Braços abertos, balas de borracha

Duas abordagens se enfrentam na guerra ao crack: o acolhimento versus a repressão



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Difícil acreditar que tenha sido coincidência. Logo depois de a Prefeitura de São Paulo lançar a Operação Braços Abertos, que acolhe dependentes químicos da região da Cracolândia e oferece um auxílio de R$ 15 por dia aos que se dispuserem a ajudar em serviços de manutenção da cidade, limpando ruas e praças, a Polícia Civil, do governo estadual, deflagrou uma dura ação repressiva na última quinta-feira no local, com bombas de efeito moral e, segundo relatos de testemunhas, balas de borracha. Num intervalo de poucas horas, duas abordagens distintas para o mesmo problema estiveram em choque. De um lado, o acolhimento e o voto de confiança a uma população marginalizada. De outro, o cassetete.

Para o prefeito Fernando Haddad, a ação da polícia de Geraldo Alckmin, além de “lamentável”, colocaria em risco a continuidade da Operação Braços Abertos. Porta-vozes da linha-dura comparam o programa petista a uma espécie de “Bolsa-Crack” – como se fosse impossível apostar na recuperação dos dependentes – e afirmam que cabe à polícia combater o tráfico.

Haddad enxergava na Cracolândia a oportunidade de construir uma das principais marcas de sua gestão. Antes de lançar essa operação, viciados em crack foram recebidos, pela primeira vez, na própria prefeitura. Expuseram seus sentimentos, seus anseios e a sensação de que, no fundo do poço, não teriam mais qualquer possibilidade de retorno. Assim, nasceu a ideia de oferecer a eles uma oportunidade de trabalho, a despeito de todas as suas limitações. Ainda que seja uma operação sem nenhuma garantia de sucesso, a repercussão foi positiva e os primeiros relatos dos dependentes indicavam que o diálogo, sim, pode dar certo.

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No entanto, para muitos indivíduos que chegaram ao fim da linha, não há diferenciação entre governo estadual e municipal – ambos são apenas a mesma face do Estado. Como reagirão os dependentes diante de um poder que, com uma mão, oferece uma nova chance e, com a outra, dispara balas de borracha? Para lideranças petistas, como o provável futuro ministro da Saúde, Arthur Chioro, as formas de encarar a questão das drogas são, hoje, a principal diferença entre PT e PSDB. Diz ele que, enquanto petistas pregam “solidariedade e respeito”, tucanos defendem “o projeto da segregação e da indiferença”.

Até agora, Fernando Haddad manteve um diálogo próximo e construtivo com o governador Geraldo Alckmin – talvez mais próximo até do que com o próprio PT. Num ano em que o afastamento será inevitável, uma vez que o PT aposta todas as suas fichas na candidatura de Alexandre Padilha, a Cracolândia oferece todos os motivos para que o rompimento ocorra.  

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