Brumadinho será fichinha do que virá com devastação da Amazônia
A tragédia de Brumadinho (MG) vai ser fichinha diante da gigantesca hecatombe social, econômica e ambiental que os cientistas e os veículos de comunicação nacionais e internacionais estão prevendo para todo o território nacional e parte da América do Sul caso a Amazônia brasileira continue sendo devastada pelo agronegócio, a mineração e as madeireiras
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A tragédia de Brumadinho (MG) vai ser fichinha diante da gigantesca hecatombe social, econômica e ambiental que os cientistas e os veículos de comunicação nacionais e internacionais estão prevendo para todo o território nacional e parte da América do Sul caso a Amazônia brasileira continue sendo devastada pelo agronegócio, a mineração e as madeireiras e vire nas próximas décadas um grande cerrado ou uma imensa savana africana.
Nos últimos 12 meses, foram muitas as advertências dos especialistas para as graves consequências climatológicas que virão para o Sudoeste e o Sul do Brasil com a retomada, nos últimos quatro anos, dos elevados índices de desmatamentos detectados por satélites nos nove estados da chamada Amazônia Legal, que medem juntos cinco milhões de km², correspondentes a 60% do território brasileiro.
Da mesma forma, os cientistas e a mídia apostam que não vai demorar muitos anos para a Amazônia subir a devastação de sua área total dos atuais 20% para 25%, percentual a partir do qual os especialistas atestam e garantem que o bioma florestal vai começar a se extinguir, transformando-se, de forma irreversível, em mais um cerrado brasileiro. Sem a floresta, a região deixará de gerar suas próprias chuvas e a umidade (também chamada de “rios voadores”) que ela produz para alimentar as chuvas do Sudeste e Sul do Brasil, além dos países vizinhos.
A partir daí, começam as gravíssimas consequências da hecatombe ambiental que se abaterá sobre o Brasil, com aumento da seca no Nordeste e a falta de chuvas e de água para produzir e dar de comer a mais 63% da população brasileira concentrada nas regiões Sudeste e Sul, com extensão da mesma escassez líquida para as populações dos demais países do Cone Sul, como Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.
Essa tragédia ambiental na América do Sul só tende a se agravar e a se antecipar no tempo com a total falta de compromisso do governo de Jair Bolsonaro para com a preservação da grande floresta brasileira, pois sua declarada prioridade na região será impulsionar ainda mais seu agronegócio, passando a produzir também até em terras indígenas (gerando mais desmates ainda), que dificilmente será regulado e fiscalizado pelo seu ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, investigado por crimes ambientais.
Como avant-première de seu total descompromisso florestal, Bolsonaro tratou logo de transferir a gestão dos 118 milhões de hectares (13,8% do território nacional) das terras indígenas do país do Ministério da Justiça para o Ministério da Agricultura, comandando por seus amigos ruralistas, justamente os responsáveis pela maior parte da devastação ocorrida na Amazônia até aqui.
Neste particular, até o Acre de Chico Mendes, hoje governado por um político seguidor de primeira hora de Jair Bolsonaro (Gladson Cameli, do PP), pode ter, nos próximos anos, parte de sua grande floresta transformada em gigantescos plantios de soja.
São inúmeras e constantes as advertências dos cientistas
A advertência internacional mais recente dos riscos que o governo Bolsonaro representa para a Amazônia se deu no dia 24 deste mês de janeiro, quando a revista científica norte-americana Science, em editorial assinado pelo pesquisador brasileiro Paulo Artaxo, professor de física ambiental da USP e um dos maiores especialistas em Amazônia e em mudanças climáticas do país, destacou a importância da grande floresta como reguladora do clima na América do Sul. Segundo o professor, o combate ao desmatamento amazônico no período de 2005 a 2012, que fez a taxa cair de 27.772 km² para 4.571 km² por ano, transformou o país em um líder global na mitigação das mudanças climáticas.
Para Artaxo, em vez de atuar contra a devastação da floresta, o governo Bolsonaro deve impulsioná-la. “Em vez de abordar as crises do Brasil com renovado compromisso com a ciência e soluções sustentáveis, o governo Bolsonaro está favorecendo os interesses da agroindústria e da mineração que intensificam essas atividades na Amazônia”, assinala o pesquisador, ao lembrar que nos últimos quatro anos, o desmatamento amazônico voltou a subir, chegando a oito mil km² no ano passado.
Segundo o professor da USP, a política ambiental precisa ser baseada em conhecimento científico. “A Amazônia é o exemplo mais claro dessa necessidade. Desenvolvimento sem fundamentação causa muito mais devastação do que ganhos econômicos. Pode ser um tiro no pé, no sentido de destruir o meio ambiente sem o retorno econômico que se imaginava que poderia ter”, ensinou o pesquisador.
Em entrevista publicada na segunda semana de janeiro pela revista da National Geographic, o cientista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, cientista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espacial (Inpe) e um dos autores do relatório global do Painel Intergovernamental em Mudanças Climáticas, também foi taxativo ao dizer que a Amazônia caminha a passos largos para deixar de ser a maior cobertura florestal do mundo e se transformar em bioma semelhante ao do cerrado brasileiro.
Já prevendo esses imensos impactos em seus estudos pioneiros de 1991, Carlos Nobre disse à revista que os sinais que preocupam os cientistas são a morte de espécies de árvores amazônicas e o aumento da duração da estação seca na região. “E a savana virá de forma irreversível, porque será o bioma em equilíbrio para o novo clima. Ao diminuir as chuvas locais, reduzirá também a vazão dos rios”, advertiu Nobre.
Em sete de janeiro deste ano, foi a vez da rede de televisão norte-americana CNN de também destacar a grande preocupação dos ambientalistas em relação aos destinos da Amazônia durante os quatro anos do governo Bolsonaro.
Por último, no início de abril do ano passado, especialistas sul-americanos em questão de água se reuniram para discutir, no âmbito do Mercosul, a necessária proteção dos “rios voadores”, originários da umidade de transposição da Amazônia e considerados essenciais para alimentar chuvas no Sudeste e no Sul do Brasil e na maioria dos países sul-americanos.
Presente na reunião em Montevidéo, Uruguai, o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, alertou que “o Brasil e os demais países do Mercosul têm um dever de casa para fazer”, que é proteger seu maior ecossistema hídrico, fenômeno natural conhecido como rios voadores, que cria e leva as chuvas continente adentro, garantindo as vidas das espécies vivas, dos seres humanos, das cidades, da agricultura e das atividades industriais. Segundo Bocuhy, sem a proteção das áreas que alimentam e mantém essa transposição de umidade e chuvas, não haverá sustentabilidade para a América do Sul.
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