia - A Marcha da Maconha na capital com passeata do Museu da Rep�blica rumo ao Congresso Nacional, com batucada e cartazes. Em 2011, o evento foi proibido e convertido em Marcha da Pamonha. O Supremo Tribunal Federal se pronunciou pela legalidade da (Foto: Jean Menezes de Aguiar)


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Não, este artigo não é uma apologia às drogas. Poderia ser muito mais que isso, noutra leitura, trágica. É uma visão cansada, ou famélica mesmo, de uma política norte americana imposta de 'guerra às drogas' – GAD. Essa crença velha que tanto serviu como fonte de dinheiro e fonte de ideologia para aqueles e estes, cínicos e crédulos. E que também foi obrigatória no Cone Sul como modelo dependente de um Tio Sam idealizador da política no setor.

Este modelo, GAD, não é o único no mundo. A França por exemplo ironiza em certa medida a tal 'guerra'. Realista, sabe que não se vence essa guerrilha social de uso pessoal, esse autoterrorismo psicodélico da personalidade que opta por ficar doidona, ou, desgraçadamente, se vicia e não sabe voltar.

A GAD é o modelo repressivo, policial, da porrada, da tranca, do delegado e das invasões a residências atrás de maconha ou cocaína. Mas ela não cai na real. Ou pior, não pode assumir que faliu, não pode dizer a verdade. Tem que mentir após se descobrir impotente.

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O Estado é dos velhos, idosos, mas o mundo é dos jovens. Este simplismo apenas deveria ajudar a contribuir para a questão. É óbvio que nem todo jovem seja usuário, mas também é óbvio que a simples visão dos velhos do Estado – as 'excelências'- seja essencialmente diferente da dos jovens. Não só nas drogas, mas em muitas coisas.

E aí viria um questionamento de base legitimante: os jovens, sim, todos que pagam impostos, como qualquer pessoa, não são cidadãos e não devem ser 'ouvidos'? Suas ideologias, culturas, modos e jeitos não devem ser respeitados? Ou respeitar é, por exemplo, 'deixar' que eles façam uma passeata por ano na avenida travestidos de mulher?

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Algumas 'pautas' já foram conquistadas. Mas falta uma essência legitimante em se respeitar efetivamente o jovem. Não apenas 'dizer' que respeita. E isso passa pela assunção de políticas que possam ser contrárias a uma caretice ou ortodoxia do Estado e seus velhos – deputados, senadores, presidentes, chefes, 'autoridades' etc.

Na conversa da droga também é óbvio que há drogas e drogas. Um bom senso sempre é buscado e jamais se pode abrir mão dele. Mas não o 'bom senso' que imperou até agora, com a GAD.

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A maconha desmoralizou o sistema. Expôs sua fraqueza autoritária e formalista em proibir, prender e punir o maconheiro como criminoso – sim, 'maconheiro' sim, sem se estigmatizar o termo; quem usa maconha é maconheiro; simples assim, sem punições semânticas ao termo-.

Esta desmoralização também deixou exposto o lado crítico desse mesmo Estado com seus velhos, ou não só velhos, mas, aí sim, caretas, ortodoxos, conservadores e retrógrados.

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E essa desmoralização poderia ser uma grande coisa que a maconha teria feito numa sociologia que investigasse o sistema e sua falsa ortopedia moral. A conclusão é: o Estado não está certo sempre. As políticas do Estado não estão certas sempre. E os homens do Estado não estão certos sempre.

É claro que a desgraça da droga – certas drogas- para a família é inquestionável, a dor e o custo, sob todos os sentidos são sérios demais, para que o Estado queira 'adivinhar' o que pode ser melhor para as pessoas e para as famílias, tudo de uma forma autoritária e legalista.

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Vive-se um momento secular no mundo em que 'escolhas' precisam ser respeitadas. O Uruguai passou a vender maconha semana passada, neste julho/2017, em 14 farmácias para milhares de pessoas credenciadas. É um passo honesto e humilde do Estado à escolha de seu cidadão.

Se as pessoas não souberem o que querem, será o Estado que saberá? Esse tutelismo do Estado já foi longe demais. Figuras como FHC e Vargas Llosa, dois velhos-jovens já pediram ao mundo a revisão da forma policial estatal com a maconha.

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E nem se caia no maniqueísmo de achar que jovem 'pensa' e velho é burro. Nada disso. Velhos têm experiência, conhecimento e janela de vida. Mas parece que em certos temas e em certos lugares há uma velharada burra que foi escolhida. Ou eleita.

Do mesmo modo que o terrorismo venceu, e os mísseis terra-ar, terra-mar, terra-morro, terra-favela ou sabe-se lá que idiotice for, não conseguem vencê-lo, porque o terrorismo é simplesmente assimétrico ou viral, o uso pessoal da droga obedece à mesma lógica. Quem chupa seu cigarro de maconha não pode ser julgado por quem entorna uísque para dentro nos 'salões', vomita no lavabo, passa a mão na mulher dos outros e acorda surpreso atracado com um garotão no dia seguinte.

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Há muitas hipocrisias na sociedade que poderiam ser combatidas suavemente, delicadamente. Com inteligência e gentileza. Mas parece, mesmo, que as sociedades gostam delas.

Certamente não há uma solução cartesiana, exata para o problema das drogas. É como Norberto Bobbio ensina no livro A era dos direitos, relativamente à pena de morte, não se pode matar, apenas isso; esqueçam-se fundamentos e 'lógicas'; não se mate.

Uma coisa se sabe, grande parte do problema das drogas, pelo menos a que diz respeito a milhões de usuários, não deveria ser caso de polícia, algemas, armas e viaturas. Mas de gentileza, compreensão, amizade, tratamento, novos parâmetros, inteligência e genialidade. O problema é enfiar isso aí no Estado.

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