Bolsonaro vai se livrando dos folclóricos para endurecer o regime

"O 'minto' quer jogar mais pesado e ser mais eficazmente perigoso", escreve Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia, citando Ricardo Vélez Rodriguez e Damares Alves, observando que Ernesto Araújo "está ali porque ainda não chegou a sua vez de ser fritado"; já Sergio Moro, que ameaça pedir demissão, "foi escolhido bem mais pelo que fez do que pelo que pode fazer", define o colunista; "Com essas mudanças de equipe, muda o perfil do governo. E muda para uma opção de extrema-direita bem mais raivosa, perigosa e com sangue nos olhos", afirma Gilvandro

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Gilvandro Filho, para o Jornalistas pela Democracia - Quatro meses depois de tomar posse após uma vitória eleitoral que, anos antes, ninguém com um pingo de juízo admitiria que pudesse um dia ocorrer, Jair Bolsonaro entra em uma nova fase de seu governo, ou como queiram chamar. A troca de quadros tende a ser sintomática. O "minto" quer jogar mais pesado e ser mais eficazmente perigoso. Os auxiliares mais pitorescos e aqueles que foram importantes para dar uma cor cada vez mais distante do vermelho à gestão, estes começam a se desgastar e tomar o caminho de casa.

No primeiro grupo, foi assim com o ex-ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, e periga ser assim como a inacreditável Damares Alves, da Mulher e Direitos Humanos. O colombiano foi uma invenção maluca do similar Olavo de Carvalho, o guru dos bolsonautas, escritor, autoproclamado filósofo e ex-astrólogo amador. A sua atuação à frente do MEC foi uma festa para chargistas e humorista.

Já Damares foi um dos tipos mais, digamos, marcantes da "aurora bolsonarista", protagonista das mais incríveis histórias e tiradas desses quatro meses; da roupinha rosa para moçoilas e azul para os varões até a aventura de ver Jesus Cristo em um pé de goiaba, e ainda prosear com ele. Com Vélez Rodrigues e o "chanceler" Ernesto Araújo, Damares formava um trio imbatível e entrosado quando o assunto era inventar esquisitices.

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Falando no grupo dos bizarros, o "chanceler" Araújo tem conseguido se manter no cargo, embora lhe faltem duas coisas fundamentais: jeito para a coisa e confiança do chefe. Está ali porque ainda não chegou a sua vez de ser fritado. Bolsonaro o "respeita" tanto que, em reuniões realmente importantes – o encontro com Trump, na Casa Branca, por exemplo -, chama o filho Eduardo, deputado federal e a pessoa que, de fato, dá as cartas do Ministério das Relações Exteriores.

Com seu radical belicismo e sua paixão imensurável pelo fascismo, por Israel e pelos Estados Unidos, o 02 – ou Number Three - é sempre a bola da vez quando o pai-presidente quer mandar seus recados em assuntos como a intervenção militar na Venezuela, por exemplo. Ernesto Araújo fica sabendo das coisas, mas bem depois.

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No segundo grupo dos descartáveis potenciais, o juiz de primeira instância Sérgio Moro é a figura mais emblemática. Bibelô da turma que bateu panelas "contra a corrupção", ele foi escolhido bem mais pelo que fez do que pelo que pode fazer. Bolsonaro costuma creditar ao filho Carlos – ou Carlucho ou Zero Dois – a vitória nas urnas. Como o "garoto" mexia com as redes sociais e fakenews em uma campanha eivada de lorotas, ele deve saber o que diz. Mas, neste particular, o presidente é injusto com Moro. A verdade é que, sem o juiz de Curitiba, não haveria nenhum presidente Bolsonaro.

Coube a Sérgio Moro o papel de alijar do processo eleitoral o ex-presidente Lula, favorito absoluto da corrida presidencial até o dia em que foi preso e retirado do páreo. Sem Lula, Bolsonaro venceu com o pé nas costas, embora tenha levado um susto e contado, sobretudo, com o voto anti-PT para ganhar no segundo turno. Mas, se há alguém a se creditar a existência, hoje, de um Governo Bolsonaro, esse alguém é Moro. E o ministério da Justiça foi a paga. Isto, até que o governo precise de bem mais que um "caçador de corruptos" (com bastante aspas!). Já há sinais de que o ministro se desgasta junto ao presidente. E vice-versa. Pode ser o próximo a pedir o boné. Ou ganhar um.

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Com essas mudanças de equipe, muda o perfil do governo. E muda para uma opção de extrema-direita bem mais raivosa, perigosa e com sangue nos olhos, para usar a expressão dita, talvez sem querer, pelo cadente ministro das Relações Exteriores, ao falar de sua pasta. Quase que ao mesmo, o chefe dele, bem a seu modo, dizia que diplomacia, em último caso, se resolve com armas.

Um exemplo típico dessas mudanças já ocorreu no próprio MEC. Com a saída do atabalhoado "professor" Vélez Rodrigues, Bolsonaro escancarou o direitismo extremado da pasta ungindo ministro alguém como Abraham Weintraub. Mais centrado que o seu antecessor colombiano, Weintraub é considerado um formulador bem mais ouvido e respeitado por Bolsonaro. Seria uma figura bem mais importante em caso de endurecimento do regime. Ou já está sendo?

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Por fim, alguns grupos e um ministro que não dão sinais de mudanças. A Economia é um, com Paulo Guedes que se aproveita justamente dessas trapalhadas em que os colegas folclóricos se metem para agir na surdina e empurrar o pé na supressão de conquistas de trabalhadores e aposentados. Outro, o núcleo familiar, formado pelos três filhos do presidente – Flávio, Carlos e Eduardo –, cujo pode continua irretocável. E o menos efetivo de todos os ministros, o astronauta Marcos Pontes, da... Ciência e Tecnologia. O governo sai de uma confusão, entra na outra, e ninguém ouve falar dele ou do que ele faz. Pela importância que Bolsonaro dá à questão, esse não corre risco, no momento.

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