Bolsonaro está mais para Orbán que para Trump
Colunista Alex Solnik diz que a melhor comparação do presidente eleito Jair Bolsonaro é com o presidente da Hungria, Victor Orbán; "Ao chegar ao poder, Orbán fez o que populistas de extrema-direita costumam fazer mundo afora, por isso é grande a chance de Bolsonaro empregar o mesmo cardápio: 1) 'Refez' a constituição, sublinhando os valores cristãos, a nação e a família; 2) Aprovou uma nova lei de imprensa que lhe permitiu controlar a informação; 3)Expurgou da administração pública e do ensino todos que o contestavam e 4) Colocou amigos e parentes em postos-chaves do aparelho de Estado e da economia", enumera Solnik
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Segundo o cientista político Roberto Foa, da Universidade de Harvard, “o populismo do século 21 costuma chegar ao poder pelo voto”. “Em muitos casos” continua “elegem-se candidatos contra o sistema político e a corrupção. E, uma vez no poder, eles alteram as regras do jogo, dificultando a oposição e a fiscalização”.
Ou seja: eles vêm para ficar bastante tempo e não só um mandato, não admitem alternância de poder, nem que a oposição ou a imprensa fiquem de olho neles.
A despeito de Bolsonaro querer emular Trump, acho mais correto compará-lo não ao presidente da maior potência mundial cuja democracia jamais foi abalada por golpes militares e a constituição é intocável, mas ao primeiro-ministro da Hungria, onde as instituições democráticas são tão jovens, frágeis e permeáveis quanto as brasileiras.
Ao chegar ao poder pela primeira vez com maioria absoluta, em 2010, Victor Orbán, a bordo de seu partido, o Fidesz, fez o que populistas de extrema-direita costumam fazer mundo afora, por isso é grande a chance de Bolsonaro empregar o mesmo cardápio: 1) “Refez” a constituição, sublinhando os valores cristãos, a nação e a família; 2) Aprovou uma nova lei de imprensa que lhe permitiu controlar a informação; 3)Expurgou da administração pública e do ensino todos que o contestavam e 4) Colocou amigos e parentes em postos-chaves do aparelho de Estado e da economia.
Em abril deste ano, Orbán renovou seu mandato pela terceira vez.
Seu discurso foi centrado em xenofobia – na contramão do que prega a União Europeia, da qual seu país faz parte - e na promessa de conter a imprensa e organizações independentes, denunciadas por ele como “agentes da influência estrangeira” e “ameaças à segurança nacional”.
Alcunhado “o lança-chamas europeu”, derrotou mais uma vez a oposição liberal – dos socialistas aos Verdes – “que se mostrou incapaz de superar as suas divisões”, segundo o Diário de Notícias, de Lisboa.
O processo eleitoral, tal como o brasileiro, foi questionado por observadores europeus. Para eles, as eleições foram “legais”, mas não verdadeiramente “livres”, devido ao clima “adverso” fomentado para a oposição.
Durante a campanha, Orbán se recusou a participar de debates com seus concorrentes e a falar à imprensa independente.
Nos meios de oposição comenta-se que os próximos alvos de Orbán deverão ser grupos da sociedade civil que fazem campanha em defesa dos direitos humanos, da imprensa independente e contra a corrupção.
A última sandice de Orbán foi extinguir, a 13 de outubro, estudos de gênero nas universidades sob a alegação de que esse campo de pesquisa é “ideologia e não ciência”.
Por meio de um decreto – uma canetada - ele cortou financiamento público para todos os programas dessa área, inclusive os já aprovados.
Gergely Gulyas, chefe de gabinete de Orbán, justificou à agência Reuters:
“O governo húngaro tem a clara visão de que as pessoas nascem homens ou mulheres. Eles levam suas vidas da maneira que acham melhor, mas, para além disso, o estado húngaro não deseja gastar fundos públicos com educação nessa área”.
Bolsonaro está mais para Orbán que para Trump.
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