Bolsonaro e pedofilia: a esquerda precisa denunciar a campanha demagógica da direita
Não se pode cair na campanha da extrema-direita de que quem é contra o aumento de penas para pedófilos defende a pedofilia
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Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira, 14, que “a esquerda busca meios de descriminalizar a pedofilia, transformando-a em uma mera doença ou opção sexual”, em postagem no Twitter. Ele ainda afirmou que apresentou um projeto de lei de autoria da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, “que aumenta em 50% a pena para esses crimes”.
O discurso, além de malicioso, tentando relacionar a esquerda à pedofilia, é puramente campanha demagógica típica da extrema-direita. Bolsonaro aproveita um repúdio generalizado à pedofilia para fazer sua propaganda fascista contra a esquerda. Naturalmente, setores da esquerda ficam acuados, buscam seguir a propaganda bolsonarista - ao invés de denunciá-la.
O projeto ainda não foi para votação, mas o desenvolvimento da luta política mostra como, em diversas vezes, no Congresso, a esquerda se colocou favorável ao aumento de penas e de leis para “combater os criminosos”, sempre buscando um pretexto "bom". Geralmente, essa política utiliza-se dos elementos mais odiáveis (pedófilos, estupradores, etc.) da sociedade para justificar o aumento de leis repressivas, que no fundo não irão resolver o problema e apenas irão aumentar o punitivismo.
Quando a imprensa capitalista estava fazendo a campanha, junto com a extrema-direita, contra os estupros e falando sobre violência contra a mulher, a esquerda adentrou de cabeça e votou - com a direita - leis que aumentam penas para estupradores e que, por exemplo, tornam o feminicídio crime hediondo. O que os parlamentares esquerdistas não perceberam é que estava entrando justamente na campanha demagógica da direita em defesa da punição para resolver os diversos problemas sociais que o País enfrenta. Uma ideia religiosa para “punir os pecadores”.
No fundo, o que está colocado é que, enquanto a direita faz demagogia para aumentar as penas e jogar a população pobre na cadeia, sendo que uma boa parte não foi julgada adequadamente, a esquerda, no mínimo, deveria ser contra este tipo de política. Pelo menos, a esquerda deveria ser ciente que punir não resolve problemas e abre brecha para a repressão das classes dominantes.
Contra isso, deveria fazer a campanha de que a solução é outra: ir às raízes do problema, seja ele psicológico, social ou de qualquer outro tipo. Caso contrário, a esquerda apenas estará apresentando o outro lado de moeda do discurso direitista “bandido bom é bandido morto”. A esquerda precisa entender que todos os crimes são causados pela situação social, inclusive os psicológicos, e que, até mesmo se setores das classes dominantes forem punidos (como o bilionário Jeffrey Epstein), isso faz parte apenas de um processo político.
Não se pode cair na campanha da extrema-direita de que quem é contra o aumento de penas para pedófilos defende a pedofilia, ou que quem é contra o aumento de penas para estupradores é a favor dos estupros. Até porque os fascistas - como bem lembra o filme “Salò ou 120 dias de Sodoma”, do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini - apesar de se apresentarem como defensores da moral mais pura, são geralmente os piores tipos da sociedade, uma verdadeira escória.
A esquerda não pode defender o punitivismo da direita, que quer apenas jogar mais pessoas nas prisões - que além de estarem superlotadas, comporta vários inocentes.
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