Bolsonaro e os diamantes: "teu desejo será contra ti"
"O efeito será devastador, porque depõe contra o personagem construído e incorporado por Bolsonaro, em sua ascensão à Presidência da República", diz Florestan
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A estreia de Bolsonaro em seu primeiro depoimento presencial à Polícia Federal após a saída dele da Presidência da República, promete. Muito pelo ineditismo, este será o primeiro de muitos que se seguirão daqui pra frente. A diversidade das ilegalidades perpetradas pelo ex-presidente nos seu mandato e mesmo fora dele, são inúmeras.
O 5 de abril se torna uma data emblemática para a história política de Bolsonaro, já que é a primeira vez, em mais de 30 anos, que o “mito” da extrema-direita não terá a blindagem do foro privilegiado – que dizia condenar, mas do qual sempre se valeu. Ele e um dos filhos, que alega ter feito fortuna com uma pequena loja de chocolates.
Sobre o que acontecerá no depoimento da tarde de hoje – só saberemos no decorrer das investigações, que correm em segredo de justiça. Talvez não saibamos sequer se ele permaneceu em silencio – como a Democracia (da qual é inimigo) lhe assegura, ou se repetirá a ladainha incoerente e tosca com que tem tentado justificar o injustificável.
O que interessa aqui é a análise do efeito do “episódio das joias das arábias” na imagem do casal Bolsonaro. Penso que o efeito será devastador, porque depõe contra o personagem construído e incorporado por Bolsonaro, em sua ascensão à Presidência da República. Do "homem simples" que se fez fotografar comendo pizza com as mãos, numa calçada de Nova Iorque.
Jair, até bem pouco tempo era um deputado do baixíssimo clero, inexpressivo e sem protagonismo nas esferas de poder. De político medíocre, foi alçado ao mais alto cargo da república, através da construção/simulação de uma imagem de homem “do povo”, antagonista das elites – política, intelectual e econômica. Isso somado a um discurso violento e disruptivo.
O personagem foi explorado à exaustão, com todos os apelos popularescos de um político comendo pão com leite condensado e tubaína, usando relógios digitais comprados em camelôs, e portando caneta BIC no bolso. Lembro da cerimônia de posse em 2019, quando a imprensa ficou surpresa ao constatar que o presidente usava relógio de pulso que custava R$ 20,00, no comercio popular. Ou ainda, na posse do seu ministério, quando ele assinou os livros de posse, utilizando uma caneta popular que custava R$ 0,55. O falso “homem do povo”, que agora se revela adorador de joias, dignas de um Ali Babá.
Mas o apreço irresistível do “mito” por itens valiosos, recebidos de ditadores da Arábia Saudita em situações controversas e não protocolares, veio a público. Foram três conjuntos de joias que, somados, tem valor estimado em mais de 17 milhões de reais. Apenas um deles foi retido por fiscais da Receita Federal e pelo qual Bolsonaro movimentou aparelhos e recursos do Estado, querendo liberar e se apropriar.
A divulgação das imagens das joias e as provas do tamanho do esforço de Bolsonaro para reavê-las, tem potencial devastador. São mais graves do que a pena de inelegibilidade, que certamente virá das ações que responde no TSE.
Creio que Bolsonaro usará a condenação em seu discurso de vítima da “ditadura do Poder Judiciário”. Mas não no caso das joias. Aqui, há imagens que são perfeitamente compreendidas pelos seus admiradores, pessoas simples. Qualquer um entende o que é um colar de diamantes, o que é uma caneta de ouro e pedras preciosas. As imagens são fortes e falam por si, ao contrário das acusações de “rachadinha” (até o nome remete a coisas pequenas e desimportantes).
Aqui, o prejuízo aos personagens Jair e Michele Bolsonaro, é muito forte. Todos aqueles diamantes contradizem a imagem de um casal de gosto modesto e avesso a luxo e ostentação de riqueza. Aqueles diamantes antagonizam com o discurso de religiosos piedosos, que não se deixam entorpecer por riquezas, que tem seus corações no sagrado, que servem a Deus, não a Mamon, os bens terrenos. (Mateus 6:19-21, Mateus 6:24, Lucas 16:15).
O caso das joias das arábias ilustra claramente outro trecho da Bíblia, que diz “o teu desejo será contra ti” (Genesis 4:7). Personagens dessa história, o casal Bolsonaro, foi denunciado pelo desejo, foram ambos expostos no que realmente são.
É bom lembrar que a palavra personagem, vem de persona, uma máscara utilizada pelos atores do antigo teatro grego durante a apresentação, que tinha a função de separar a identidade do ator, daquele que interpretava.
Ninguém é capaz de sustentar um personagem indefinidamente. Um dia, como diz o ditado, “a máscara (persona) cai”. Para o casal Bolsonaro, a máscara e a casa caíram. Sorte nossa que o ex-rei está nu, só não vê quem não quer, ou vive num mundo paralelo!
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