Boulos e Erundina podem vencer
"Parte importante dos eleitores tende a definir seu voto por aquilo que é mais necessário, importante e urgente. Nada é mais necessário, importante e urgente para a maioria da população, neste momento, do que a Saúde", avalia o professor da Escola de Sociologia e Política Aldo Fornazieri sobre as eleições na capital paulista
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Guilherme Boulos e Luiza Erundina podem vencer as eleições para a prefeitura de São Paulo. Mas a vitória não cairá dos céus e nem será trazida pelas mãos da Deusa Fortuna, embora ela tenha simpatias pela chapa do PSOL. Será preciso que a chapa e o partido tenham a virtùda competência, da astúcia e da coragem para que o triunfo se concretize.
As esquerdas, de modo geral, não foram bem nas eleições, mas será preciso esperar o segundo turno para uma avaliação mais conclusiva. O PSOL foi o que melhor se saiu. Projetou poder e liderança, principalmente em São Paulo, com Boulos. Fez boas bancadas de vereadores em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, entre outros lugares. Projetou e fortaleceu nomes como o do professor Elson em Florianópolis e o de Áurea Carolina em Belo Horizonte. Tarcísio Motta foi o vereador mais votado do Rio de Janeiro e professora, negra, Karen Santos foi a mais votada em Porto Alegre. Edmilson Rodrigues pode vencer em Belém. Varias outras lideranças jovens e ativistas sociais também foram candidatas, sem conseguir se eleger. Em suma, o PSOL produziu capitais políticos que precisam ser conservados, cultivados e potencializados. O grande desafio do partido agora consiste em deixar de ter uma vocação apenas parlamentar para tornar-se um partido de maiorias sociais, um partido nacional-popular.
Voltando a São Paulo, as indicações conjunturais que fiz no início da campanha, quando Russomano liderava em todas as pesquisas, se confirmaram. Quais foram: Russomano não iria para o segundo turno, Covas passaria para o segundo turno, Boulos tinha grande chance de passar para o segundo turno, as candidaturas de Tatto e Orlando Silva deveriam ser mantidas e não impediriam a passagem de Boulos para o segundo turno. Nada foi adivinhação. Foi só aplicar o método de Maquiavel de análise de conjuntura.
Partia também do pressuposto de que a tese da frente de esquerda era um equívoco, pois não havia razão para formar uma frente antifascista e os partidos precisavam lançar candidatos para se construir e fortalecer. A tese de que a eleição era um plebiscito contra Bolsonaro foi de todo equivocada. O principal inimigo a ser enfrentado era a centro-direita e o resultado da eleição confirmou essa avalição.
Indiquei ainda que, em São Paulo, a centralidade tática consistia em escolher Covas como inimigo. Nisso, a campanha de Boulos e Erundina errou, assim como os demais candidatos de esquerda. A tática das três candidaturas foi dispersiva, ora centralizando o ataque em Russomano, ora em Covas e ora se dispersando. Boulos perdeu tempo em polêmicas com Márcio França e até com Arthur do Val. Com isso, Covas ganhou terreno e se distanciou na estrada, algo que os candidatos de esquerda permitiram. Agora será mais difícil reduzir a distância.
Para que Boulos e Erundina busquem a vitória será preciso, em primeiro lutar, definir um mote de campanha e qualifica-lo. Penso que o melhor mote é a ideia da mudança e não da esperança. A esperança deve ser subsidiária à mudança. Mas seria preciso qualificar a mudança com uma visualização clara das propostas que ela significa e com uma crítica forte, que evidencie as falhas e erros da administração Covas.
Em segundo lugar, a campanha do PSOL deveria ter um eixo programático central, articulador de todo o programa. Este eixo está dado: é a Saúde. Mas para instituí-lo, a campanha de Boulos e de Erundina deveria redefinir o seu programa para a Saúde, apresentando uma proposta inovadora e revolucionária. As três candidaturas de esquerda foram pouco inovadoras nesse e em outros temas. Apresentaram mais do mesmo: mais do que está aí e mais de propostas já apresentadas em eleições passadas. Isto é insuficiente. A Saúde precisa de uma enorme inovação. Isto era evidente antes da pandemia e ficou mais urgente e desesperador com a pandemia.
Para que uma campanha tenha êxito é fundamental ter um eixo programático central. Serra se elegeu prefeito com foco na Saúde, Haddad priorizou centralizou seu programa nos transportes e Dória voltou a vencer com a Saúde. Parte importante dos eleitores tende a definir seu voto por aquilo que é mais necessário, importante e urgente. Nada é mais necessário, importante e urgente para a maioria da população, neste momento, do que a Saúde.
Por fim, a campanha do PSOL precisa abrir-se mais para os eleitores progressistas e de esquerda, para os movimentos sociais e para a sociedade civil. Boulos e Erundina precisam inverter um pouco a lógica dos abaixo-assinados, que pouco ajudam. Eles precisam se dirigir às pessoas convocando-as, convocando os militantes, os ativistas, os movimentos sociais, os negros, as mulheres, a juventude, os intelectuais, os estudantes, o povo pobre das periferias, os religiosos e fiéis de todas as religiões. É preciso convocar todos esses setores de forma inovativa, persuasiva e convincente para a vitória, gerando fé, esperança e fantasia de que ela é possível. A campanha deve indicar métodos novos de engajamento em tempos de pandemia. É preciso chamar esses setores e as pessoas em geral para a grande tarefa da mudança, para a grande tarefa de dar um novo rumo à cidade de São Paulo, para a grande tarefa de fazê-la uma cidade melhor para viver um bem viver.
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