Bolsonaro está criando sistema de informação e controle da sociedade maior que o da ditadura

Mauro Lopes escreve sobre as seguidas iniciativas do governo Bolsonaro de recriar um sistema de informação, vigilância e controle no estilo do existente na ditadura militar. Mas o de Bolsonaro pretende ser mais amplo, ramificado e complexo. O próximo passo: o sistema de repressão. É o que virá, se ele não for contido

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)


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Por Mauro Lopes

O Brasil terá a partir de 17 de agosto um novo SNI (Serviço Nacional de Informações), o temido órgão de espionagem e controle da ditadura militar, criado três meses depois do golpe de 1964. O novo SNI terá a sigla CIN (Centro de Inteligência Nacional) e tem o mesmo objetivo que o velho SNI: proteger o Estado -e, sobretudo, o regime em vigor. Antes, a ditadura; agora o novo governo militar. 

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O SNI renomeado estará abrigado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o que torna a notícia ainda mais grave: estará sob o comando de Alexandre Ramagem, um braço direito de Bolsonaro, integrante do clã, capaz de tudo. 

Mas não se trata apenas de um serviço ou centro; Bolsonaro está montando um sistema de informação, vigilância e controle. Desse sistema em estruturação faz parte a Seopi (Secretaria de Operações Integradas), no Ministério da Justiça, sob comando de outro faz-tudo do bolsonarismo, André Mendonça. O órgão ganhou fama súbita depois que veio a público a notícia de que existe um dossiê secreto com nomes de 579 servidores federais e estaduais, entre eles os renomados internacionalmente Paulo Sérgio Pinheiro e Luiz Eduardo Soares. O dirigente do órgão foi demitido depois do vazamento, mas o órgão está lá -e será dirigido agora por um coronel do Exército.

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Mas não é só. A Polícia Federal está, aos poucos, tornando-se um instrumento do governo, com ações direcionadas para opositores de Bolsonaro -de governadores desafetos a líderes políticos dissidentes ou de oposição.

Há mais: as polícias militares, em tese órgãos estaduais, estão se alinhando cada dia mais com o governo Bolsonaro, por conta de se constituírem em forças auxiliares do Exército e de sua tradição repressiva contra a esquerda, sindicatos, organizações populares. É sempre bom lembrar que toda PM tem seu serviço secreto, que se dedica a espionar os movimentos sociais.

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Isso tudo pra não falar nos serviços das Forças Armadas, que se mantêm submersos.

Por fim, há ainda o serviço de informação particular de Bolsonaro, que foi apresentado ao país na fatídica reunião ministerial de 22 de abril.

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Portanto, está se constelando de fato todo um sistema de informação, vigilância e controle complexo, articulado e que mobiliza algo impensável, na ditadura: uma tecnologia de informação capaz de vasculhar a vida das pessoas em detalhe. CIN, Seopi, PF, serviço secreto das PMs, das Forças Armadas, de Jair Bolsonaro -estes são os componentes conhecidos do monstro que está sendo gestado no interior da sociedade.

Este serviço existe para se atuar em conjunto com outro: o de repressão. Foi assim na ditadura, é assim em todo canto. São siglas que causam horror aos democratas: DOPS, Doi-Codi, Operação Bandeirante, Cenimar… É bom lembrar que Carlos Alberto Brilhante Ustra e outros heróis de Bolsonaro atuavam nestes centros, de repressão, aprisionamento, tortura e morte, e não nos serviços de espionagem. 

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Portanto, há outro sistema a ser construído, que complementa o primeiro. Se Bolsonaro sustentar-se no poder, é questão de tempo.

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Mauro Lopes é jornalista, editor do Brasil 247 e apresentador do Giro das 11 na TV 247. Fundador do canal Paz e Bem, de espiritualidade aberta e plural.

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