Brasileiro questiona Bolsonaro ao rejeitar preferência pelos EUA

"Pesquisa do Data Folha mostra que preferência pró-americana de Bolsonaro afronta a vontade popular", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "A marca de 66% marca uma maioria acachapante, superior a candidatos e partidos políticos". Para PML, "o ponto importante é que essa visão também é partilhada por bons estudiosos de relações internacionais, mesmo nos Estados Unidos". 

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Ponto essencial do projeto de governo de Jair Bolsonaro, a idéia de que o Brasil só tem a ganhar com uma postura de submissão aos Estados Unidos, numa convivência  sem os conflitos e diferenças que marcam todo esforço de um país para afirmar a própria soberania, já seduziu  vários círculos do conservadorismo brasileiro, partidários da máxima cunhada por um embaixador do regime de 64 ("o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil").

Em artigo que se tornou caso de estudo pelos disparates reunidos, o futuro ministro de Relações Exteriores, Ernesto Aragão, fala em "Deus de Trump" e define o presidente dos EUA como esperança de salvação dos valores ocidentais ameaçados  numa época"sem heróis" e "sem alma". Há um mês, o primeiro filho Eduardo Bolsonaro insultou os brasileiros ao colocar na cabeça um bonezinho da campanha Trump 2020.

Graças a uma pesquisa do Data Folha, é obrigatório reconhecer que essa preferência pró-americana pode fazer sucesso no círculo de Bolsonaro e seus aliados -- mas afronta a vontade popular.  

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Conforme o levantamento, que ouviu 2077 pessoas em 130 municípios, 66% rejeitam a prioridade assegurada pelo novo governo às relações com os Estados Unidos. (Folha, 27/12/2018). Estamos falando de uma maioria acachapante, acima das preferências de voto e opções partidárias. Um caso raro em que se pode apontar para aquela força política que se costuma confundir com a própria ideia de nação. São 66% contra um ponto crucial do governo Bolsonaro. Expressivo,  não? 

O ponto importante é que essa visão de um país com interesses e prioridades diferentes e mesmo conflitantes daquelas definidos por Donald Trump não se limita aos arquitetos da diplomacia brasileira de anos Lula-Dilma, na qual o Brasil procurou um lugar próprio na região e em escala internacional. É partilhada por bons estudiosos de relações internacionais  -- mesmo nos Estados Unidos.  

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Dias depois da eleição de Jair Bolsonaro, o professor Harold Trinkunas, pesquisador no Instituto Brookings, em Washington, fez uma análise fria da orientação diplomática do presidente eleito. Indo além de qualquer debate ideológico, Trinkunas lembrou um caso exemplar ocorrido na América Latina, quando a Argentina experimentou um tipo de aproximação jamais vista com Washington.   

Após uma década de "relações carnais" entre a Casa Branca e a Casa Rosada de Carlos Menén, o país vizinho foi entregue a própria sorte em 2001, quando Washington assistiu de camarote a deposição de Fernando de La Rua produzido por uma reação popular contra um programa econômico que passou a  poupança do povo argentino no moedor de carne.  

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Lembrando um comportamento semelhante do governo dos EUA quando o regime militar brasileiro entrou em parafuso, a partir na década de 1980, Trinkunas  advertiu:  "o Brasil pode ser o quinto  maior país do mundo, mas a América do Sul jamais se estabeleceu num ponto alto da agenda de Washington".

Falando de generais-ditadores que não perdiam uma oportunidade de fazer brindes aos EUA, o professor lembrou os "momentos críticos" nos quais as autoridades brasileiras miravam para a Casa Branca em busca de ajuda e nada receberam.

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Em 1 de janeiro de 2019, a posse de Bolsonaro ocorre num momento em que o presidente norte-americano encontra-se no contrapé, procurando ajustar a bússola para tentar o segundo mandato.

Enfrenta a ressaca da derrota nas eleições para a Câmara de Deputados, onde os republicanos perderam a maioria, e enfrentam vários sinais de fraqueza, inclusive na economia, na qual uma política de reajuste de juros ameaça jogar o país e o planeta num despenhadeiro de grandes incertezas. Mesmo na política de segurança, referência da propaganda de Bolsonaro, há mudanças na direção contrária, de revisão dos programas federais de encarceramento em massa. 

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No plano internacional, a decisão de retirar tropas da Síria consumou a saída de Jim Mattis, secretário da Defesa que nunca reclamou de ser chamado de "Cachorro Louco", numa homenagem a própria ferocidade. Meses atrás, Rex Tillerson, Secretario de Estado que estimulava generais sul-americanos a invadir a Venezuela, também foi embora. 

Como ensinou Harold Trinkunas, Washington precisa cuidar de sua própria agenda imperial -- e o Brasil não faz parte dela.

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