Brasil cada vez mais longe da normalidade

"Normalidade deveria ser um país que elege seus governantes pelo voto democrático de todos, sem manipulação midiática, sem falsificação jurídica, sem repressão, sem candidatos fabricados por mamadeiras de piroca", argumenta o sociólogo Emir Sader

Organização internacional critica gestão de Jair Bolsonaro
Organização internacional critica gestão de Jair Bolsonaro (Foto: Agência Brasil)


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O que quer que ele considere normalidade, o que quer que signifique normalidade no Brasil, estamos cada vez mais longe da normalidade.

Normalidade deveria ser um país que elege seus governantes pelo voto democrático de todos, sem manipulação midiática, sem falsificação jurídica, sem repressão, sem candidatos fabricados por mamadeiras de piroca.

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Normalidade deveria ser um país em que todos tivessem emprego, com carteira de trabalho, com sindicato, com aumentos de salário pelo menos ao nível da inflação.

Normalidade seria que todos pudessem comer três vezes ao dia, dar de comer à sua família.

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Normalidade deveria ser que todos pudessem emitir suas opiniões, que todos pudessem ouvir as opiniões de todos os outros, que rádios, TVs, internet, pudessem ser espaços de acesso para todos.

Normalidade deveria ser que todos, de todas as religiões, de todas as etnias, de todas as ideologias, de todas as idades, de todos os lugares do país, tivessem os mesmos direitos e os mesmos deveres.

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Normalidade deveria ser que todos tivessem sido vacinados, com a primeira e a segunda dose, uma vez que o país tem condições de produzir vacinas e de vacinar a todos.

Normalidade deveria ser que ninguém, que não fosse policiais ou militares, tivessem acesso a armas.

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Normalidade deveria ser que se os policiais cometem crimes, não são julgados por eles mesmo, menos ainda que tenham poder para bloquear a informação sobre seus crimes durante muitos anos.

Normalidade seria que o Judiciário cuidasse das leis, que ninguém fosse condenado por crimes que não cometeu, menos ainda ser preso e impedido de se candidatar e ser eleito presidente do Brasil, sem prova nenhuma contra ele.

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Normalidade seria que o povo se orgulhasse do seu país, dos seus governos, dos seus governantes, dos seus congressos, dos seus juízes.

Normalidade seria que o povo tivesse educação pública de qualidade para todos, com professores com boa formação, com escolas em boas condições. 

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Normalidade seria que o povo tivesse saúde pública de boa qualidade para todos, o tempo todo, em todos os lugares do país. 

Normalidade seria que os remédios que as pessoas precisam sejam produzidos por empresas públicas, entregues gratuitamente no SUS e subsidiadas para os que comprem.

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Normalidade seria que os livros fossem publicados e vendidos com subsídios, com coleções populares e preços baixos.

Normalidade seria que todos fossem protegidos da violência, tanto de outras pessoas, quanto da própria polícia.

Normalidade seria que o ódio fosse condenado e proscrito como forma de relação e de discurso na sociedade. 

Normalidade seria que todos tivessem suas casas para viver com suas famílias.

Normalidade seria que todos pudessem ter acesso à cultura e todo tipo de lazer. 

Normalidade seria que as publicidades dirigidas às crianças fossem proibidas nos horários em que elas mais assistem televisão.

Normalidade seria que os meios de comunicação fossem de propriedade social, democratizados e com acesso de todos.

Normalidade seria que os governantes dessem regularmente entrevistas coletivas para todos os meios de comunicação.

Normalidade seria que existisse um número limitado de partidos políticos, cada um com um programa diferente dos outros.

Normalidade seria que todos fossem alfabetizados, que todos tivessem livros e jornais para ler, que soubessem escrever e fossem incentivados a escrever.

Por não dispor de tudo isso, o Brasil está muito longe da normalidade, cada vez mais longe da normalidade. Tudo isso que o Brasil só poderá dispor quando tiver recuperado a democracia e eleito seus governantes pelo seu voto livre.

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