Bolsonaro virou uma paisagem

"A farinha na calça e a crueldade com pobres são manifestações genuínas e exacerbadas do que é Bolsonaro, mas já não importam quase nada", escreve Moisés Mendes

Vídeo revela equipe de Bolsonaro em vídeo do 'farofeiro popular'
Vídeo revela equipe de Bolsonaro em vídeo do 'farofeiro popular' (Foto: Reprodução)


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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia

Bolsonaro comeu galinha com farofa sendo Bolsonaro ou sendo um personagem ou não sendo nada. Bolsonaro sobrevoou as áreas soterradas de São Paulo e disse que as casinhas destruídas pela enxurrada haviam sido construídas por pessoas sem visão de futuro.

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Bolsonaro diz e faz coisas que o mais amador dos políticos não diria nem faria. Por que Bolsonaro é assim? Porque a farinha na calça e a crueldade sobre a falta de visão de pobres e miseráveis são manifestações genuínas e exacerbadas do que é Bolsonaro, mas já não importam quase nada.

Bolsonaro acena do helicóptero e as pessoas lá embaixo, sem nenhuma visão e sem nenhuma chance de futuro, devolvem o aceno em meio à lama e à desgraça.

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Ele desfila em carro aberto nas áreas destruídas e alguns até gritam Lula lá, mas a maioria olha resignada. Se quisesse, poderia descer e comer pamonha e fazer mais um vídeo. 

Bolsonaro prega contra a vacina, as pessoas querem a vacina, mas a vida continua nas filas de vacinação. Bolsonaro quer um partido só dele e dos filhos, com controle absoluto de poder e da dinheirama, e o povo diz que não quer partido nenhum.

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Mas o povo continua acenando para Bolsonaro e só de vez em quando alguém, um solitário, um atrevido, tenta jogar um ovo em Bolsonaro.

Há uma resignação com a farofa, com a perversidade diante das casinhas destruídas, com os gastos do cartão corporativo, o preço da gasolina e até com a volta do trabalho escravo.

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Homens feitos submetem-se a trabalho degradante e comem formigas para não passar fome. Não estão no meio do mato, mas em obra de R$ 15 milhões em um hangar da FAB em Anápolis.

Não são dois ou três escravos, mas 25, todos trabalhando para uma empresa privada que presta serviços aos militares. Comiam formiga com farinha.

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Vinte e cinco homens, gente adulta, com algum discernimento, submetidos à escravidão em tempos bolsonaristas, em área sob controle de uma força militar.

Por que não se rebelam? Por que a escravidão urbana prospera no Brasil em tempos de fascismo? Porque os estudantes parecem ter sumido? Por que a universidade está calada?

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O Brasil que ouviu o grito dos congoleses, quando um deles foi morto por um grupo de bandidos no Rio, não grita mais por ninguém. Os congoleses gritaram no Jornal Nacional o que o Brasil não grita e não ouve há muito tempo.

Dissemina-se a explicação segundo a qual as pessoas estão esperando pelas eleições. Esperam pela vacina, pela comida, pelo gás, pelo emprego e por Lula. Ah, as pessoas.

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Mas Bolsonaro não precisa elaborar nenhuma estratégia para lidar com esse cenário. É só comer a farofa, atacar Alexandre de Moraes e manter o centrão e os militares por perto, enquanto for possível.

Porque o sujeito leva um pito de Luiz Fux e basta, até o próximo pito. Bolsonaro conseguiu se transformar numa paisagem, mesmo que continue destruindo saúde, educação, ambiente, trabalho.

O poder continua existindo, apesar de precário, mas a figura institucional do presidente, a representação simbólica e real incorporada à pessoa física, essas não existem mais.

Diante dessa paisagem, é como se todos, incluindo o Judiciário que tenta manter o indivíduo sob controle, torcessem para que Bolsonaro sobreviva até a eleição.

Depois da eleição, pelo desejo de Merval Pereira, Bolsonaro deveria liderar a oposição. Mas Bolsonaro derrotado não terá condições de liderar nem a milícia do Rio das Pedras.

Homens sem poder, se não forem um Lula que sai revigorado do cárcere político, transformam-se em memória gasosa, como até o poderoso Golbery do Couto e Silva se transformou.

Golbery era um general, Bolsonaro é um tenente. Golbery não tinha votos, mas daqui a alguns meses Bolsonaro não terá mais nada.

Sem poder, os filhos dele serão apenas milicianos eleitos, em meio delegados, prepostos de grileiros e exorcistas com mandato. Bolsonaro e a família estão numa transição para o nada.

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