Bolsonaro já não governa mais

Carlos D´incão afirma que o que fazer em um país onde o chefe de Estado é um cadáver? Aliás, em uma rara sobriedade, Bolsonaro disse que querem torná-lo a Rainha da Inglaterra. Errou por pouco... Bolsonaro está mais para Inês de Castro"

Decifra-me ou te devoro
Decifra-me ou te devoro (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)


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Entramos na última semana do mês de junho de 2019 e, como prevíamos, o governo Bolsonaro já não existe mais. A rigor não temos um presidente, mas uma pitoresca e disforme criatura parida nos subterrâneos de Curitiba em conluio com o Departamento de Estado dos EUA.

Eivado pelo ódio e pela ignorância de uma parcela torpe da população brasileira, que saiu dos alçapões de um museu - onde reside todas as atrocidades já imaginadas pela deformação do gênero humano - Bolsonaro nunca foi pessoa, mas substância. Tão pouco já foi substantivo, mas um infame adjetivo cruento que colocou a nação em vergonha contínua e retumbante.

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Bolsonaro iniciou o seu mandato não com um governo, mas com uma equipe retirada de um filme surrealista e de baixo calão. Dali derivou vexames e mais vexames. O desgoverno se tornou rotina e há pouco tempo atrás, as bolsas se animavam com o seu silêncio e sobretudo com sua ausência.

Parecia que tudo havia sido equalizado para uma certa estabilidade: Bolsonaro se calaria e desapareceria, enquanto o Congresso e o mercado governaria. Pura ilusão de óptica... A estabilidade era tal qual um corpo em queda, que atingia velocidade contínua, mas que acabaria se estraçalhando no último círculo do inferno: a Vaza-Jato.

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As revelações vazadas pelo The Intercept Brasil derrubaram o governo brasileiro perante o Mundo. A percepção local é irrelevante. A realidade é imperativa. Bolsonaro já está morto, só não sabem disso ainda - além dele mesmo - os setores parlapatões da imprensa e as almas penadas que ainda o apoiam pelas ruas, combatendo moinhos de vento da Venezuela e as infindáveis conspirações comunistas...

O que fazer em um país onde o chefe de Estado é um cadáver? Aliás, em uma rara sobriedade, Bolsonaro disse que querem torná-lo a Rainha da Inglaterra. Errou por pouco... Bolsonaro está mais para Inês de Castro, coroada morta ou, como bem nos definiu Camões, “...está morta, a pálida donzela...” E nossa Inês de Castro nem mesmo pode autorizar eleições para a formação de um novo parlamento...

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O Brasil está, por fim, parado. Há aqueles que vêm no caos uma grande oportunidade... Na Bovespa, encontramos oportunistas e especuladores que estão convictos de que o país entrará em liquidação e que fazem o seu índice ultrapassar os 100 mil pontos...

Caso o Brasil insista em manter um cadáver no poder, os bancos nacionais não terão capacidade de arcar com a recuperação de todas as construtoras e outras milhares de empresas. A Odebrecht foi a primeira, mas está longe de ser a última... Os bancos são a bola da vez... A Lava-Jato veio para liquidar o Brasil, mas o Brasil é muito grande para quebrar sem destruir a economia global em um efeito cascata que começa na América Latina, vai para a Europa, desembarca nos EUA e chega como uma marolinha na China.

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O ranço de alguns generais aposentados, que esqueceram de colocar seus pijamas, ainda assusta o STF. O problema é que a História é uma locomotiva impiedosa e sem freios. E ela exige que Lula seja posto em liberdade e daí para frente, demanda que o mesmo use o tempo que lhe resta em sua vida para salvar o país e a economia global.

Caso o Brasil perca essa locomotiva, não será Lula quem sofrerá, mas todas as instituições brasileiras que se tornarão tão verdadeiras como o Império Romano do Ocidente aos olhos de Carlos Magno... Não é mais Lula ou a barbárie, mas Lula ou as invasões bárbaras. Quem viver essa semana, verá.

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