Bolsonaro sabe que não compra amor verdadeiro

"Nelson Rodrigues sabia que o dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro. Mas Bolsonaro também sabe que não comprou, que só alugou o amor do centrão", escreve Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)


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Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

O ministro Luiz Eduardo Ramos venceu a guerra com o ministro do Turismo, Álvaro Antônio, e ofereceu a Bolsonaro um pretexto para mandar um estorvo embora.

Ramos é general. Álvaro Antônio era um deputado medíocre que se transformou em 2018 em exemplo nacional dos fenômenos do bolsonarismo eleitos por todo o país.

O texto que ele publicou num grupo de whats com ataques a Ramos é de 5ª Série e cheio de erros. Não são erros pontuais. São mais do que falhas técnicas, são ressentimentos saídos da cabeça de uma cabeça com capacidade de reflexão básica, precária.

A direita, que sempre foi tão caprichosa com retórica e escrita, está entregue a esses desleixos do bolsonarismo. A direita ficou analfabeta.

Mas se reafirma um problema na briga de ontem. Ramos é general. Não tem votos. E Álvaro Antônio elegeu-se, como dono do PSL mineiro e dos seus laranjas e como principal cabo eleitoral de Bolsonaro em Minas, com 230.008 votos.

Ninguém dos outros 52 deputados mineiros fez mais votos do que o depois ministro do Turismo agora demitido. O general tem estrelas. Álvaro Antônio teve votos de sobra.

Esse é um dos problemas do governo de Bolsonaro. Está ficando sem gente com voto. Bolsonaro tem muitos generais, mas generais não têm votos.

Nem Hamilton Mourão tem votos. Mourão elegeu-se com os votos de Bolsonaro. Assim como Michel Temer elegeu-se com os votos de Dilma Rousseff, para depois aplicar o golpe. E o homem do Jaburu nem tenente era.

Mandando o ministro do Turismo embora, Bolsonaro se desfaz de mais um aliado de primeira hora, daqueles que apostaram nele quando ninguém queria saber da sua candidatura.

Gustavo Bebianno, sem votos, mas controlando uma estrutura que elegeu 52 deputados federais, foi o primeiro sacrificado, quando a família entrou em guerra pelo comando e pelo controle do fundo partidário do PSL.

Muitos outros já se foram, todos com fartura de votos. Álvaro Antônio foi fritado para que o centrão ocupe o seu lugar. A briga com o general só facilitou as coisas.

Mas Bolsonaro está se desfazendo dos amigos, mesmo que oportunistas. Em troca, compra amizades no Congresso. O próprio Álvaro Antônio disse que o preço, negociado inclusive pelo ministro Ramos, é “altíssimo”. Ele conhece as nagociações, os comprados e os preços.

Bolsonaro fica com quem não se elegeu, porque precisa de lastro militar, briga com os antigos amigos eleitos e agora paga o que for possível para dispor de uma trincheira de quem tem voto. Será uma fortuna política em verbas, cargos e concessões diversas.

Bolsonaro chegou ao ponto sem volta de quem compra apoio, que quase todos fazem. Mas ele só se manterá com apoio comprado, porque não tem apoio grátis e nem partido tem.

Nelson Rodrigues sabia que o dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro. Mas Bolsonaro também sabe que não comprou, que só alugou o amor do centrão.

O amor verdadeiro que ele acredita ter talvez seja o dos militares. Mas quais militares?

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