Bolsonaro está quase morto, mas ainda não morreu

Lula está na liderança nas pesquisas, mas nada está ganho

(Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)


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As últimas pesquisas apontam uma queda percentual na diferença entre Lula e Bolsonaro. A mais recente, feita pela empresa Paraná Pesquisas no início do mês de março, mostra o petista com 38,9% das intenções de voto, contra 30,9% para o atual presidente. Em fevereiro, uma pesquisa realizada pela Quaest/Genial apontava Lula com 45% e Bolsonaro com 23%. Esses números precisam servir de alerta, não apenas para Lula e o PT, mas, principalmente, para o povo pobre brasileiro. O principal prejudicado pelo neoliberalismo fascista que o atual governo representa.

Não me disponho a fazer aqui uma análise política desse novo cenário eleitoral, pois não é a minha especialidade. Porém, esse mesmo cenário mostra a resistência da estrutura racista e elitizada sob a qual a nossa sociedade está alicerçada desde 1500, apesar da luta progressista para desconstrui-la. Evocando Simone de Beauvoir e Napoleão Bonaparte, ambos franceses, proponho uma reflexão sobre dois aspectos sociais que ajudaram a colocar Bolsonaro no poder e que podem ajudá-lo a permanecer nele por mais quatro anos. O que seria uma tragédia sem precedentes no país. Bate na madeira aí!

A filósofa e ativista política francesa dizia que “o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”, o que explica em boa parte a resistência da atual estrutura e a reação de Jair Bolsonaro nas pesquisas, mesmo sendo o seu governo o pior, o mais cruel, o mais covarde e o mais nefasto de toda a história política do Brasil. Já o controverso Imperador francês do século dezenove, nos deixou um pensamento que, ao meu ver, é o que melhor explica esse fenômeno político neomedieval que tomou conta do país nos últimos anos. O bolsonarismo.

Ao dizer que “a religião é aquilo que impede os pobres de matarem os ricos”, Napoleão, certamente, estava se referindo diretamente ao cristianismo e a tríade empregada através dele para manter os pobres passivos e conformados, mesmo estes estando sendo oprimidos e violentados. Dividir, controlar e iludir, eis a questão. E os governantes, ao perceberem que a religião cristã lhes favorecia em seu projeto de poder, logo trataram de implementá-la como uma espécie braço “desarmado” do Estado. Nos dias de hoje, ninguém aplica melhor essa tríade como método de alienação social do que a Igreja Evangélica. Com raras exceções.

Nessa linha, a pauta moral e de costumes é apresentada como mais importante do que as pautas sociais e progressistas, que, de fato, podem promover alguma mudança na vida das pessoas. Sob a égide da moral cristã, milhões de pessoas são instadas a defender a honra de Deus, como se Deus precisasse de pobres mortais para defender a sua dignidade. Preservar a ideia de uma família tradicional criada por Deus, é mais importante do que lutar para que essa mesma família tenha como se manter dignamente na sociedade. É um “Deus dará” literal, que determina a fé e o comportamento moral do indivíduo, como responsáveis pelo progresso da nação. Mas, e se Deus não dá?

Enquanto líderes evangélicos e católicos mantém os seus pobres fiéis preocupados em combater as mulheres que pretendem abortar, as feministas que lutam contra o patriarcado ou as pessoas que se relacionam com outras do mesmo sexo, o Estado do qual eles são aliados vai passando com a boiada e levando tudo que eles teriam direito. Mantê-los acreditando que Deus está com eles e lhes dará a recompensa de um céu eterno e salvador por estarem seguindo tais princípios, faz com que esses fiéis abram mão de seus direitos e se tornem cúmplices de quem os oprimem, sob a ilusão de um pertencimento social.

Devidamente doutrinados e obedientes a esses líderes religiosos malafentos e infelicianos, essas ovelhas com direito a voto não conseguem enxergar a hipocrisia que permeia e pontua esse discurso de moralidade e patriotismo. Mesmo com o arroz e o feijão começando a ficar escasso na mesa, o preço dos combustíveis e do gás de cozinha aumentando absurdamente, o custo de vida ficando cada vez mais alto, a sensação de estarem combatendo os “inimigos” de Deus com o próprio sofrimento, os mantêm fortes e cada vez mais alienados. E muitos deles ainda pagam um imposto a mais por isso. O dízimo. Que, teoricamente, deveria ser destinado a Deus, mas, na prática, serve para promover o enriquecimento de tais líderes.

Devo concordar que Bolsonaro é um enviado de deus. O deus que o Estado instituiu usando o cristianismo como escudo, para impedir os pobres de se rebelarem e matarem aqueles que os oprimem e os subjugam a existência. É aí que mora o perigo. Apresentado como um messias e salvador da pátria, ele representa a distopia cristã sob a qual, infelizmente, boa parte daqueles que se julgam cristãos está submetida. E esse mal não pode ser subestimado. Por mais desgastante que seja dialogar com esse segmento, é preciso ter em mente que a maioria que o compõe não entende de verdade o fundamentalismo que defende e pratica. Portanto, muitos deles ainda podem serem salvos ao conhecerem a verdade política e social que liberta.

É urgente fazê-los entender que Deus não tem candidato. Nem de esquerda, nem de direita, nem de centro. Obviamente, existem candidatos mais comprometidos com a inclusão social dos mais pobres, o que, naturalmente, os associam à justiça e à igualdade que Jesus Cristo sempre defendeu. E Jair Bolsonaro não é um deles. Longe disso. O seu governo representa a tortura, a opressão social dos mais pobres, a perda de direitos para os trabalhadores, a injustiça, a morte. E não falo ideologicamente. Estamos todos nós, pelos aqueles que não ricos, sentindo isso na pele, no dia a dia, na mesa, no prato, de fato. Ou todos estão conseguindo comprar e consumir, tudo o que compravam e consumiam antes, principalmente, durante os governos do PT?

Lula está na liderança nas pesquisas, mas nada está ganho. Bolsonaro, que estava quase morto politicamente, começa a dar sinais de vida. É preciso avaliar essa estranha recuperação e evitar um dos principais erros que a esquerda vem cometendo nos últimos anos. O distanciamento da base e da sua raiz.

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