Bolsonaro atira para estancar sangria de popularidade
Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia, avalia que em cem dias, "assiste-se a um governo meio desesperado com a perda de popularidade e os desgastes crescentes em tão pouco tempo de governo"; "Bolsonaro parece lançar tantos foguetes ao mesmo tempo para distrair o distinto público. Não vai demorar para a platéia descobriu que não vão atingir o alvo", prevê
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Por Helena Chagas, em Os Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia - Houve um tempo em que o principal salão do Palácio do Planalto, onde são realizadas as grandes solenidades, era chamado pelos jornalistas de Cabo Canaveral – tal o número de "lançamentos" de novos programas, projetos e iniciativas governamentais que se fazia ali, alguns sérios, outros claramente factóides para ocupar a mídia e levantar popularidades derrubadas. Hoje, vejo que fomos injustos com Fernando Henrique, Lula e Dilma. Em cem dias, o Cabo Canaveral de Jair Bolsonaro – ou, quem sabe, sua Base de Alcântara – lança mais foguetes do que qualquer um.
O risco do governo é que, lançados ao mesmo tempo, esses foguetes podem se chocar uns com os outros, acabando todos espatifados. Em vez de melhorar a popularidade que Bolsonaro vem perdendo a olhos vistos, podem virar agendas negativas. Até porque muitos desses anúncios dependem da aprovação do Congresso e de uma base parlamentar ainda inexistente.
Para comemorar os cem dias de governo, Bolsonaro está anunciando hoje o pagamento de 13 salário para as 14 milhões de famílias do Bolsa Família – só que, para isso, os beneficiários vão ficar sem reajuste este ano. O agrado ao andar de cima também veio nesta quinta, com a assinatura do projeto que prevê a independência do Banco Central.
Ao mesmo tempo, a equipe econômica trabalha numa medida provisória para simplificar a burocracia dos empresários, fala todos os dias no modelo de reforma tributária que vai apresentar e ressuscita a ideia de enviar ao Congresso a PEC da desvinculação orçamentária. Ao que parece, sem considerar que a prioridade das prioridades do Planalto, a reforma da Previdência, anda patinando na CCJ da Câmara.
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Em vez de voltar as energias para resolver os problemas do Centrão, sempre fiel à velha fórmula de criar dificuldades para vender facilidades, o governo atira em todas as direções ao mesmo tempo – inclusive no próprio pé.
Caso da Previdência dos militares, enviada separadamente com uma reestruturação de carreira e aumentos que não estão sendo bem recebidos no Legislativo. A situação vai piorar quando chegar lá a LDO do ano que vem prevendo reajuste para uma única categoria do serviço público: sim, eles mesmos, os militares.
Sem tocar na medida provisória da reorganização administrativa do Esplanada, que corre risco de acabar retalhada e até ontem, com a indicação do líder governista Fernando Bezerra Coelho, não tinha sequer relator. Entre as mudanças planejadas pelos parlamentares, está a volta do Coaf do Ministério da Justiça de Sérgio Moro para a Fazenda, hoje Economia.
Por falar em Moro, seu vistoso foguete com mudanças na legislação penal de combate à corrupção e à violência, empacou numa comissão especial da Câmara e tenta andar no Senado. Difícil, pois na Casa de Renan Calheiros e outros o projeto de lei do abuso de autoridade tem muito mais chances.
Ao fim e ao cabo, assiste-se a um governo meio desesperado com a perda de popularidade e os desgastes crescentes em tão pouco tempo de governo. Bolsonaro parece lançar tantos foguetes ao mesmo tempo para distrair o distinto público. Não vai demorar para a platéia descobriu que não vão atingir o alvo.
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