Burguesia tupiniquim se rende ao lulismo social-democrata

A elite está se rendendo porque não conseguiu governar o país depois dos golpes de 2016, que derrubou Dilma Rousseff, e de 2018, que impediu candidatura de Lula

Henrique Meirelles e Lula
Henrique Meirelles e Lula (Foto: Ricardo Stuckert)


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César Fonseca

A elite brasileira está se rendendo a Lula porque não conseguiu governar o país depois dos golpes neoliberais de 2016, que derrubou Dilma Rousseff, e de 2018, que impediu candidatura de Lula, com mão militar, para viabilizar o desastre Bolsonaro, de 2019 até o momento, mas já marcado para morrer, segundo todas as pesquisas de opinião.

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O neoliberalismo demonstrou incapacidade de a burguesia financeira tupiniquim, patrocinadora de ambos atentados à Constituição, de administrar o Brasil, sustentando governabilidade autoritária, ao objetivar esvaziamento econômico do Estado em nome da privatização como solução neoliberal. 

O resultado a olhos vistos está sendo o desequilíbrio macroeconômico entre oferta e demanda produzidas pelas reformas trabalhistas e previdenciária, que destroem, sistematicamente, o poder de compra da população, com aprofundamento dos antagonismos sociais, na medida em que elas aniquilaram direitos políticos, sociais e econômicos garantidos pela Constituição de 1988.

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Essencialmente, as reformas neoliberais(os golpistas ainda insistem em destruir a burocracia estatal a qualquer custo) aprofundaram insuficiência crônica de consumo interno que leva a economia ao subconsumismo e à deflação, que Bolsonaro, num espasmo de ignorância comemora como altissonante sucesso; na verdade, como disse John Maynards Keynes, em Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, e Marx, em O capital, o neoliberalismo desemboca, fatalmente, no desastre da sobreacumulação de capital, de um lado, e a sobreacumulação de pobreza, miséria e desemprego, de outro, que destroem capital e trabalho, simultaneamente.

A sobreacumulação de capital produz o que leva o Brasil, atualmente, ao desastre, desigualdade social, responsável principal por jogar a taxa de lucro no chão que inviabiliza investimentos, para criar o silogismo capitalista: consumo, produção, arrecadação, investimento, monitorado pelo Estado sob modelo de produção burguês. Quem vai investir em máquinas novas para colocar no lugar das que se encontram paradas? 

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Ajuste fiscal desastroso

O enxugamento do Estado, mediante ajuste fiscal imposto pelos ditadores financeiros da bancocracia, instalados em berço de ouro, na Faria Lima, desde o golpe neoliberal de 2016, com programa de governo intitulado “Ponte para o futuro”, sob o golpista Michel Temer, desarticulou o capitalismo produtivo, ao empurrar goela abaixo do Congresso o teto de gastos com duração prevista para 20 anos; congelaram-se, por duas décadas, os gastos não financeiros, que geram renda disponível para o consumo(infraestrutura, educação, saúde, segurança etc), e descongelaram-se gastos financeiros, para pagamento de juros e amortizações da dívida pública.

Com o ajuste fiscal neoliberal valendo apenas para os gastos não financeiros, sem os quais a economia não anda, enquanto toda a poupança da população se destina à bancocracia, o PIB deixou de crescer, satisfatoriamente, desde 2016; para piorar, nesse período, emergiu, em 2019, a pandemia do novo coronavírus, seguida, em 2022, pela guerra na Ucrânia, entre Rússia e Otan, cujas consequências são inflação mundial incontrolável e queda da demanda global, que joga capitalismo, no Ocidente, no precipício.

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Nesse período de ajuste fiscal imposto por teto neoliberal de gasto, a política econômica pilotada por Paulo Guedes, manteve-se inflexível, para favorecer o rentismo; o resultado, Bolsonaro sofre na própria carne: desemprego que está impedindo governabilidade e reeleição, enquanto a candidatura Lula cresce, inexoravelmente, ao prometer restabelecer poder de compra dos salários, reajustados pela inflação mais correção do PIB nos dois anos anteriores; foi essa estratégia que ajudou melhorar distribuição da renda nacional, combateu a miséria absoluta, baniu a fome e fortaleceu a moeda, com acumulação de reservas próximas de R$ 400 bilhões; sem essa estratégia capitalista burguesa, com fortalecimento do poder de compra da população, os trabalhadores, ancorados no Lulopetismo, não teriam ganhado quatro eleições presidenciais consecutivas, até os neoliberais se articularem com militares e capital estrangeiro especulativo, para derrubar a experiência de poder popular petista.

Bolsonaro, quanto mais foi aproximando eleições, a se realizarem em menos de duas semanas, foi rasgando o ajuste fiscal e o teto de gastos, mas viu que lhe sobrou pouco, apenas, uma esmola de R$ 600, para contemplar os eleitores, propensos a ir com Lula. 

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Neolulismo social-democrata à vista

O neolulismo está à vista, novamente, confirmado pelas pesquisas eleitorais, ao longo dos últimos meses, porque representou, na prática, a experiência social democrata no Brasil, cuja origem, na verdade, encontra-se em Getúlio Vargas, na Revolução de 1930, que derrubou a República Velha liberal novecentista, expressão no velho liberalismo inglês, marca registrada da economia política clássica; para esta o capitalismo padece não de insuficiência crônica de consumo, como diagnosticou Marx, em O Capital, mas de insuficiência de investimentos, como destacaram os liberais do século 19; a social democracia nasce na segunda metade do século 19 para evitar a revolução socialista; afinal, para os liberais e neoliberais, o ideal, para o capitalismo, é o salário zero ou negativo, na sua acepção máxima do termo, como destacou o autor de O Capital; o problema é que a lógica ideal para o capital leva a economia ao subconsumismo e à deflação; esta é o erro eterno, como reconheceu Keynes, ao render-se à lógica do aumento dos gastos públicos, mediante oferta monetária estatal, para elevar a demanda efetiva, em face do colapso do laisser faire, que levou ao crash de 1929.

O neoliberalismo, abraçado por Paulo Guedes, é o retorno à República Velha, à destruição do Estado Social, criado por Getúlio, para garantir sociedade consumo, no Brasil, sem a qual não se realizaria jamais industrialização brasileira, desarticulada na gestão Guedes; Lula, herdeiro de Getúlio, levanta, portanto, o discurso da valorização dos salários e da reconquista dos direitos sociais, sem os quais não será possível retomar a industrialização, tocada pela empresas estatais, igualmente, criadas por Getúlio, como a Petrobrás, e às demais, como a Eletrobrás, impulsionada pelos militares, durante a ditadura antineoliberal, especialmente, de 1967 a 1984.

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Retomada do fio da história

A burguesia, que, diante do colapso neoliberal, aceita retomar diálogo com o Lulismo, cai na real; para ela, não será possível alcançar a industrialização, se a política neoliberal de Paulo Guedes, que Lula promete remover, na primeira hora, que chegar ao Planalto, continuar, massacrando os salários, para afastar perigo deflacionário destruidor; este impede os trabalhadores de terem futuro digno, sem aposentadorias, destruídas pelo bolsonarismo. A realpolitik lulista, candidata à previsível vitória, retoma o fio da história e derruba a falta de lógica capitalista produtiva da especulativa Avenida Faria Lima.

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