Boulos e PSOL souberam construir candidatura a deputado. Lula, Haddad e esquerda têm de celebrar decisão
"Maneira como Boulos construiu sua desistência da disputa ao governo engrandece a aliança com o PT", escreve o jornalista Luís Costa Pinto
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Por Luís Costa Pinto
A confirmação da candidatura a deputado federal do professor e um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos (PSOL), é uma das notícias mais alvissareiras da cena pré-eleitoral no País. Tendo sido candidato a presidente da República em 2018 e marcado aquela campanha esquisita (e assimétrica, posto que o Judiciário influiu no resultado eleitoral ao cassar a candidatura do ex-presidente Lula) e depois de ir ao 2º turno da disputa à Prefeitura de São Paulo em 2020, a expectativa é de uma votação do psolista com uma contabilidade de votos às centenas de milhares.
Graduado em Filosofia, especializado em psicologia clínica e mestre em psiquiatria, filho de médicos infectologistas – a infectologia é um ramo da atividade médica que proporciona raras chances de se lançar um olhar diferenciado para os movimentos da sociedade – e militante do Movimento Estudantil desde seus tempos de estudante na Universidade de São Paulo, Boulos cumpre uma trajetória de formação política clássica e pela esquerda do espectro ideológico. É um dos mais qualificados debatedores brasileiros dentre os grandes quadros contemporâneos da atividade pública. Os posicionamentos públicos que adota são marcados por destemor e sinceridade incomuns. Destemor para expor ideias e sinceridade na hora de explicar os rumos que adotará são qualidades notáveis num político. No Brasil, são escassas. Em Guilherme Boulos, aguçam o diferencial competitivo dele.
Maneira como Boulos construiu sua desistência da disputa ao governo engrandece a aliança com o PT
Juliano Medeiros, presidente do PSOL, e o próprio Boulos, sempre trataram de qualificar as divergências que têm com o Partido dos Trabalhadores e os pontos que esperam ver atendidos pelo ex-presidente Lula na aliança nacional que as duas siglas deverão formar, em apoio à candidatura do petista à Presidência. As federações PT-PCdoB-PV e PSOL-Rede, aliadas ao PSB e a outras legendas que ainda não fecharam seus embarques no projeto de restauração da titularidade do poder nacional à esquerda, padeciam do mal de dar explicações demais à direita. Faziam isso a fim de ampliar o espectro na direção do “centro” político, por mais que tal centro não seja apenas uma miragem, mas, siga capturado pela extrema-direita bolsonarista (que lhe paga taxa de usura). O PSOL de Boulos e Medeiros puxou a corda do cabo-de-guerra pela esquerda, pôs na mesa um rascunho de “Contrato Social” e se preparou para as batalhas que tendem a levar todos para um interessantíssimo desembarque em Brasília a partir de 2023.
Seria impensável vislumbrar um governo Lula, com o afável e eficiente Geraldo Alckmin na vice-presidência, sem uma renovação de geração, de métodos, de agenda, de prioridades e de vozes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. O Brasil não estará de pé se a estrutura corruptora e tóxica como os presidentes da Câmara e do Senado e as lideranças governistas do Congresso exercem seus poderes. A práticas distorcidas, típicas dos hiatos estéreis da História, envenenou até mesmo alguns líderes e determinadas bancadas de partidos que se posicionam na centro-esquerda e na esquerda. É para perfurar esses tumores que apodrecem a prática política que perfis como o de Guilherme Boulos, se tornam essenciais.
Para além dos ganhos indiscutíveis num eventual – e muito provável – 3º governo Lula, o deslocamento de Boulos da disputa ao governo do estado para entrar na briga por um mandato de deputado federal reforça e engrandece o arco de alianças que o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad vem construindo. O coordenador nacional do MTST se reposicionou na cena política paulista sem inviabilizar futuro acréscimo à aliança em torno de Haddad caso o ex-vice-governador Márcio França (PSB) aceite integrar a chapa como candidato ao Senado. Não é certo que França tomará tal decisão, muito menos são favas contadas que, fazendo isso, contribua mais para consolidar a competitividade de Fernando Haddad do que permanecendo na disputa para governador como muro de contenção a hipertrofias das candidaturas de direita e de extrema-direita de Rodrigo Garcia (PSDB) e Tarcísio Freitas (PL). A mesma racionalidade e frieza que levaram Boulos à sua decisão têm de governar o processo decisório de um acordo pragmático entre Haddad e França.
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