Bolsonaro se isola num governo com a cara dele

"Prestes a completar seis meses, o governo Jair Bolsonaro está ficando a cada dia mais com a cara de Jair Bolsonaro", diz Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia; "Não tem mais o perfil que parecia ter emergido das urnas de um governo dividido em núcleos igualmente poderosos – militar, político, econômico e familiar-ideológico – lutando pelo poder. Muito antes do que se pensava, um desses grupos venceu, e agora os demais ou se subordinam ou são postos para correr"

(Foto: Adriano Machado - Reuters)


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Por Helena Chagas, para Os Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia

Prestes a completar seis meses, o governo Jair Bolsonaro está ficando a cada dia mais com a cara de Jair Bolsonaro. Não tem mais o perfil que parecia ter emergido das urnas de um governo dividido em núcleos igualmente poderosos – militar, político, econômico e familiar-ideológico – lutando pelo poder. Muito antes do que se pensava, um desses grupos venceu, e agora os demais ou se subordinam ou são postos para correr.

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Bolsonaro não deixou margem a dúvidas sobre quem manda com as últimas demissões de generais em seu governo: Santos Cruz (Secretaria de Governo), Floriano Peixoto (rebaixado da Secretaria Geral para a presidência dos Correios), Juarez Cunha (ex-Correios) e Franklimberg Ribeiro (Funai). Além de afastar qualquer resquício de suspeitas sobre uma eventual tutela militar, o presidente mostra que a verdadeira essência do governo está representada pelo núcleo familiar-ideológico.

Entre os critérios que nortearam o afastamento de Santos Cruz  – e certamente o de Floriano Peixoto, a ele ligado – estão o da desconfiança e o da intolerância com opiniões contrárias. Esses sentimentos, somados ao forte viés ideológico e à fixação no passado, estiveram também por trás da demissão de Joaquim Levy no BNDES.

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É curiosa a forma como Bolsonaro elogia as qualidades de seu substituto, Gustavo Montezano, enfatizando aquela que, para ele, parece ser a principal missão do presidente de um dos maiores bancos de fomento do mundo: desbaratar uma suposta  “caixa preta” deixada pelo PT. Uma gestão de olho no passado.

Bolsonaro colocou na secretaria-geral um major reformado da PM que tem como principal predicado trabalhar com ele há 15 anos e ser de sua confiança. Às vésperas da votação da reforma da Previdência – que, mal ou bem, vai passar -, anuncia a retirada da articulação política das mãos do político Onyx Lorenzoni para o general Luiz Eduardo Ramos.

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A ala política estranhou o esvaziamento extemporâneo de Onyx. A cúpula das Forças Armadas está perplexa com o expurgo de seus melhores quadros.

Nada tem muita lógica, a não ser a da paranoia dos que se acham sempre no alvo de conspirações que enxergam em sua própria copa e cozinha. Formando um governo com os filhos e amigos ideológicos, regido pela teoria da conspiração, Bolsonaro vai se isolando.

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