Bolsonaro bem que poderia ouvir Harvard sobre a Amazônia
Bolsonaro e seu governo estão simplesmente obcecados em colocar em prática tal hecatombe ambiental contra a última grande floresta tropical do mundo, nem que, para isso, tenha que enfrentar a fúria do mundo científico e das organizações internacionais da sociedade civil
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Sei muito bem que seria demais pedir ao presidente Jair Bolsonaro parar um pouco de falar baboseiras e destilar violência de natureza miliciana no twitter para prestar atenção no que vários cientistas, pesquisadores, jornalistas, índios e outras autoridades em questões socioambientais mundiais estarão discutindo em Harvard (EUA), nesta terça e quarta-feira, sobre como desenvolver sustentavelmente a Amazônia brasileira.
Em seminário intitulado "Amazônia e o nosso futuro planetário: uma conferência sobre mudanças climáticas", as personalidades nacionais e internacionais estarão mostrando na renomada universidade norte-americana novos modelos de negócios que possam promover a economia da floresta amazônica conciliando o seu desenvolvimento econômico com a sua conservação, visto ser ela a maior e mais rica floresta tropical do mundo, considerada por toda a ciência como essencial para o equilíbrio climático do planeta, entre outros fatores favoráveis que representa para a humanidade.
Na conferência de Harvard, estão sendo abordadas as tendências de desmatamento e suas interações com o clima e a saúde pública e a importância e o papel dos povos indígenas da Amazônia. Além disso, abordam-se as iniciativas em andamento e emergentes em direção às economias fluviais baseadas em florestas tropicais de toda a Amazônia; e projetos inovadores que envolvem mapeamento anual da cobertura de uso do solo do Brasil e detecção em larga escala de desmatamento em todos os biomas deste país de dimensões continentais.
Entre os participantes mais renomados, vão palestrar na sede de Harvard o índio Davi Kopenawa, xamã e defensor do povo Yanomami e da floresta amazônica e autor do livro "A queda do céu"; e Edward O. Wilson, professor emérito do Museu de Zoologia Comparativa de Harvard, entomologista e biólogo americano conhecido por seu trabalho com ecologia, evolução e sociobiologia. Também participa da conferência o cientista brasileiro Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e Membro Sênior do World Resources Institute.
Se ouvisse alguns desses palestrantes, Bolsonaro certamente iria voltar atrás – o que ele tem feito quase diariamente depois das ideias e propostas impensáveis, delirantes e completamente inexequíveis que escreve no twitter – naquilo que já virou sua obsessão de ampliar na Amazônia, a pedido da bancada ruralista, os negócios da soja, da pecuária e da mineração em terras indígenas, em parques nacionais e onde mais ele puder, mudando a legislação no Congresso, para multiplicar e tornar ainda mais abastados os poucos bilionários do agronegócio, incluindo agora norte-americanos, já em atuação na região.
Bolsonaro e seu governo estão simplesmente obcecados em colocar em prática tal hecatombe ambiental contra a última grande floresta tropical do mundo, nem que, para isso, tenha que enfrentar a fúria do mundo científico e das organizações internacionais da sociedade civil. Sociedades que já começaram a combatê-lo pela força do consumo do mercado internacional, recomendando, como fizeram recentemente 602 cientistas europeus, que o bloco dos 28 países da União Europeia não importe mais quaisquer produtos ou matérias-primas que resultarem em mais desmatamento na Amazônia.
Os consumidores do mundo dito civilizado já temem a grande devastação florestal, tendo em vista o fato dela já estar bem próxima de atingir os 25% das árvores amazônicas, percentual a partir do qual os cientistas apostam que a grande floresta amazônica começará a virar cerrado ou savana africana, trazendo como primeira grave consequência ambiental a redução drástica das chuvas tanto na própria região, como nos estados do Centro-Sul brasileiro (SP, PR, SC, RS, MT e MS) e nos países vizinhos do Cone Sul. Isto porque já está provado cientificamente que a redução da floresta amazônica tem implicado na redução dos chamados "rios voadores" amazônicos, que são os que saem da Amazônia e levam as chuvas para essas regiões do Centro-Sul da América do Sul.
Assim posto, resta acrescentar apenas que o clima de guerra entre manter ou não em pé a maior floresta tropical do planeta já está colocado tanto a nível nacional quanto internacional, apesar da grande cara de paisagem que a chamada grande mídia brasileira vem descaradamente mantendo em relação a um assunto de interesse tão global. Algo muito parecido com o que ocorreu na noite de 22 de dezembro de 1988 quando o ex-seringueiro acreano Chico Mendes apareceu assassinado nas manchetes dos jornais, rádios e telejornais internacionais por defender a Amazônia, sem o Brasil e nem a sua mídia terem a menor noção de quem se tratava e o que ele fazia na vida. Afinal, sua luta de dezenas de anos em favor da grande floresta jamais dera "gancho" nas grandes redações brasileiras.
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