Bolsonaro tem a admiração dos generais que ficaram

"Os generais estão a serviço de Bolsonaro e continuam trabalhando ao seu lado porque se sentem liderados. Evaporou-se a suspeita de que são eles que tutelam Bolsonaro", escreve o jornalista Moisés Mendes

Paulo Sergio Nogueira, Braga Netto, Jair Bolsonaro, Almir Garnier Santos e Carlos de Almeida Baptista Junior
Paulo Sergio Nogueira, Braga Netto, Jair Bolsonaro, Almir Garnier Santos e Carlos de Almeida Baptista Junior (Foto: Reprodução/Twitter)


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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia

Há um detalhe revelador de apreço e afeto na fala do ministro Luiz Eduardo Ramos, quando o general admite que tomou escondido a vacina contra a Covid-19. A fala vazada tem momentos reveladores de sentimentos.

O general confessa que ninguém deveria saber e especular sobre o que ele estava contando. Ficamos sabendo porque aconteceu o vazamento do áudio da sua confidência, na reunião de terça-feira do Conselho de Saúde Suplementar.

Ramos se dirige a Paulo Guedes, como quem pede apoio, e diz que se imunizou por ter decidido seguir a ciência.

Entre a ciência e a orientação de Bolsonaro, é o que ele quis dizer, Ramos ficou com a verdade científica. Mas era uma decisão íntima, porque Bolsonaro, como todos sabem no governo, não deve ser contrariado.

Mais adiante, o general diz, em outro trecho da mesma fala vazada: “Mas tomei mesmo (a vacina), não tenho vergonha, não”.

Por que teria vergonha? Talvez porque a decisão de tomar a vacina, pelo que Bolsonaro reafirma a todo momento, seja um sinal de fraqueza.

O general quis que soubessem que não se sentiu fraco, nem se sentiu constrangido pela tentação da vacina. Que se imunizou porque deseja viver. Mas sem contrariar Bolsonaro publicamente.

Ficamos sabendo também, pela confissão de Ramos aos colegas que estavam na sala, que há um esforço dentro do governo para que Bolsonaro seja vacinado.

O general revelou que está pessoalmente empenhado em salvar Bolsonaro. O homem não quer a vacina e não gostaria de saber que seus ministros estão sendo imunizados, mas tem a proteção dos liderados de alto escalão.

Há muita informação nessa confissão. A crise de confiança que resultou na demissão dos comandantes das três forças e do ministro da Defesa depurou as relações de Bolsonaro com os que ficaram. Está claro que permanecem os homens da sua absoluta confiança.

E parece evidente também que os generais admiram Bolsonaro. Ramos, Braga Netto e Augusto Heleno são o suporte de fidelidade a Bolsonaro. Não só porque o obedecem, ou porque o temem, mas porque o admiram.

Bolsonaro foi um desviante como militar. Teve uma carreira curta e medíocre e seu currículo mostra apenas o histórico de atleta de competições internas. O resto é o que já sabemos: atos de rebeldia, indisciplina, conspirações contra superiores e planos de atentados.

Mas há uma inquestionável ligação dos militares com esse Bolsonaro transgressor. Não só dos que apenas arranjaram emprego (seriam entre 5 mil e 6 mil) e cumprem ou cumpriram tarefas pequenas ou arriscadas no governo, como ocorreu com Eduardo Pazuello.

Há um vínculo com os mais próximos, mais graúdos e em altos postos. O confronto de Bolsonaro com os comandantes demitidos deve ter estreitado esses afetos. Bolsonaro aproximou-se ainda mais dos seus.

É percebido nos gestos cotidianos de cada um deles, nas interferências, nas ações que referendam o que Bolsonaro pensa e faz, que o ex-tenente é uma referência, uma liderança.

Os generais não são protagonistas de um projeto de poder, talvez não entendam direito o que fazem no governo, suportam as dissidências dos que saíram (mais de uma dúzia de generais), mas se submetem aos riscos de ficar ao lado de um homem citado mundialmente como genocida.

Bolsonaro conta com essa fidelidade para poder continuar blefando com o golpe, ameaçando ministros do Supremo e desafiando tudo que o contraria, principalmente o bom senso.

O projeto é de Bolsonaro, e os militares são o seu suporte de força. É enganoso tentar superestimar a presença de Hamilton Mourão, dos ministros militares e dos oficiais em funções subalternas como expressão de alguma hegemonia.

Os generais estão a serviço de Bolsonaro e continuam trabalhando ao seu lado porque se sentem liderados. Evaporou-se a suspeita de que são eles que tutelam Bolsonaro.

Os que saíram devem estar aliviados. Os que ficaram se consideram os escolhidos. Os sobreviventes admiram o líder com um ardor incondicional que talvez ainda não tenha sido bem percebido.

E esse ardor, sabe-se no meio militar do Brasil ou da Ucrânia, é incondicional enquanto dura.

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