Bolsonaro não é Trump e deixará a Presidência sem liderar a extrema direita
Diferentemente de Trump, que "se mantém como personagem político central", Bolsonaro sairá do governo sem apoio, diz Emir Sader
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Bolsonaro se inspirou diretamente em Donald Trump para assumir seu discurso, seu estilo de ocupar a presidência, suas relações com outras instituições, com os adversários políticos, seu negacionismo. Parecia um caminho de vitória.
Os dois têm origens e características distintas, mas convergiram para posições e posturas similares. Os dois chegaram a coincidir na presidência dos dois países, dando a impressão de que projetariam uma corrente de extrema direita em escala mundial. Mas logo surgiram obstáculos, a começar com Donald Trump.
Ao não conseguir se reeleger, Trump mandou um recado para Bolsonaro. Uma coisa era ser um candidato livre atirador, criticando os outros. Outra era estar no governo, ter que responder pelo que fez e pelo que não fez. Seu discurso perdia força.
Bolsonaro já está sentindo essa mudança. Seu desgaste vem exatamente do seu desempenho no governo. Mesmo com a tática de tentar terceirizar responsabilidades – ao Judiciário, aos governadores, entre outros - perdeu efeito seu discurso negacionista, sua incapacidade para fazer a economia funcionar, com os problemas sociais decorrentes.
Bolsonaro se mantém negacionista, enquanto Trump se deu conta do desgaste que teve e passou a estar a favor da vacinação. Passou a estar a favor, se preparando para a nova campanha presidencial.
Mas as principais diferenças vêm dos dois, depois de deixarem o governo. Trump se mantém como personagem político central na vida norte-americana, não apenas porque adaptou seu discurso, mas também porque tem experiência televisiva de muitos anos, contando com um canal de grande audiência.
Além disso, Trump conta com o Partido Republicano, que majoritariamente o apoia. A ponto de haver, recentemente, manifestado que a invasão do Capitólio foi legítima politicamente. É um partido nacional, um dos dos grandes partidos. Partido que conta com grande quantidade de governadores, com forte bancada parlamentar. Que deve ganhar as próximas eleições parlamentares, passando a contar com maioria tanto no Senado como na Câmara.
Trump é, hoje, favorito para vencer as próximas eleições presidenciais. Por todas essas razões, ele se manteve como o maior líder da oposição.
Bolsonaro tem condições diferentes das de Trump. Se for, tal qual seu colega norte-americano, derrotado na tentativa de reeleição, enfrentará situações muito diferentes.
Bolsonaro não tem um discurso político, uma análise do país. Seu discurso é extremamente pobre, não agrega, se dirige sempre para um público minoritário, extremamente vinculado a ele.
Dificilmente terá um bom desempenho na campanha eleitoral e, menos ainda, caso existam debates na campanha. Seu nível recorde de rejeição é um obstáculo fundamental para seu futuro político.
Sairá do governo praticamente sem partido político. Seu apoio vai diminuir ainda mais. Os processos contra ele e seus filhos o afetarão diretamente.
Mesmo se Trump voltar a ser presidente dos Estados Unidos, não contará com a parceria do Bolsonaro, que dificilmente se reelegerá e que, depois do governo, tenderá a perder ainda mais força política. O bolsonarismo, como corrente de extrema direita, provavelmente sobreviverá. Mas já sem um grande líder.
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