Brasil e EUA: de aliados a concorrentes

Em encontro com Biden, Lula quer projetar-se não como aliado, mas como competidor que disputa a liderança não só na América Latina, mas também no mundo

Lula e Joe Biden
Lula e Joe Biden (Foto: Ricardo Stuckert | REUTERS/Tom Brenner)


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Durante a ditadura militar no Brasil, surgiu a afirmação, atribuída a Richard Nixon, de que "para onde vai o Brasil, vai a América Latina". Uma afirmação muito conveniente para os EUA, pelo rumo que o Brasil tomava, pelas mãos dos militares.

Após o processo de redemocratização, o Brasil, junto a outros países latino-americanos, adotou políticas antineoliberais, contrárias às políticas implementadas nos EUA e por ele recomendadas aos países do continente. Seis dos países mais importantes do continente seguiram esse caminho.

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Os EUA mantiveram alguns aliados históricos. Dentre eles, destacaram-se especialmente México, Colômbia e Chile, países marcados por políticas neoliberais.

Pela primeira vez, os EUA tiveram que conviver com um bloco de países com política econômica e internacional própria. Eles não firmaram mais Acordos de Livre Comércio com os EUA, mas se abriram para alianças com países do Sul Global, especialmente Ásia e África.

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O Brasil já se destacava, sob a liderança de Lula, como líder daquele bloco. Seu encontro com George W. Bush, que convidou o Brasil a entrar na guerra contra o Iraque, foi um marco decisivo na nova era das relações dos Estados Unidos com a América Latina. Lula respondeu que a guerra dele era diferente: era a guerra contra a fome. Ele não aceitou entrar na guerra contra o Iraque, não só porque era contra as guerras, mas também porque não aceitava a acusação de que o Iraque tinha armas de destruição em massa - o que se revelou verdadeiro.

Os EUA e a América Latina – ou um bloco de países latino-americanos – se inserem de formas distintas na geopolítica mundial. Os presidentes norte-americanos têm vindo consideravelmente menos aos países do continente, assim como os governantes latino-americanos têm ido menos aos EUA e mais à China e outros países asiáticos e africanos, aos países do Sul Global.

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Este está sendo o século em que houve mais divergências entre os EUA e a América Latina. É nesse quadro que Lula e Biden se encontram esta semana. Os presidentes norte-americano e brasileiro têm, sobretudo, em comum a luta contra a ultradireita dos dois países, ou seja, Trump e Bolsonaro.

Por isso o tema da democracia é o primeiro da pauta do encontro entre os dois. Intimamente ligada a esse tema estará, por preferência de Lula, a luta pela paz no mundo. Certamente Lula desenvolverá seu discurso de que o mundo está sem direção política e moral, que questões como proteção ambiental, paz, entre outras, não têm ninguém que assuma suas responsabilidades para resolver a crise geral do mundo no século. Actual. Uma das propostas de Lula é a construção de um Grupo de Paz, no qual, significativamente, Lula não inclui os EUA, mas China, Índia, Brasil, Paquistão e Turquia.

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Biden precisa aparecer como um líder próximo a Lula num momento em que, internamente, seu governo apresenta uma tendência de queda de apoio entre os norte-americanos, os republicanos são os favoritos para as eleições presidenciais de 2024 e os democratas nem sabem quem será seu candidato. Nisso o fantasma de Trump não está mais no auge, mas sua campanha eleitoral praticamente começou.

Lula se encontrará também, significativamente com Bernie Sanders e com Alexandria Ocaso-Cortez, representantes mais importantes da esquerda do Partido Democrata, assim como com sindicalistas.

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Lula, por sua vez, quer, com este encontro, projetar-se não como um aliado, mas como um competidor que disputa a liderança não só na América Latina, mas também no Sul Global e, de certa forma, no mundo.

Por coincidência, Lula se encontrará, alguns dias depois, com Xi Jinping, o superpoderoso presidente da China, enquanto os EUA vivem o pior momento das relações com a China, a ponto de o secretário de Estado norte-americano ter suspendido sua viagem a Pequim.

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