Bolsonaristas como Damares reconhecem papel decisivo de Ciro a favor do chefe

Candidato do PDT garantiu sobrevida a Bolsonaro. Não foi o único fator que impediu vitória de Lula em 1o. turno, mas, s bem da verdade, não pode ser ignorado

Ciro Gomes e Jair Bolsonaro
Ciro Gomes e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução | REUTERS/Adriano Machado)


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Ciro Gomes é responsável pela sobrevida de Jair Bolsonaro: com seu discurso, alimentou o antipetismo e gerou as condições para o voto útil no candidato de extrema direita. A Lula, faltou 1,5% de votos para derrotar Bolsonaro já neste domingo

Isso posto, é preciso dizer que era direito de Ciro levar sua candidatura até o fim,. E ele pagou um preço por isso. Além de amargar o quarto lugar, viu o partido que lhe deu legenda, o PDT, encolher. 

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Em 2018, o PDT teve 28 deputados federais eleitos. Em 2022, foram dezessete. Com isso, o partido que Leonel Brizola fundou com lágrimas terá menos recursos do Fundo Partidário, bem como menos tempo no horário eleitoral, calculados com base no número de votos recebidos pelo partido para a Câmara dos Deputados.

Em uma das primeiras entrevistas depois de ser eleita senadora pelo Distrito Federal, a ex-ministra Damares Alves disse que acredita na eleição do chefe em razão do comportamento de Ciro Gomes.

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"Se Ciro provou para os eleitores dele que o Lula é bandido, que o Lula era ladrão, o Ciro falou isso o tempo todo, então os eleitores do Ciro vão seguir o Ciro. E aí, gente: sigam o líder, sigam o líder. E é claro que eles vão migrar o voto para Bolsonaro também”, afirmou Damares Alves, “Eu creio que temos aí a garantia de sermos eleitos no segundo turno”, concluiu.

Ciro também perdeu espaço no Ceará e apoiadores que, se não davam votos, pelo menos lhe garantiam verniz de modernidade, como Caetano Veloso.

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O que Ciro Gomes ganhou em troca? Este é uma pergunta que a história talvez um dia responda. Se o objetivo dele era ocupar em 2026 o espaço de Jair Bolsonaro, o resultado da eleição mostra que isso não ocorrerá.

O antipetismo alimentado pelo ex-ministro de Lula ajudou a colocar na pista Sergio Moro e Deltan Dallagnol, e também deu visibilidade para nomes como a própria Damares Alves, que na mesma entrevista colocou seu nome para presidir o Senado Federal, desde que “o presidente (Bolsonaro) concorde".

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Na hipótese de que Ciro, em tempo apropriado, retirasse sua candidatura e apoiasse Lula, atendendo a apelos dentro e fora do país, por intelectuais e ativistas respeitados, o ex-presidente certamente teria liquidado a fatura neste domingo, começando a necessárias etapa de pacificação do país.

Lula está muito próximo da eleição e há notícias de que o pedetista declarará apoio a Lula. Talvez. 

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O mais importante, porém, é que a campanha do ex-presidente se volte para a interlocução direta com o eleitor, sobretudo o evangélico, e pare de tratar esse segmento que representa hoje 30% da população brasileira como se fosse ET.

O pastor Ariovaldo Ramos, líder da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, em entrevista à TV 247, alertou dias antes do primeiro turno que esse comportamento custaria caro ao partido. E custou. Foi, ao lado da linha política adotada por Ciro Gomes, o maior responsável pela não-eleição de Lula no domingo.

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Ariovaldo teve uma proposta simples ignorada pela campanha do PT: a de que fosse divulgada solenemente uma carta aos evangélicos do Brasil, para reafirmar o compromisso de que nenhuma igreja seria fechada e que a liberdade religiosa, garantida em lei sancionada por Lula, é princípio intocável.

“O PT não fechou e nunca fecharia nenhuma igreja. Porém 30% dos evangélicos, de acordo com as pesquisas, acreditam que o partido fechará igrejas. Então, é preciso uma resposta firme e solene”, declarou o pastor.

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É verdade que o partido divulgou vídeo em que Lula, como presidente, discursa ao sancionar a lei da liberdade religiosa. É pouco. 

Em 2018, entre outras mentiras contadas por Jair Bolsonaro, estava a fake news do kit gay, que só prosperou porque, nas igrejas, a farsa era martelada, sem que houvesse resposta contundente à altura.

As condições são muito favoráveis à eleição de Lula no dia 27, mas, no confronto direto, é preciso considerar as baixarias vão aumentar, e podem surgir feitiços — entendo muito suspeitas as enormes filas geradas nas seções eleitorais domingo passado, que podem ter desestimulado o eleitor menos engajado a votar, sobretudo os mais pobres, em grande maioria apoiadores de Lula.

É mais comum pobre trabalhar domingo e uma saidinha rápida para votar é suportável, mas uma hora e meia ou mais na fila é impensável em muitos casos. Até para quem cozinha em casa ou cuida de crianças.

As filas são pontos a serem esclarecidos, já que a abstenção passou de 20%, a mesma de 2018, e se esperava que reduzisse, em razão do acirramento da disputa. O que importa emergencialmente é ampliar o diálogo com todos os segmentos sociais.

E não é uma tarefa fácil quando o adversário tem na mentira um método de disputa.

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PS: Há notícia de que Ciro declarará apoio a Lula em breve. Em 2018, Haddad esperou por essa declaração durante toda essa campanha de segundo turno, e ela não veio.

 

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