Brasil, uma década perdida sem Sócrates
"Sócrates, de certa forma, foi poupado de ver o Brasil desabar em 10 anos, diz o advogado Arnóbio Rocha
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Por Arnóbio Rocha
Ontem escrevi sobre os dez anos da partida do Dr. Sócrates (aqui->Sócrates, Dez Anos depois!), e bateu um misto de melancolia e tristeza, sobre o que aconteceu nessa década. Invariavelmente penso nas duas possibilidades opostas sobre ele: “E, se ele não tivesse morrido…”. ou “ele partiu e não viu o buraco em que estamos”.
Vejamos, Sócrates partiu em dezembro de 2011, ainda na fase inicial das “primaveras by CIA”, dos golpes ultraliberais que varreram a “Democracia e a Política”. A primavera árabe, Egito, depois os indignados da Espanha, Itália, os “occupies” da Inglaterra, EUA. Depois a Praça Maiden e finalmente as famigeradas jornadas de junho de 2013 no Brasil.
O Doutor, que amava a Democracia, lutou pelas diretas, viu o despertar de um novo país, antes acostumado a perder, o Brasil da fome e miséria, parecia superar seu funesto destino. Ele se foi com essa boa sensação, não que estivesse tudo bem, mas o pior já tinha passado, amadureciam novas condições sociais e de vida.
A década de 2010, no entanto, foi jogando o país ladeira abaixo, todo o acumulado de experiência democrática e participação, do pós constituição de 1988, os avanços institucionais, as conquistas trabalhistas, sociais e civilizatórias, e o boom econômico do anos Lula, foram dizimados de forma inacreditável, com uma rapidez espantosa, nessa década.
Das jornadas de junho até a vitória de Bolsonaro, o ápice da revolução anticivilizatória, foram cinco anos, apenas um momento de resistência, a reeleição de Dilma, logo deposta num golpe azeitado pelo Capital, sua mídia e seu judiciário, uma máquina destruidora e contra a soberania montada em Curitiba, pela Lava Jato, derrotou a Economia e a Política, arrasou o Brasil..
As consequência serão sentidas por décadas, pelas perdas com o fim da CLT, com a queda das conquistas na Constituição Federal, mutilada, com o fim dos conselhos participativos, com a militarização da administração pública e as nomeações de, por enquanto, dois ministros obscuros, Kássio com K e agora, o terrivelmente evangélico, André Mendonça, serão décadas de obscurantismo no STF, no STJ, TST…
Sócrates, de certa forma, foi poupado de ver o Brasil desabar em 10 anos, das incertezas quanto às mudanças, num cenário de um país devastado. Lula, 20 anos mais velho, volta a ser a única esperança civilizatória para enfrentar os gêmeos siameses, Bolsonaro e Moro, impossível separá-las, essas duas figuras nefastas que tanto mal fizeram ao Brasil.
Os que aqui permanecem, numa teimosia sem fim, vivendo de um fio de esperança, de que nosso povo acorde desse pesadelo e volte a lutar, para reerguer a democracia e dá um basta nessa jornada de destruição.
Dr. Sócrates, o companheiro é um exemplo para nós.
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