Brasil, ontem o país do futebol, hoje o país da intolerância

Pelo visto, Temer, que antes ignorara solenemente as críticas de toda a imprensa ao seu Ministro da Justiça, está se lixando para o que pensem da sua atitude. Talvez porque a mesma grande imprensa que antes o criticava agora o elogia

Moraes Temer
Moraes Temer (Foto: Ribamar Fonseca)


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O Brasil, que até pouco tempo era o país do samba e do futebol, agora é o país do ódio e da intolerância. Depois das eleições presidenciais de 2014 o país mergulhou nas trevas da intolerância e do ódio, conduzido por um consórcio de forças da direita que, conjugando interesses de grupos nacionais e internacionais, se apoderou da Presidência da República para executar a agenda neoliberal elaborada pelo ex-presidente entreguista Fernando Henrique Cardoso. Derrotados em quatro eleições consecutivas, os tucanos, convencidos de que não conseguiriam ocupar o Palácio do Planalto através do voto popular, desistiram da democracia para conquistarem o poder mediante um golpe, agregando nessa empreitada a classe política, a mídia e o Judiciário. E derrubaram a presidenta Dilma Rousseff através de um impeachment, aprovado pelo Congresso e abençoado pelo Supremo Tribunal Federal, para dar a aparência de legalidade, mas não conseguiram enganar nem quem olha o Brasil de longe, do exterior.

O processo teve início logo após a divulgação do resultado das eleições presidenciais de 2014, quando o candidato derrotado Aécio Neves, inconformado, viu desmoronar o projeto de poder das forças reacionárias que representa e escancarou a conspiração que já se desenvolvia nos subterrâneos da política, tendo como peça importante o então vice-presidente Michel Temer. Gozando da confiança de Dilma o vice, que também era presidente nacional do PMDB, chegou a ser designado por ela articulador político do seu governo e aproveitou a oportunidade para articular sua própria ascensão ao poder. E os peemedebistas que ocupavam alguns ministérios, como Eliseu Padilha, Edson Lobão e outros, se engajaram sorrateiramente na conspiração, permanecendo nos cargos até a véspera da votação do impeachment, quando se exoneraram. Além do ódio, da inveja, do egoísmo e do orgulho, a ingratidão é um dos piores defeitos do ser humano.

A mídia, em especial a Globo, que já fazia oposição sistemática aos governos petistas porque não foi premiada com o mesmo fluxo de dinheiro generosamente canalizado antes pelo governo tucano de FHC, realizou a sua tarefa, fazendo a cabeça de expressiva parcela da população contra o petismo, disseminando o ódio contra todos os filiados ao partido e seus aliados. O Judiciário, por sua vez, também fez a sua parte, através do Supremo Tribunal Federal, que se omitia diante de questões vitais para impedir o impeachment ou decidia contra o governo. Procrastinou no afastamento do deputado Eduardo Cunha da presidência da Câmara Federal até depois que ele cumpriu a sua tarefa no projeto de assalto ao poder, admitindo o pedido de impeachment e comandando a sua aprovação. Depois atropelou a Constituição, para prejudicar a tentativa de Dilma de melhorar o seu governo, anulando a nomeação de Lula para a Casa Civil, um ato da exclusiva competência da Presidência da República. E ainda acusou a Presidenta de, com a nomeação, tentar obstruir a Justiça, dando foro privilegiado ao ex-presidente, que era investigado pela Lava-Jato, como se o STF não fosse a justiça.

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A Operação Lava-Jato também teve importante participação nesse processo, que tinha como objetivo não apenas conquistar o poder, mas também impedir Lula de voltar à Presidência da República. E deflagrou-se uma covarde perseguição ao ex-presidente operário, com os investigadores desenvolvendo esforços para encontrar algo que possa incriminar o líder petista. Chegaram a acusá-lo, em meio a um espetáculo midiático montado em Curitiba, de "comandante supremo" da organização criminosa que saqueou a Petrobrás, o que, apesar do empenho da TV Globo para dar credibilidade à encenação, acabou caindo no ridículo e no vazio, porque não havia sequer um fiapo de prova que pudesse sustentar a acusação. O juiz Sergio Moro, no comando da Lava-Jato, deu e continua dando uma grande contribuição para eliminar Lula da vida pública, inclusive estimulando o ódio, que ganhou as redes sociais e passou a correr nas veias da internet, divulgando grampos ilegais que acirraram os ânimos. E tudo sob a aprovação silenciosa da mais alta Corte de Justiça do país.

A morte da dona Marisa Letícia, a primeira vítima desse processo, não foi suficiente para aplacar a ira dos midiotas que, não satisfeitos com as covardes e desumanas agressões à ex-primeira dama, passaram agora a atacar o ex-presidente Lula. A crueldade e o cinismo dessa gente ultrapassa todos os limites. O senador Ronaldo Caiado, por exemplo, ao invés de se solidarizar com a dor de Lula, o acusa de ter envolvido dona Marisa "nesse mar de delitos" e de ter "semeado na pátria a desordem e a infelicidade". Dá asco ver um sujeito com mandato de senador falar semelhantes inverdades, embora esteja desempenhando o papel que lhe cabe nesse processo. Que mar de delitos? Como não tem nenhuma base para acusa-lo de corrupção, fala em "delitos". E que desordem e infelicidade? Muito pelo contrário, Lula promoveu a felicidade de milhões de brasileiros que estavam excluídos, retirando-os da linha de pobreza. E que Temer está excluindo novamente, sem nenhuma manifestação do senador Caiado, que lembra muito aquela frase de Jesus, segundo a qual algumas pessoas são como túmulos, caiados por fora e podres por dentro. A atriz Luana Piovani também perdeu uma excelente oportunidade de ficar calada, talvez porque o que lhe sobra de beleza falta-lhe no cérebro. Uma bela midiota.

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Enquanto eles procuram qualquer motivo para atacar Lula, fortalecendo-o ao invés de enfraquecê-lo, o presidente postiço Michel Temer vai destroçando o país, seguindo rigorosamente a agenda dos tucanos. Por isso FHC, o autor dessa agenda, o elogiou em artigo publicado no domingo, sob o título de "Ainda há razões para sonhar", onde chega ao cinismo de dizer que tudo está melhorando, inclusive a Petrobrás está "se reconstituindo". Ele certamente quis dizer que a Petrobrás está sendo vendida. Provavelmente somente ele tem razões para sonhar, porque o brasileiro só tem motivos para pesadelos. E para completar a nova imagem da República de Bananas, Temer oficializou a indicação do ministro tucano Alexandre de Moraes para o STF, o mesmo que, segundo o senador Renan Calheiros, é "boquirroto" e "dá bom dia a cavalo". Pelo visto, Temer, que antes ignorara solenemente as críticas de toda a imprensa ao seu Ministro da Justiça, está se lixando para o que pensem da sua atitude. Talvez porque a mesma grande imprensa que antes o criticava agora o elogia. Diante dessa surpreendente indicação, que parece ter recebido a bênção do ministro Gilmar Mendes, os tucanos se mostram os donos absolutos do governo. Ou os laços entre Alexandre e Temer são mais estreitos do que inicialmente se pensava. Ou, então, a intenção é mesmo debilitar a Lava-Jato e esculhambar de vez o país.

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