Bolsonaro é sintoma. Doença mesmo é a direita concursada
Não custa desejar. Na virada do ano quase todo mundo, para além dos genéricos votos de felicidade e prosperidade, manifesta um ou mais desejos concretos, específicos. Eu tenho um. Daqueles de difícil realização, mas o desejo é livre
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Não custa desejar. Na virada do ano quase todo mundo, para além dos genéricos votos de felicidade e prosperidade, manifesta um ou mais desejos concretos, específicos.
Eu tenho um. Daqueles de difícil realização, mas o desejo é livre.
Escandalizado com a quantidade de gente no meu feice desejando um 2020 sem Bolsonaro, como sou esquisito, não sublimarei meu desejo de que percebam que Bolsonaro é sintoma, a enfermidade é mais complexa.
Poderia mencionar diversas dimensões do problema. Ficarei em apenas um. A obsessão pela judicialização. É compreensível. O Brasil é o país com maior número de bacharéis em direito. E médicos, engenheiros, sociólogos, profissionais de todas as áreas pensam que podem dar “abalizadas opiniões jurídicas” sobre qualquer tema. Essa mania se tornou epidêmica. Tudo é judicializado. Incompetentes com iniciativa vão ao Judiciário postular a proibição dos insultos do véio da Havan nas praias catarinenses, demandam que a música gospel seja banida das celebrações públicas em Copacabana, tentam impedir a tramitação de projetos polêmicos no parlamento, etc, demonstrando inadmissível confiança no bom-senso dos magistrados. Até as capivaras do Parque Barigui sabem de que madeira são feitos os juízes e ainda assim insistem, sem se preocupar com a óbvia possibilidade de conseguirem legitimar aquilo que pretendiam evitar com suas iniciativas judiciais. Negada a liminar o véio da Havan está agora autorizado pelo juiz a subir o tom nos insultos, os evangélicos dão graças a deus por poderem ouvir, histéricos, a louvação musical na virada do ano, os parlamentares ficam legitimados a atender os desígnios do mercado. Quando se vai ao Judiciário o resultado atende à lógica binária. Obtida a liminar, cessam os efeitos. Negada, resta autorizada a continuidade daquilo que se pretendia evitar. Evidente.
Caso se materializassem os desejos de “2020 sem Bolsonaro” o que mudaria? Poderia esticar o argumento, mas meus argutos feiceamigos não precisam de maiores esforços didáticos de minha parte.
Para ficar no mesmo tema: se Bolsonaro deixar de ser presidente o Judiciário continuará sendo o que é, o Ministério Público continuará se metendo onde não deve, as polícias continuarão arbitrárias e autoritárias, o aparato repressivo a serviço do capital e da ideologia neoliberal continuará operando como vem atuando desde as vésperas do Golpe de 2016.
Como o desejo ainda é livre, verbalizo o meu: que em 2020 o seleto grupo de meus feiceamigos se convença de que o maior, mais evidente e mais pernicioso, inimigo da democracia e dos interesses da maioria da população é a Direita Concursada, principalmente a que ocupa cargos no aparato repressivo do Estado. E, exagerando no direito de desejar, que neste ano a consciência de quem é inimigo imediato a ser combatido iniba iniciativas abestalhadas de recorrer aos juízes na tentativa de resolver questões que jamais deveriam ser judicializadas, pelo menos não com esse Judiciário que temos.
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