Brasil tratará exploração da morte de Campos como tratou derrota da Seleção
Erram de novo os que subestimam o povo brasileiro; torceram para que a derrota dolorosa da Seleção fosse debitada à presidente da República assim como torcem para que aumentem os votos no candidato – ou candidata – que substituir Campos
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Mal havia sido anunciada a morte trágica e dolorosa de Eduardo Campos e já começava uma asquerosa exploração política da tragédia, em um crescendo da mais pura falta de vergonha, de hipocrisia, de teorias conspiratórias absurdas e baseadas em absolutamente nada.
No Twitter, mensagem de um autoproclamado “pastor” já mostrava o nível de falta de noção, de brutalidade, de oportunismo, de hipocrisia que conspurcaria um momento em que a democracia brasileira estava sofrendo forte abalo, com a morte de um homem que estava exercendo um papel que precisa ser exercido, de oferecer ao país uma proposta alternativa.
Teorias conspiratórias com finalidade política se espalharam. Nas redes sociais, militantes de partidos políticos tentaram vincular o número eleitoral do PT (13) à data da morte de Campos. No portal de um grande jornal, “notícia” de que a morte do candidato do PSB teria gerado “Pânico no mercado financeiro”.
Passadas cerca de cinco horas da divulgação da tragédia, começa a tomar forma uma postura que se tornaria chocante. O portal do jornal O Globo noticia que Antonio Campos, irmão de Eduardo Campos, dera entrevista na qual pregara que Marina Silva substitua Campos como candidata do PSB a presidente.
Mas seria à noite, já nos primeiros minutos do Jornal Nacional, que o mesmo Antonio Campos daria uma declaração chocante. Ao falar sobre a morte do irmão, fez uma declaração que pode até ser vista como produto de desorientação, mas que, associada à declaração anterior, deu impressão de cálculo político.
Fica difícil não perguntar por que a morte de Campos deveria gerar uma “reflexão sobre os destinos do país”. Sim, o candidato pelo PSB morreu lutando por seus interesses políticos, o que é absolutamente legítimo. Porém, a fala de seu irmão permitiria até inferir que ele foi vitimado por algum adversário, quando foi vítima de uma fatalidade da qual adversário nenhum tem culpa.
A morte de Campos tem o poder de nos fazer refletir sobre a frágil e efêmera condição humana, mas de forma alguma tem o condão de gerar reflexões sobre o destino do Brasil, sobretudo sobre como o Brasil votará, pois uma fatalidade influir na decisão eleitoral deste povo equivaleria ao povo decidir em quem votará para presidente por conta da derrota da Seleção na Copa de 2014.
Mais adiante, no mesmo Jornal Nacional, a previsível tentativa da Globo de extrair lucro político da morte de Campos. Ao reproduzir as falas dos candidatos a presidente sobre a tragédia, o telejornal escolheu manifestação condoída e emocionada de Aécio Neves e um momento menos emocionado da manifestação de Dilma.
Dilma disse o mesmo que Aécio e emocionou-se tanto quanto ele – ao menos aparentemente – apareceu emocionado ao falar para as câmeras do Jornal Nacional, mas a emoção de Dilma não convinha à Globo.
Erram de novo os que subestimam o povo brasileiro. Torceram para que a derrota dolorosa da Seleção fosse debitada à presidente da República assim como torcem para que aumentem os votos no candidato – ou candidata – que substituir Campos. Vão quebrar a cara. De novo.
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