Bolsonaro com uniforme de presidiário e Flávio de cueca: a criatividade que marcou o #19J
Protestos no Brasil atingiram aquele ponto sem retorno, quando as pessoas capricham para expressar a indignação, escreve Joaquim de Carvalho.
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O ato deste 19 de junho na avenida Paulista foi o maior que já cobri desde 2016. A Frente Brasil Popular e o Povo Sem Medo, dois dos organizadores, calcularam o público em 100 mil, a Polícia Militar não divulgou número.
Imagens captadas por drone mostram que a multidão ocupou cerca de 10 quarteirões. A imagem é impactante, mas ela não mostra a criatividade das pessoas que estavam lá.
Uma mulher branca, entre 40 e 50 anos, estava com o marido e dois cachorros, estes com a faixa “Fora Bolsonaro”.
Participou de ato “Fora Dilma” e votou em Bolsonaro. “Me arrependo demais”, disse.
Esta senhora estava ali pelo impeachment de Bolsonaro. “Não acredito que vá sair - ele comprou muita gente no Congresso -, mas eu não vou ficar parada”.
A compra de parlamentares, materializada na forma de nomeações do Centrão para estatais e no chamado orçamento secreto, ficou evidente em outra alegoria na Paulista, digamos assim.
Eram quatro peças de mostruário encomendadas por uma agência de comunicação do ABC e patrocinada por um empresário, que quer se manter no anonimato.
São as imagens de Jair, Flávio, Carlos e Eduardo com roupas de presidiário, o Zero, o 01, 02 e o 03.
Na rede social, há muitas fotos com as quatro peças. Flávio aparece só de cueca, para sugerir que ele é a pessoa que esconde dinheiro.
Um dos profissionais que tiveram a ideia de levar os “presidiários" para a avenida conta que, no retorno para casa, usou o Metrô e o trem e fez em duas horas uma viagem que duraria quarenta minutos.
“No Metrô, muita gente me parava e pedia para tirar foto”, conta.
Também havia na Paulista bonecos gigantes de Bolsonaro respingado de sangue, um metrô de pano gigante que parecia uma centopeia, com os pés dos manifestantes movimentando a alegoria.
Um caixa de som tocava Bella Ciao, o hino antifascista, enquanto as pessoas dançavam. Música intercalada com batida de palmas que se iraadiava.
Muita gente com cartazes que lembravam a perda de filhos, pais, avós e amigos numa pandemia agravada por um governo negacionista.
Vacina era palavra de ordem.
Torcidas de futebol marcaram presença. Corintianos e palmeirenses andavam lado a lado, sobretudo os do Coletivo Democracia Corinthiana e o Porcomuna.
Bandeiras gigantes foram apresentadas, como uma que lembrava “A Vida É Maior que o Lucro”, outra com as cores do Brasil, e cartazes com as figuras geométricas da Bandeira do Brasil, mas em cor azul, a do SUS, “Vacina e Impeachment” no lugar de “Ordem e Progresso”, frases que têm hoje o mesmo significado.
A criatividade é um indicativo de que os atos “Fora Bolsonaro” atingiram aquele ponto sem retorno, isto é, vão permanecer.
Se resultarão em impeachment ou não, tudo dependerá da ressonância na classe política.
Bolsonaro entrega o patrimônio do povo brasileiro para tentar tapar os ouvidos dos parlamentares, ao avançar na pauta neoliberal, como a independência do Banco Central, que agrada o mercado financeiro, e a privatização da Eletrobrás e dos Correios, "jóias da Coroa” cobiçadas por investidores, muitos deles com ascendência no Congresso.
Em geral, no entanto, quando o grito das ruas se torna muito intenso, os políticos aderem, por instinto de sobrevivência.
Por isso, o “Fora Bolsonaro” deve ser permanente, até que ele desocupe o Planalto, mas não para ser esquecido — como queria o último ditador do regime militar.
Bolsonaro deve ser julgado no Tribunal Penal Internacional por crime contra a humanidade. Só assim se fará justiça a milhões de brasileiros que perderam parentes e amigos nesta pandemia.
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