Bolsonaro é o anti-Lula da direita?
Sociólogo Emir Sader, colunista do 247, avalia que o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) pode ser a opção que restou à direita brasileira para enfrentar o ex-presidente Lula nas runas; "No Brasil um nome como o do Bolsonaro não tem nenhuma conotação social, já que ele evita esses temas, concentrando-se nos de caráter ideológico – preconceitos, violência, ataques à esquerda. E apoia o pacote antissocial e antipopular do governo Temer", diz Sader; "Se a disputa chegar a ser polarizada entre o Lula e o Bolsonaro será um fato marcante na história brasileira, tanto pela possibilidade histórica da volta do Lula à presidencia – basta apenas a campanha, que começa em agosto pelo sertão do nordeste -, quanto pela direita se alinhar com um candidato da extrema direita"
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Conforme as pesquisas apontam para o favoritismo do Lula nas eleições presidenciais, há um frenesi de busca de alternativas ao Lula. Na direita é compreensível o desespero de ter que enfrentar, em condições ainda piores que antes, o Lula. Em outros setores, há a busca de "renovação", procurando nomes alternativos ao Lula.
A tática anti-Lula da direita é a de gerar mecanismos de rejeição – pelo acúmulo de suspeitas, mesmo sem provas -, para tentar projetar um candidato que galvanize esse sentimento. Fracassaram os tucanos – Serra, Alckmin, Aécio, e a Marina. Resta buscar alguém de fora do campo político ou – por que não? -, alguém que expresse os setores radicalizados da nova direita brasileira.
Pesquisa recente, depois de reiterar como os próceres tradicionais da direita – Alckmin, Serra, Aécio, a própria Marina – permanecem nos patamares ínfimos de apoio, projeta a Bolsonaro como aquele que poderia enfrentar o Lula. Seria o correspondente nacional ao fenômeno que tem reaparecido em vários países, especialmente da Europa, com candidatos da extrema direita canalizando o descontentamento popular com alternativas conservadoras radicais.
Além da já tradicional Le Pen na Franca e de similares em outros países como a Áustria, a Hungria, a Grã-Bretanha, a Alemanha, a vitória de Donald Trump daria novo ânimo e dimensão a um fenômeno que teve também no Brexit sua expressão. Enquanto os partidos tradicionais da direita se identificam com políticas neoliberais e perdem apoio popular, líderes radicalizados da direita buscam polarizar em torno de outros temas – com fortes tons ideológicos -, para catalisar o rancor de amplos setores das classes médias, que se sentem marginalizados e vítimas das grandes políticas econômicas da era neoliberal. Setores da classe trabalhadora também, afetados pelo desemprego e pela precarização das relações de trabalho, aderem a lideranças ou candidaturas de extrema direita.
No Brasil um nome como o do Bolsonaro não tem nenhuma conotação social, já que ele evita esses temas, concentrando-se nos de caráter ideológico – preconceitos, violência, ataques à esquerda. E apoia o pacote antissocial e antipopular do governo Temer. Mas não se deve subestimar o caudal que essa onda direitista pode ganhar, sobretudo se terminar sendo a única alternativa anti-Lula da direita. A massa de classe média que pode ser mobilizada por essa onda pode ser grande, sempre fazendo passar a ideia de que são maioria do país.
O maior limite de Bolsonaro são os amplos setores populares beneficiários das políticas sociais dos governos do PT e que agora se dão conta – se não tinham se dado conta antes – de que sua vida tinha melhorado devido a políticas de um governo determinado. Na medida em que se identificar ou não se distanciar o suficiente do governo de Temer, Bolsonaro está condenado a um teto muito baixo no eleitorado.
Caso se projete essa polarização, será essencial antes de tudo, a projeção das questões sociais como as centrais para deslocar a agenda prioritária do país e recolocar na memória dos brasileiros as realizações do governo do PT e, sobretudo, os retrocessos do governo surgido do golpe, com o qual Bolsonaro se identifica. Em segundo lugar, priorizar a campanha, além das camadas populares cujas necessidades estão em jogo conforme o governo, nos setores mais diretamente atacados pelo Bolsonaro – mulheres, jovens pobres, negros. Será uma grande oportunidade para a esquerda incorporar definitivamente a esses setores essenciais da população e que até agora não tinham protagonizado as filas dos partidos e dos movimentos sociais. Aproveitar também para eleger representantes significativos desses setores nos parlamentos.
Evidentemente que os tucanos e outros setores da direita, assustados diante dessa eventual polarização, seguirão buscando candidatos alternativos. Pode ser até que os tucanos lancem um deles, mesmo sem perspectivas, para pelo menos segurar em parte a bancada parlamentar, que de qualquer forma, assim como a do PMDB, vai ter uma queda acentuada. A Marina se proporá de novo ser a candidata de uma "terceira via" e pode chegar a ser a maior adversária eleitoral do Lula, apesar do seu desgaste.
Se a disputa chegar a ser polarizada entre o Lula e o Bolsonaro será um fato marcante na história brasileira, tanto pela possibilidade histórica da volta do Lula à presidencia – basta apenas a campanha, que começa em agosto pelo sertão do nordeste -, quanto pela direita se alinhar com um candidato da extrema direita.
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