Bolsonaro, dentro ou fora da vitrine, é peça decorativa

"Houve um tempo, quando a OMS anunciou para o mundo que o planeta estava em perigo, diante de uma doença a mil léguas de ser uma “gripezinha”, que Bolsonaro teve a chance de liderar o país, rumo a um combate efetivo do vírus", lembra Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia

Exposição de trajes da presidência
Exposição de trajes da presidência (Foto: Presidência da República)


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Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia

Tivesse Bolsonaro dentro do seu terno de posse exposto na vitrine para visitação pública e ninguém perceberia a diferença, posto que se transformou, de fato, em peça decorativa. Pouco importa se o país marcha a passos firmes para a vergonhosa marca dos 200 mil mortos por Covid-19, ou se o ministro que deveria responder pela pasta da Saúde vem a público dizer platitudes, na falta de informações mais edificantes e úteis. O que importa mesmo para ele é fazer figuração no cargo, ou tecer “negociatas” com o Congresso, a fim de se segurar na cadeira, numa reeleição que precisa atravessar uma pandemia, pulando por cima de todos os cadáveres empilhados pelo caminho, até 2022. Ele não sabe, mas isto lhe será cobrado nas urnas.

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Houve um tempo, quando a OMS anunciou para o mundo que o planeta estava em perigo, diante de uma doença a mil léguas de ser uma “gripezinha”, que Bolsonaro teve a chance de liderar o país, rumo a um combate efetivo do vírus.

Bastava que montasse um comitê de crise e chamasse a si a responsabilidade da coordenação. Sua tarefa seria a de reunir-se com governadores, prefeitos e um grupo dos mais renomados cientistas – e o país tem grandes nomes nesta modalidade –, para estabelecer que o Brasil entraria em isolamento social. Os equipamentos necessários seriam todos comprados pelo ministério da Saúde e repassados aos estados e municípios que necessitassem. Uma lista única de hospitais (privados ou não), deveria ter sido organizada em todas as cidades, a fim de que nenhum doente precisasse perambular em busca de vagas em leitos ou UTIs. Os hospitais federais, recuperados e equipados para receber os doentes, em vez de a gente ver um rio de dinheiro ser desperdiçado em hospitais provisórios, que logo foram desmontados, sem nem sequer esperar o risco de uma nova onda de contágio. Hoje, teríamos ainda as unidades funcionando e recebendo os pacientes contaminados pela recidiva da imprudência. Ficaria o legado.

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Tivesse se responsabilizado pela coordenação dos trabalhos, de olhos na população e talvez não tivéssemos as manchetes vergonhosas de governadores comprando respiradores superfaturados. Além disso, conseguiríamos preços mais em conta, porque a compra seria feita em grande escala. Fosse, de fato, um líder, e não um “negacionista”, e hoje estaríamos com maior variedade de oferta de vacinas, e nos preparando apenas para recebê-las, com todo o instrumental necessário, aguardando apenas a chegada do produto redentor, rumo à “normalidade”. (Nem algodão temos em estoque).

Dentro ou fora da vitrine, seu desempenho é igual. O de mero manequim de ternos presidenciais. E, diga-se de passagem, longe de serem elegantes. Bolsonaro tem voltado a sua agenda para a distribuição de R$ 6 bilhões destinados a emendas de deputados que se comprometerem com o seu candidato à presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Sobre a sua mesa, nomes de ministros a serem trocados, como peças de reposição, para abrir espaço ao Centrão, de olho em pastas nos ministérios. Trocarão cargos pelo voto a Lira, a fim de que ele abocanhe também a Câmara e se torne o dono das pautas e decisões.

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Sua situação, porém, não é das mais confortáveis. No momento, vem de uma derrota nas eleições a prefeitos e está sem partido. O seu projeto de fundação do “Aliança”, empacou. Das quase 500 mil assinaturas de filiação necessárias, conseguiu arrecadar apenas 42 mil. Ao insistir no partido e não conseguir colocá-lo de pé, passará a ideia de mais um fracasso. Ao conseguir organizá-lo, estará à frente de um partido nanico e sem expressão para o projeto ambicioso da reeleição. É mais provável que se escore na sombra de alguma legenda amiga, já que o caminho de volta ao PSL parece improvável. Resta-lhe, garantidos, os 30% de apoio cativo e fanático dos seus seguidores do cercadinho. Há quem diga que ele está forte. A conferir, quando os cerca de 80% dos que querem a vacina descobrirem ser ele o principal empecilho entre eles e a seringa.

Outro passatempo de Bolsonaro é espezinhar o governador João Dória, um marqueteiro profissional, que resolveu surfar na competência do Instituto Butantan, uma joia do seu estado (SP), enquanto sonha com a cadeira presidencial. O seu êxito na busca de uma vacina acabou provocando uma reunião de governadores com o ministro Pazuello. Alguns externaram incômodo com o seu acerto, já com agenda de início da vacinação para o dia 25 de janeiro. Dória fez o dever de casa, mas isto não é nem deveria servir de ponte para a presidência. Há muito chão e muita briga pela frente.

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Resta-nos, ainda, perguntar, por que os governadores já não se reuniram com Pazuello, para pressioná-lo por uma ou mais vacinas, quando viram a tempestade se avizinhando? Até, então, cada um tocava a sua vida, preocupados com a recém encerrada eleição municipal ou com agendas em seus estados. Mas, antes tarde do que muito tarde.

O resultado, todos vimos. Descortinou-se à frente do país, um cenário de incompetência. O ministro Eduardo Pazuello – o mesmo que deixou estocado um carregamento de testes para a Covid-19 até passar o prazo de validade -, acha que não há demanda para a compra de vacinas. Por certo, a seguir o seu ritmo, não haverá. Estaremos todos mortos.

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