Bolsonaro esquece economia e entra em ritmo de Lupicínio: só vingança

"Bolsonaro se move motivado pelo tilintar das urnas de 2022. O seu discurso de grande guardião da economia, por isto as falas contra o isolamento social, foi desmascarado, nesta semana. Tivesse apreço ao menos pela retomada econômica, incentivaria os brasileiros a fazerem fila nos postos de vacinação para, imunes, votarem ao trabalho", escreve a jornalista Denise Assis

Com Bolsonaro, crescimento da indústria em abril foi o menor em 6 meses
Com Bolsonaro, crescimento da indústria em abril foi o menor em 6 meses (Foto: Reuters | Abr)


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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Sou de um tempo em que se chegava ao jornal pela manhã e a pauta, caprichosamente datilografada pelo pauteiro Luciano – figura histórica dos áureos tempos do Jornal do Brasil – apontava: “Abertura da campanha de vacinação”. Sim, era assunto de primeira página, o início da vacinação contra a pólio, o sarampo e outras das enfermidades infantis. A cerimônia contava sempre com a presença do secretário de Saúde e o Zé Gotinha, querido das crianças que acorriam aos postos. Naquela época, Zé Gotinha sorria.

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A cerimônia era invariavelmente feita pela manhã e coberta pela turma do “inaugurou ontem”, – os repórteres que pegavam cedo costumavam cobrir as cerimônias oficiais: pautas municipais e governamentais. Quando o motorista estacionava o carro já ouvíamos ao longe: “Mamãe eu quero/mamãe eu quero/ mamãe eu quero mamar! Dá a chupeta/ Dá a chupeta…/ Era festa. Havia bandinha, brincadeiras, pernas-de-pau e carrocinha de algodão doce para os pequenos que, ainda com olhos lacrimejantes pela picada da agulha, se lambuzavam com os tufos coloridos de nada. Açúcar puro! Mas faziam caras de: como está bom.

Ao me deparar com a foto do Zé Gotinha dos tempos bolsonaristas tive um choque. O Zé Gotinha do Planalto tem cara de espanto. Olhos tristes e sem boca desenhada de sorriso de orelha (ops! Zé Gotinha não tem orelhas!) a orelha.

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O Zé Gotinha de Bolsonaro tem o clima do seu governo. É triste. |Os olhos são vazios. Olham para o nada. O sorriso, se existe, ficou encoberto pelo uso da máscara (ainda bem), artefato ignorado pelo negacionista. Tentei ouvir a bandinha. Não havia. Procurei alegria na cena. Não marcou presença. Só Bolsonaro, com o seu ar aparvalhado, como se presidir um país fosse um passeio, compunha a foto, sem saber o que fazer com as mãos, rejeitadas pelo boneco, triste, mas consciente.

Sem dar ouvidos ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que já alertou para os benefícios econômicos da imunização que fará, finalmente, a economia andar (caso seja gerenciada com competência, é bom que se diga), ele segue sabotando a política de vacinação, esboçada pelo subserviente ministro Eduardo Pazuello. Incita os seus 30% fanatizados a irem às redes reforçarem as ameaças infantis que andou soltando: você pode “virar jacaré”, se vacinado, ou pode “falar fino”, seu grande pavor. (O jardineiro do Freud explica).

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Agora tenta se chegar ao desejo do público, manifestado na pesquisa encomendada pelo Planalto sobre a vacinação e, diante das evidências, talvez por dois dias, decidiu dar trégua à ignorância. Na tal pesquisa, a maioria aponta para o desejo de que a vacina chegue logo e a quase normalidade também.

Lamentavelmente, o que jogou Bolsonaro nos braços de Zé Gotinha não foi um sentimento de humanidade e cuidado pela população pela qual deve zelar. Mais uma vez, – que feio! – Bolsonaro se move motivado pelo tilintar das urnas de 2022. O seu discurso de grande guardião da economia, por isto as falas contra o isolamento social, foi desmascarado, nesta semana. Tivesse apreço ao menos pela retomada econômica e incentivaria os brasileiros a fazerem fila nos postos de vacinação para, imunes, votarem ao trabalho. O que move Bolsonaro, de verdade, é um outro ritmo. É o samba-canção. Puro Lupicínio Rodrigues: ‘Só vingança/ Vingança/ vingança/ aos santos clamar!

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